Greve Geral para unificar as lutas

Greve dos caminhoneiros e dos petroleiros

Greve Geral para unificar as lutas a partir de um programa dos trabalhadores  

ANTONIO SOLER

A greve dos caminhoneiros, no que pese toda as contradições que carrega, acabou por abrir espaço para uma nova conjuntura nacional. Conjuntura essa que já dava sinais de eclosão com a greve vitoriosa dos funcionários da rede pública de educação do município de São Paulo, com a greve dos professores da rede privada de ensino e com greves em importantes fábrica, como é o caso da Mercedes Benz de São Bernardo do Campo. Mas pelo impacto sobre a vida econômica do país, pela sua extensão nacional, pela sua radicalização e pela derrota que está impondo ao governo Temer, essa greve faz eclodir uma nova conjuntura em que a polarização política latente vem à tona e deixa o governo e a classe dominante atônitos.

Uma dinâmica claramente progressiva

O debate em torno do caráter da greve dos caminhoneiros foi totalmente superado pela dinâmica dos fatos. Nos primeiros dias dessa mobilização houve uma intensa polêmica sobre a natureza dessa greve, era um locaute ou tratava-se de uma greve de caminhoneiros autônomos e de trabalhadores assalariados. Em nossa opinião era um movimento híbrido, mesclado, contraditório, mas progressivo, pois enfrentava o neoliberalismo e o privatismo do governo Temer, e sobre o qual deveríamos intervir para separar o joio do trigo.

Tratar o movimento simplesmente como um locaute – como fez o PT e alguns setores da esquerda socialista – significava não disputar os setores não-patronais com uma política voltada aos interesses dos autônomos, dentro de uma lógica e pauta dos trabalhadores, jogou água no moinho do governo e dos patrões.  Já, por outro lado, ver apenas os aspectos progressivos, desconsiderando as contradições do movimento – como fez algumas correntes da esquerda – não contribuia para que o movimento ganhasse autonomia da patronal e se alinhasse aos trabalhadores.

No entanto, a partir da sexta-feira esse debate foi superado pelos fatos. Ao não aceitar a negociação feita pelas entidades, o movimento dos caminhoneiros autônomos deixa de ser capitaneado pela patronal do transporte, ganha radicalidade, amplia a pauta de reivindicações e começa a ser reprimido pelo governo. Evidentemente que os caminhoneiros não são trabalhadores assalariados em sua maioria, porém vivem do seu próprio trabalho – típico da pequena burguesia – e em condições de profunda precarização. Também é típico da pequena burguesia que essa siga politicamente à grande burguesia ou ao movimento da classe trabalhadora. Por isso, é criminosa a política do PT e afins, que diante da possibilidade de abertura de uma conjuntura de lutas, rompeu totalmente o diálogo com os caminhoneiros anônimos.  

Ao dar continuidade à greve, os caminhoneiros passam por cima das entidades burocráticas e sem se darem por satisfeitos com a redução de R$ 0,46 no preço do litro do diesel e congelamento por 30 dias, ganha peso na pauta o aumento do frete, o não pagamento de pedágio pelo eixo suspenso e outras demandas. Ou seja, uma pauta mais ligada aos interesses dos autônomos. Além disso, o governo passa a usar as forças de segurança para reprimir os piquetes, há resistência em todo o território nacional e mesmo com desabastecimento de combustível e de vários outros produtos, setores mais amplos da população passam a apoiar o movimento. Assim, o conflito assume uma feição mais de típica do conflito de classes.

Greve dos petroleiros e disputa pela esquerda

Estamos no nono dia de paralisação e mesmo com toda a mobilização das tropas federais e estaduais para reprimir o movimento ainda existem mais de  550 pontos de protestos por todo o país segundo a polícia rodoviária federal. Não se sabe se os grevistas irão ceder à proposta de acordo feita pelo governo no domingo, 27/05, que inclui a não cobrança do eixo suspenso, a ampliação para 60 dias de congelamento do preço do diesel e a reserva de 30% do frete da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para os caminhoneiros autônomos.

Um tema fundamental a tocar é sobre a disputa política deste movimento. Evidentemente que um setor dos caminhoneiros, como reflexo das contradições políticas que permeiam toda sociedade e todas as demais categorias, inclinou-se à extrema direita, defende Bolsonaro, intervenção militar e etc. Mas, a defesa de posições de extrema direita não é majoritária entre os caminhoneiros que podem/devem ser disputados para outra política. Por isso, a importância da greve dos petroleiros que se iniciará no próximo dia 30.

Com a entrada dos petroleiros em greve e sua pauta de reivindicações abre-se outro patamar de disputa pela esquerda da conjuntura e do movimento. Entra em cena uma categoria e uma pauta operária capaz de disputar a greve dos caminhoneiros com um programa que vai à raiz do problema, que atende suas reivindicações, mas que o faz a partir dos interesses dos trabalhadores. 

O governo irá reduzir o preço do diesel cortando impostos sobre o combustível, mas isso não resolve o problema, pois uma oscilação no preço internacional do combustível ou a ampliação da importação dos derivados do petróleo, por conta do processo de privatização da Petrobrás que subutiliza a capacidade de refino da estatal, fará com essa proposta de redução de preço pelo governo vire pó em instantes. Dessa forma, a greve dos petroleiros, com sua força social e seu programa classista, é decisiva para a disputar a hegemonia da mobilização dos caminhoneiros com a direita.

CUT tem que chamar a greve geral

Além dos petroleiros, outras categorias estão se mobilizando, estão em campanha salarial ou decretando greve imediatamente. Essas categorias lutam por reposição salarial, melhores condições de trabalho, defesa de direitos e etc.

A pauta dos petroleiros – redução dos preços de todos combustíveis, luta contra a privatização da Petrobras, mudança da política de preços e demissão de Pedro Parente – entra na raiz do problema e resolve de forma mais estrutural a demanda por redução dos caminhoneiros e dos trabalhadores. Mas precisamos levantar pontos de intersecção com as categorias em luta, com as grandes questões nacionais e que apresentem uma saída política para a crise do ponto de vista dos trabalhadores, tais como: reposição geral dos salários, fim da intervenção militar no Rio, justiça por Marielle, fora Temer e eleições gerais e democráticas já.

A convocação do dia nacional de luta pelas frentes Povo Sem Medo e frente Brasil Popular para a próxima quarta-feira, dia 30, data que será iniciada a greve dos petroleiros, é muito importe. Mas, diante da necessidade e do potencial aberto pela greve dos caminhoneiros, esse calendário é totalmente insuficiente. Por isso, temos todos que exigir que a CUT, as demais centrais sindicais e os movimentos convoquem imediatamente uma Greve Geral que mobilize todas as categorias nacionais, os grandes cinturões industriais, o movimento por moradia e a juventude combativa.