A violência sexual infantil é coisa séria

Por Sueli Alves

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves, conhecida por suas declarações absurdas sobre gênero, em evento no Palácio do Planalto na quarta feira (24), falou sobre o grotesco número de estupros ocorridos na região da Ilha do Marajó (PA) e, novamente, causou revolta no movimento feminista.

A ilha do Marajó é uma região litorânea que vive basicamente de turismo. Sabe-se, também, que crianças (meninas) são trocadas, vendidas e negociadas para fins sexuais e de trabalho forçado por membros de suas famílias para o tráfico de pessoas por exemplo, resultado da pobreza extrema vivida em muitas regiões como essa do país. No entanto, Damares afirmou que as meninas são vítimas de violência sexual e/ou exploradas sexualmente “porque não usavam calcinhas” por serem muito pobres.

Damares, ainda, disse que para combater esse tipo de crime era necessário que uma fábrica de calcinhas se instalasse na região, e solicitou apoio de empresários nesse sentido. Esse tipo de declaração vinda de uma autoridade pública nos causa profunda indignação e demonstra o quanto membros desse governo ultrarreacionário não só não conhecem a realidade das crianças brasileiras como também não possuem nenhuma responsabilidade e, principalmente, sensibilidade com temas tão dramáticos, como o tráfico e a violência sexual infantil no Brasil.

Dar o combate a todo machismo e misoginia do governo

O sexíssimo, a misoginia, a ignominia dos membros do governo Bolsonaro, inclusive de mulheres, passam de todos os limites e não deixam de fora nem mesmo as crianças, as mais aviltadas de direitos como saúde, educação e demais cuidados e proteção estatal relacionados à infância.

É bem verdade que todos os dias somos bombardeadas por declarações absurdas, obscurantistas desse governo, porém, os ataques machistas e misóginos dos seus membros devem ser respondidos como realmente são: crime. O problema desse governo não é somente de ignorância (no sentido de baixo nível intelectual) e ranço reacionário, como parte da esquerda ou de críticos do governo tratam, mas sim de mau-caratismo do cretinismo político como método de impor retrocessos em todos os níveis da vida.

O governo atua de forma consciente ao não enfrentar e pior tentar mascarar de forma grotesca, mentirosa os problemas reais que passam as mulheres e meninas mais pobres e periféricas. Fábricas ou escolas? Qualquer turista que frequente a ilha do Marajó pode comentar as precárias condições de vida dos moradores que não têm nenhuma garantia de diretos básicos para as famílias ribeirinhas, a realidade de exclusão social e de total ausência do Estado é brutal.

Damares, ao invés de pensar em políticas públicas para que nenhuma menina seja violentada sexualmente no interior de suas próprias casas, ou que não sejam vendidas como escravas sexuais, caso de Marajó e até mesmo capitais importantes, vira novamente as costas para políticas de gênero e chama o empresariado para “resolver” problemas sociais.

Sexualização infantil

A violência sexual é um tema complexo, principalmente na infância, e deveria ser tratada com a mínima seriedade por parte da ministra (e do governo). A ministra Damares se ocupa com declarações impactantes e sexistas e não esboça nenhuma ação de seu ministério para proteger efetivamente a exploração sexual, a infância e a vida das mulheres, como ministra não possui nenhuma proposta para criação de postos de trabalho para as famílias em situação de vulnerabilidade extrema, escolas integrais de qualidade, creches e outras políticas.

Ao contrário disso, Damares, como já fez em outras declarações, marginaliza a pobreza e culpabiliza as vítimas por meio de frases soltas e discursos que banalizam temas muito sérios, como a exploração sexual infantil. Não podemos mais tolerar esse mecanismo cínico, que não é somente discursivo, mas político e que tem consequências práticas. Não aceitaremos que o governo siga mascarando a realidade da violência contra as nossas mulheres e meninas.

4 COMENTÁRIOS

  1. […] Organismo de proteção a crianças e adolescentes vem sendo chamariz para religiosos conservadores, cuja predominância do setor nas atividades da entidade pode implicar perda da laicidade da instituição e, portanto enormes retrocessos nas tratativas a casos de violência, abandono, gravidez precoce e violência sexual a crianças e jovens. […]

  2. […] Organismo de proteção a crianças e adolescentes vem sendo chamariz para religiosos conservadores, cuja predominância do setor nas atividades da entidade pode implicar perda da laicidade da instituição e, portanto enormes retrocessos nas tratativas a casos de violência, abandono, gravidez precoce e violência sexual a crianças e jovens. […]