Pela 14ª vez consecutiva o Brasil lidera o ranking mundial de violência contra pessoas trans. É preciso que a esquerda e todo o movimento social cubra com a mais ampla solidariedade a luta das pessoas trans para superarmos a necro-Trans-política que reina em nosso país.

ANTONIO SOLER

Neste domingo, 29/01, celebrou-se o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Essa é uma data que surge no calendário dos movimentos sociais a partir do ato nacional em Brasília pelo lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, ocorrido em 29 de janeiro de 2004.

Em São Paulo a VI Marcha da Visibilidade Trans teve como tema “Nossas Vidas importam”. A marcha, que reuniu milhares de pessoas teve concentração no Vão do Masp (Avenida Paulista) e caminhou pela Rua Augusta, denunciou a violência contra a população trans e exigiu políticas públicas.

O dossiê “ASSASSINATOS E VIOLÊNCIAS CONTRA TRAVESTIS E TRANSEXUAIS BRASILEIRAS EM 2022”, de Bruna G. Benevides[1], traz um cenário extremamente brutal contra as pessoas trans. O que a autora do dossiê denomina como necro-Trans-política nos parece uma categoria que se enquadra perfeitamente ao cenário nacional.

Segundo a pesquisa, o país que mais consome pornografia trans é o que mais comete violência contra essas pessoas. O que mais chama a atenção são os casos de violência: foram 151 pessoas trans mortas no Brasil, sendo 131 assassinatos – a mais jovem assassinada tinha 15 anos – e 20 suicídios. Assim, o Brasil pela 14ª vez lidera o ranking mundial de violência contra pessoas trans, violência que não se manifesta apenas nos assassinatos, mas também, na perseguição de crianças e adolescentes, dentro e fora do ambiente escolar.

O relatório aponta que houve 142 casos de violações de direitos humanos com destaque para impedimentos de uso de banheiro. Mas sabemos que as dificuldades das pessoas trans se manifestam em uma série de outras áreas, como o preconceito, o acesso aos procedimentos de adequação de gênero, à formação profissional e ao trabalho.

Da mesma forma que acontece com outros setores oprimidos, os dados apresentados no dossiê citado demonstram que o maior espaço midiático que tem conquistado as pessoas trans não se reflete em maior inclusão, quadro que foi agravado durante os 4 anos do governo genocida de Bolsonaro.

Em que pese a importante vitória eleitoral das massas ao derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo nas urnas em outubro de 2022, apenas poderemos derrotar o neofascismo, a transfobia e toda forma de opressão a partir da organização e da luta direta do movimento trans em aliança com todos os demais explorados e oprimidos.

Toda classe trabalhadora e os oprimidos precisam ter em sua agenda a luta contra a transfobia, mas essa só avançará através da auto-organização pela base e com um programa que exija políticas públicas e medidas anticapitalistas (a transfobia está a serviço da exploração do trabalho e dos corpos das pessoas trans) que varram do mapa toda forma de violência, preconceito e discriminação.

A organização independente dos patrões, dos exploradores sexuais, da burocracia e dos governos da VI Marcha da Visibilidade Trans é uma conquista decisiva da luta dos explorados e oprimidos no Brasil. Esse movimento precisa se aprofundar e ampliar para que a luta contra a transfobia entre em todos os poros da sociedade. Por isso, todo apoio dos movimentos sociais e da esquerda independente à luta e organização dessas pessoas é fundamental.

[1] https://antrabrasil.files.wordpress.com/2023/01/dossieantra2023.pdf