Na nota, publicada no dia 24/4, Juliano Medeiros, Presidente do PSOL, agride fisicamente militante menor e de base do partido (leia em https://esquerdaweb.com/juliano-medeiros-presidente-do-psol-agride-fisicamente-militante-menor-e-de-base-do-partido/), o Esquerda Web já havia relatado os eventos, ocorridos na tarde do dia 22/4, em que Juliano Medeiros, Presidente Nacional do PSOL, agride moral e fisicamente companheiros do Socialismo ou Barbárie, tendência do PSOL.

Por ocasião da referida nota, fizemos um relato mais genérico do ocorrido com o objetivo, precípuo, de tirar as conclusões políticas do porquê o dirigente máximo da nossa organização, Juliano Medeiros, um homem de 38 anos de idade, chega ao cúmulo de agredir moral e fisicamente um menor de idade em meio a um debate de ideia. E só podemos explicar tamanha brutalidade pelo processo de profunda burocratização de parte da direção nacional do PSOL a serviço da liquidação da independência do PSOL, pois o método violento protagonizado por Juliano Medeiros, e uma série de outros expedientes, está a serviço de afastar a base da discussão para que se possa impor por cima, às costas da militância, uma política de liquidação da independência de classe do nosso partido.

O que será relatado abaixo é uma intolerável postura que esperamos apenas dos nossos inimigos de classe, da burguesia, dos seus bate-paus bolsonaristas, jamais de um homem que se diz socialista, de um companheiro de partido e dirigente máximo da nossa organização. Principalmente quando teremos cada vez mais que, nas ruas e em todos os espaços políticos, serrar fileiras para derrotar o neofascismo no Brasil, processo que, certamente, exigirá a máxima unidade entre nós, a esquerda socialista como um todo, independente das correntes políticas das quais fazemos parte.

Tornamos públicos os depoimentos abaixo para que toda a militância do PSOL saiba exatamente o que ocorreu na tarde do dia 22/4. Encaminhamos os documentos para a Executiva Nacional para que essa, bem como a tendência interna da qual Juliano Medeiros faz parte (Primavera Socialista), assuma abertamente posição contrária a agressões de qualquer natureza – principalmente as físicas – da parte de Juliano Medeiros e de qualquer outro militante do PSOL. Para, assim, que o livre debate de ideias, de posições políticas e de organização interna possam ser garantidos sem que a integridade física ou moral dos nossos, e de qualquer companheiro do partido, sejam ameaçadas. Da mesma forma, iremos encaminhar os depoimentos dos companheiros à Comissão de Ética do Partido para que, de acordo com o nosso Estatuto, o caso seja avaliado e medidas disciplinares sejam tomadas para que fatos como esse nunca mais ocorram.

Publicamos na íntegra os depoimentos dos envolvidos abaixo com nome, idade, moradia e atividade. No caso do companheiro que foi agredido fisicamente, usamos nome fictício Tomás, tendo em vista preservar sua identidade, uma vez que trata-se de um menor.

Depoimento de Tomás

Eu, Tomás, tenho 17 anos, moro em São Paulo, sou estudante e militante do PSOL, na última sexta-feira 22/04, por volta das 17h estava no bloco de carnaval “Vai Quem Quer”, no bairro do Butantã, com um grupo de amigos e companheiros de militância política, Ana Paula e Renato Assad.

Naquele momento, o bloco já havia finalizado o seu trajeto e estava parado na Rua Inquirim, na altura do mercado Violeta. Enquanto estávamos no bloco, o Sr. Juliano Medeiros, Presidente do Partido Socialismo e Liberdade, veio em direção ao grupo que estávamos na rua. No momento em que Juliano passou do nosso lado, Renato o chamou nominalmente e ele parou de forma calma. Em tom irônico e evidenciando sua posição diante das decisões que o partido atravessa, Renato o questionou sobre a falta de democracia interna e sobre os rumos do partido. Após uma brusca mudança de expressão, Juliano, claramente desequilibrado e alterado, mostrou os dois dedos do meio para nós e proferiu ofensas como: “Vai tomar no cu” e outros impropérios. Juliano se virou rapidamente, seguiu o caminho que fazia e foi encontrar alguns amigos. Ainda estarrecidos e até desacreditados com a reação de Juliano, retiramo-nos e fomos para outro ponto do bloco.

