USP perde seu primeiro aluno na pandemia – dignidade aos que permanecem na moradia estudantil!

Alguns dias antes, alunos (de baixa renda) residentes no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (CRUSP) denunciaram o completo descaso, abandono e a precariedade em que se encontram. A reitoria ignora historicamente a situação destes estudantes.

Enrico Bigotto e Renato Assad

Na última manhã do sábado, 28 de abril, obteve-se a triste notícia de que um estudante de 56 anos do curso de Química da Universidade de São Paulo veio a falecer em decorrência de complicações após ter contraído o coronavírus. O estudante estava internado no Hospital Universitário (maior hospital público da Zona Oeste) e é o primeiro paciente a vir a óbito registrado do corpo universitário desde que se teve o primeiro caso suspeito de contagio confirmado em um aluno de graduação de Geografia (FFLCH), no dia 11 deste mês.

Nos solidarizamos e deixamos nossos sentimentos à família neste momento muito difícil de perda, que infelizmente, poderá vir a se repetir caso o governo Bolsonaro continue avançando na sua criminosa aposta negacionista frente a pandemia. Primeiramente, queremos aqui destacar o importante papel que deveria cumprir o Serviço Social/SAS e o Escritório de Acolhimento em Saúde Mental da Pró-Reitoria de Graduação para oferecer o devido e suporte aos colegas e principalmente para os familiares do estudante. Porém, ressaltamos que estes serviços essenciais para milhares de estudantes durante suas vidas acadêmicas, encontram-se baixo uma política crônica de sucateamento extensivo por parte dos últimos reitores da universidade, escolhidos pelo governo tucano que há mais de 20 anos governa o estado de SP.

A reitoria da universidade nunca foi uma aliada do corpo estudantil e de um programa digno de permanência para os estudantes de menor renda – não nos esqueçamos a histórica resistência em adotar as cotas étnico-raciais. E, há muitos anos estes alunos, que necessitam de auxílios para a permanência na universidade, como moradia, auxilio alimentação e etc., têm acumulado dificuldades em obtê-los, uma situação que se intensificou com os cortes de gastos para a educação pública a nível federal e estadual. Trata-se de uma política de abandono que compromete uma vida acadêmica saudável.

Os estudantes que moram hoje na USP, se encontram numa situação de descaso completo com suas vidas, presencia-se um ambiente precarizado, de cozinhas totalmente desestruturadas, não há dispensadores de álcool nos blocos, sem acesso à internet, um verdadeiro atentado contra a saúde coletiva e a uma vida digna em uma das melhores universidades da América Latina.

Esse processo permanente e histórico de sufocamento da permanência estudantil, um dos principais pilares no aumento da taxa de evasão de cursos, ainda conta hoje com uma política muito a quem das demandas imediatas dos estudantes frente a pandemia, por parte da atual gestão do DCE Livre da USP. Essa, dirigida pela política traidora de criticas pontuais ao governo Bolsonaro e que ano passado se reuniu as escondidas com a Reitoria, não formula qualquer programa mínimo imediato de exigências que podem ser aplicadas imediatamente. Uma gestão burocratizada que politicamente está sempre atrás das demandas e necessidades políticas do momento.  

Está na ordem do dia do movimento estudantil que, mesmo à distância e em isolamento social, os mais diversos Centros Acadêmicos e principalmente o DCE construam uma campanha permanente e pela base para denunciar a atual situação dos estudantes do CRUSP e exigir medidas emergenciais concretas à reitoria e para assim caminhar para que os casos da pandemia cheguem com a menor intensidade possível na USP, prezando ao máximo pela segurança e bem-estar dos alunos que nela residem atualmente.

Para além de medidas emergenciais a serem reivindicadas neste momento, é preciso entender a seriedade e riscos que trazem uma gestão montada no aparato e que se comporta como comentadora da realidade, principalmente em momentos adversos e crises como estas. Exige-se aqui então, um imprescindível esforço político das entidades estudantis eleitas, principalmente o DCE, para encaminhar uma possível reversão deste quadro de abandono e precarização.

DIGNIDADE AOS MORADORES DO CRUSP!

POR MEDIDAS EMERGENCIAS CONTRA A PRECARIZAÇÃO!