Abaixo o EW republica nota do site La Política Online sobre o Primeiro Congresso Internacional de Trabalhadores de Plataformas.
Trabalhadores de plataformas de 14 países se reúnem pela primeira vez em Los Angeles e exigem melhores condições de trabalho.
O sindicato Gig Workers convocou o primeiro congresso de trabalhadores de aplicativos como Uber, Lyft, Rappi e Ifood.
Manuel Ocaño
Convocado pelos anfitriões do California Gig Workers, o Sindicato de Base de Entregadores por Aplicativo (SiTraRePa) da Argentina e seus colegas de 14 países organizam um evento histórico nestes dias em Los Angeles.
No congresso discutiram um plano global que permitiria que trabalhadores de aplicativos de entregas e de viagens compartilhadas se sindicalizassem e exigissem direitos de corporações que registram a cada ano receitas multibilionárias.
A secretária geral do SiTraRePa, Belén D, disse à LPO que as condições de trabalho dos entregadores e motoristas na Argentina são semelhantes às vividas por seus colegas de todos os países representados no Primeiro Congresso Internacional de Trabalhadores de Plataformas, que acontece em Los Angeles desde segunda-feira (24 de Abril).
“Queremos lutar a nível global, internacional contra os ataques das empresas, acreditamos que é um ponto chave para os trabalhadores de plataformas em todo o mundo”, declarou o dirigente.
Entregadores e motoristas da Argentina, Bélgica, Brasil, Colômbia, Dinamarca, Hong Kong, Itália, México, Nepal, Paquistão, Filipinas, Espanha, Suécia e Taiwan participam do congresso convocado pelo Gig Workers da Califórnia.
“Acreditamos que este será um primeiro passo para que nós, trabalhadores de aplicativos, possamos conquistar todos os nossos direitos como trabalhadores e nossas organizações sindicais de base”, acrescentou Belén.
Eles estão discutindo um plano global que permitiria que empregados de plataformas de viagens compartilhadas e de entregas se sindicalizem e exijam direitos de empresas que registram lucros multibilionários a cada ano.
Fora do fórum de discussão, sua primeira ação foi protestar conjuntamente perante a Suprema Corte da Califórnia para exigir que se pronuncie contra a proposição 22, medida estadual aprovada na última eleição que reconhece motoristas e entregadores apenas como empregados autônomos que prestam serviços a empresas de plataforma.
Com esse caráter jurídico, os empregados não possuem todos os direitos ou benefícios que por lei deveriam ter na Califórnia, principalmente se forem sindicalizados. Milhares de funcionários, a maioria latinos, processaram a Proposição 22 e ganharam. No entanto, como relatou o LPO, algumas semanas atrás, um Tribunal de Apelações estadual decidiu a favor do Uber, Lyft e outros.
Enquanto o Tribunal insiste no fato de que foram os eleitores que aprovaram a Proposta 22, os motoristas insistem que a sanção foi devida a uma campanha sem precedentes de mais de US$ 185 milhões.
A campanha insistiu que as empresas dão liberdade de horário de trabalho aos motoristas e enfatizou que, se a proposta fosse derrotada nas eleições, 90% dos empregos para entregadores e motoristas teriam que desaparecer.
Essa proposta deixou os trabalhadores de plataforma na Califórnia em condições semelhantes a cerca de 50.000 entregadores e motoristas de carona na Argentina e os de outros países no Congresso em Los Angeles.
“Estamos em Los Angeles, na Califórnia, onde essas empresas têm suas sedes, mas também onde milhares de trabalhadores estão se organizando para ter seus sindicatos. Um exemplo disso e de grandes vitórias são os colegas da Amazon, são os colegas da Starbucks, são os colegas do California Gig Workers Union”, disse um dos congressistas à LPO.
Conforme relatado na reunião, na Ásia, América do Sul, Europa ou América do Norte, motoristas e entregadores enfrentam os mesmos desafios: salários baixos e em declínio, apesar de trabalharem mais horas, insegurança no trabalho, demissões injustas e rejeição corporativa ao direito dos trabalhadores de se sindicalizarem.
Uma motorista do Uber em Los Angeles, Reyna Martínez, disse ao LPO que para ganhar o que ganhava em 2015 em seis horas, agora ela tem que trabalhar jornadas de mais de dez horas, sem serviços de saúde, nem poupança para a aposentadoria, já que está próxima de completar 63 anos. Segundo a sua história, em Outubro passado sofreu um acidente e só conseguiu pagar a habitação e os serviços graças à ajuda de alguns amigos.
Em Los Angeles, trabalhadores têm intercambiado ideias que podem servir ao movimento global de motoristas e entregadores. Seus esforços vão desde manifestações lideradas por trabalhadores temporários em Londres até motoristas de viagens compartilhadas que estão desafiando a Proposição 22 nos tribunais da Califórnia.
Uma motorista do Uber em Los Angeles, Reyna Martínez, disse à LPO que para ganhar o que ganhava em 2015 em 6 horas, agora ela tem que trabalhar em turnos de mais de 10 horas.
Na Índia, depois que milhões de motoristas e entregadores se manifestaram em todo o país, foi aprovada uma lei que concede direitos de seguridade social a trabalhadores de plataformas e aplicativos.
De sua parte, a Suprema Corte espanhola decidiu há alguns anos que os entregadores devem ter acesso aos direitos e proteções trabalhistas concedidos a outros empregados. São conquistas que podem servir de pano de fundo de que é possível alcançar avanços separadamente, mas melhor ainda se forem buscados em uma atuação global.
“Eles nos pediram várias coisas. Cumprimos o prazo e a forma, apresentamos todos os papéis. Estamos aqui hoje na porta deste consulado argentino em Los Angeles, da representação do governo argentino nos Estados Unidos, para dizer a vocês que os trabalhadores das plataformas na Argentina e no mundo não podem esperar mais”, concluiu Belén D.