Em uma segunda situação, ao encontrarmos novamente Juliano no meio do bloco, agora só eu e a companheira Ana (Renato havia se distanciado um pouco de nós naquele momento), Ana o questionou fazendo referência a sua ofensa verbal recente ao nosso grupo e ao comportamento constante de Juliano de bloquear e apagar comentários de militantes que o contrariam em suas redes sociais (naquela semana, Juliano havia me bloqueado no Instagram após ter criticado sua gestão à frente do PSOL). Ana disse: “Não dá pra bloquear ao vivo, né?”. Naquele momento, eu estava relativamente distante do Juliano, era Ana que estava mais próxima a ele. Com um tom de voz mais alto, por conta do barulho e da distância, confrontei a postura política de Juliano. Ao ouvir meu questionamento, Medeiros, reitero, uma figura pública e o presidente do partido do qual eu milito, visivelmente exaltado, executou um movimento brusco em minha direção, avançou com o braço no meu pescoço e me enforcou. Joguei meu corpo para trás, em uma ação instintiva de defesa. Foi preciso a intervenção da companheira Ana para que ele se afastasse de mim, ele nos xingava repetidamente. Rapidamente saímos do local. Fomos encontrar o Renato, que estava a poucos metros dali, para conversar sobre o ocorrido.

Após algum tempo e depois de garantir que estávamos bem, Renato, decidiu por exigir uma retratação de Juliano. Neste terceiro momento, estávamos eu e Renato, quando encontramos Juliano em um ponto mais afastado da centralidade do bloco, ele estava acompanhado de um homem que não conhecíamos. Renato o interpelou: “Você está maluco de ter agredido um menor de idade?”. Medeiros, novamente descontrolado disse: “não sabia que ele era menor de idade…”, confirmando a agressão, e se colocando corporalmente para nos agredir novamente. Medeiros gritava que aquele era o “momento de Carnaval dele” e que ele “não poderia ter sua posição questionada”. Enquanto isso, eu dizia repetidamente que ele era uma figura pública e representante máximo de um partido do qual eu sou militante de base e, portanto, teria todo o direito de expor a minha posição e de questionar o seu comportamento como dirigente partidário. O homem que acompanhava Juliano teve que contê-lo fisicamente e retirá-lo do local. Tomás, 26 de abril de 2022

Depoimento de Ana Paula 

Eu, Ana Paula, tenho 21 anos, resido em São Paulo e sou estudante, Estava na tarde de sexta-feira, 22 de abril de 2022, em um bloco de carnaval junto com o Renato Assad e o Tomás, onde estava também Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade).

Passado algum tempo que estávamos no evento, localizado na Rua Iquiririm, em um primeiro momento de interação, Juliano passa por nós é questionado por Renato sobre sua posição política e decisões tomadas no partido, dizendo “parabéns Juliano, você conseguiu afundar o partido”, comentário do qual Juliano Medeiros responde agressivamente, proferindo insultos e oferecendo um gesto fálico com a mão ao Renato.

Em outro momento, acompanhada de meu colega Tomás, que caminhava atrás de mim, encontro Juliano Medeiros e menciono a ele seu hábito de fugir do diálogo e de críticas pelas redes sociais – em que bloqueia rotineiramente usuários que façam comentários dos quais Juliano discorde – dizendo: “o difícil é que ao vivo não dá pra bloquear, né?” Juliano me responde de maneira sucinta e irônica.

Enquanto me afasto dele, meu colega Tomás, que estava atrás de mim, o questiona sobre suas decisões políticas e, como resposta, Juliano parte para agressão física, há de se dizer que Tomás estava distante de Juliano Medeiros e que esse avança bruscamente para agredi-lo, o enforcando e o empurrando para trás. A minha reação foi afastar o meu colega para que ele não fosse mais agredido, foi a decisão mais prudente que pude tomar no momento, tendo em vista a proteção física de meu companheiro, dizendo para que saíssemos dali e pensando em evitar maiores agressões. No mesmo momento, em vistas de apartar a confusão, afasto Juliano verbalmente.

Renato, que estava próximo, mas não pôde intervir, pois estava a alguns metros de distância, imediatamente nos encontrou para averiguar a situação. Abalados, aflitos, desacreditados e surpresos, passamos a conversar sobre tudo o que acabava de acontecer.

Já no terceiro encontro com Medeiros, eu não estava presente e logo em seguida, meus companheiros me contaram o ocorrido. Indignados ressaltaram que se não fosse o amigo de Juliano e as pessoas que por perto estavam, ele teria partido para a agressão física.  Ana Paula, 25 de Abril de 2022

Depoimento Renato Assad

Eu, Renato Assad, tenho 29 anos, resido em São Paulo, sou estudante e militante do PSOL. Na última sexta feira, 22/04, por volta das 17h, estava em um bloco de carnaval no Butantã junto aos meus amigos e companheiros Tomás e Ana Paula.

Em determinado momento, presentes há algum tempo no local, na Rua Iquiririm, próximo ao mercado Violeta, Juliano Medeiros, Presidente Nacional do PSOL, passou pela roda em que estávamos na calçada. Foi então que eu o chamei pelo nome e este, sem saber quem eu era, parou de maneira solicita imaginando que o cumprimentaria ou algo parecido. Neste momento, de maneira breve e em tom irônico lhe disse exatamente as seguintes palavras: “parabéns Juliano, você conseguiu afundar o nosso partido”. Em seguida, o mesmo mudou bruscamente de feição e mostrou o dedo do meio e exaltado começou a gritar desferindo ofensas como: “vai tomar no cu”. Logo após, Juliano Medeiros se afastou do local para encontrar o grupo de pessoas que estavam com ele. Ficamos indignados e surpresos pela reação de Juliano, sendo que nunca havíamos falado com ele pessoalmente.

Em determinado momento, estava no bloco a alguns metros atrás de Tomás e Ana, quando vi Tomás sendo empurrado e Ana apartando uma movimentação atípica, e mais uma vez avistando Juliano ao lado deles. Em seguida, eu, que estava mais afastado, fui em direção à Ana e Tomás, eles também caminharam em minha direção, para questionar o que de fato havia ocorrido com Medeiros, o que de fato era aquela movimentação que acabara de ver e para averiguar com Tomás se com ele estava tudo bem. Após Ana Paula e Tomás explicarem e confirmarem a agressão, assim como o que motivou a mesma, eu decidi ir cobrar de Juliano Medeiros uma retratação.

Assim, acompanhado de Tomás, aproximei-me de Medeiros e o indaguei: “você enlouqueceu para enforcar um menor de idade por haver te questionado politicamente?!” Juliano Medeiros, alterado desde o primeiro encontro, respondeu com ofensas dizendo: “foda-se, não sabia que ele era menor de idade” e que como nós “ousávamos a perturbá-lo em seu carnaval”.

Não o bastante, e em completo descontrole desferindo aos berros xingamentos sucessivos, Medeiros armou posição para nos agredir fisicamente (Tomás e eu), como já havia feito com Tomás. Incrédulo com o ocorrido, questionei Juliano Medeiros se iria nos bater. Pelo tumulto ali causado, as pessoas que estavam ao redor e o amigo de Juliano, seguram-no, impedindo que ele chegasse às vias de fato. Em seguida Juliano Medeiros e seu amigo se retiraram do local, assim como nós. Renato Assad, 25 de abril de 2022.

Depoimento Lívia Jorge

Eu, Lívia Jorge, 25 anos, residente de São Paulo, estudante de Geografia. 

Na última sexta-feira, 22 de abril, estive presente no bloco de carnaval chamado “Vai quem quer”, no Butantã. 

Já próximo ao final do bloco, que ocorreu todo de modo pacífico e festivo, percebi uma movimentação atípica. 

Quando me aproximei da agitação que estava ocorrendo em frente ao supermercado Violeta, na faixa de pedestres, vi um homem bastante agressivo em tom de ameaça gritando e indo para cima de alguns amigos meus, Renato Assad e Tomás. 

Não sabia quem era ele, mas preocupada com a agressividade e preocupada pela integridade física de meus colegas, me coloquei fisicamente entre ele e meus amigos – mesmo que com medo. Depois entendi que se tratava de Juliano Medeiros, Presidente nacional do PSOL. 

Após isso, meus amigos me explicaram toda a situação e o que havia ocorrido. Me certifiquei que estavam todos bem e me coloquei à disposição para fazer uma denúncia. 

A agressão ocorrida me gerou grande sentimento de revolta. É inadmissível a brutalidade e violência. 

Me disponibilizo para depor e relatar o que presenciei. Entendo como muito grave toda essa situação.  Lívia Jorge, 27 de abril de 2022.