Privatizações para recolonizar o Brasil

MARTIN CAMACHO

Nos últimos meses, o governo ilegítimo de Michel Temer acelera sua política de ajustes contra as condições de vida dos trabalhadores e de privatizações do patrimônio público. Quer fazer o resto do trabalho sujo para que o próximo presidente encontre o terreno mais propício para governar um país mais submetido ao capital transnacional.

Uma das empresas que está dentro do “raio privatizador” de Temer é a Embraer. Mas, atrelado a está venda, outras empresas nacionais também estão na lista para serem passadas ao capital internacional. Em relação à Embraer, a proposta de negócio é de uma “nova empresa” na qual a Boeing fique com 80% e a Embraer com 20%, ou seja, tem como objetivo retirar da empresa nacional soberania, domínio tecnológico e mercado.

O país submetido às transnacionais

O entreguismo do governo Temer é parte de uma política sistemática de colocar o Brasil à mercê dos capitais transnacionais. Essa ação levantou vários questionamentos, e o principal é a perda da soberania nacional no campo da aviação militar.

Um dos clientes de maior importância da Embraer são as forças armadas. Desta forma, a venda desta empresa pode afetar seriamente a soberania militar, transferindo para a americana Boeing a tecnologia produzida por décadas e a logística do espaço aéreo brasileiro.

A Embraer foi privatizada, como muitas outras empresas nacionais, com a desculpa de que tinha pouca rentabilidade. Esse argumento é similar ao usado por vários governos dos países da região que seguem fielmente as receitas privatistas do FMI e/ou do BM. Mas, em relação à Embraer, o Estado brasileiro é um acionista especial com poder de veto. É o chamado “golden share”, em que o Estado segue tendo controle da companhia e pode vetar mudanças estratégicas da empresa.

Hoje até está cláusula está em jogo, pois a política do Planalto é se desfazer de toda regulação para entregar o patrimônio nacional. Não só Embraer estaria na mira, mas outras empresas estratégicas, como a Eletrobrás, a Vale e a IBR. Assim, a ideia do Planalto é vender a empresa depois do segundo turno para não trazer mal-estar político no período eleitoral, mas os acordos já estão bem adiantados.

A venda já tem o preço! Obviamente que o “valor” desta empresa não pode ser medido se levarmos em conta que é estratégica para a economia nacional. Pelo desenvolvimento tecnológico e espaço no mercado que alcançou a Embraer, o preço que será pago se for efetivado o negócio é uma bagatela para a Boeing, que poderá se colocar como a primeira no mundo na fabricação de jatos comerciais. O valor que se está sendo cogitado não seria muito maior do que US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões).

Para o governo não importa os postos de trabalho. Como foi anunciado ha poucos dias, o Ministério Público de Trabalho (MPT) informou que a Justiça do Trabalho negaria o pedido de cláusulas de manutenção dos empregos e de que estes fiquem no território nacional com a venda da empresa, além disso, o governo já haveria julgado como não necessária tal medida.

Por que o interesse da Boeing?

Como existem poucas empresas construtoras de aviões de médio porte e a competição no mercado mundial ficou mais acirrada com a crise econômica, surge o interesse da Boeing pela Embraer. Somado ao fato de que a Boeing deixou de fabricar esse tipo de jato nos anos 2000, essa aquisição colocaria a Boeing novamente em condições de competir com outras duas empresas: a canadenses Bombardier e a europeia Airbus que têm supremacia na maioria das vendas de aviões para voos regionais.

Como a Boeing desmantelou suas plantas para a construção de jatos nos anos 2000, qual negócio poderia ser melhor do que a compra de uma empresa sofisticada, competitiva e instalada no mercado mundial? A Embraer hoje é reconhecida por sua tecnologia, rapidez de entrega e baixos custos. É por isso que a americana ficou por anos de olho na Embraer, sabendo que em qualquer momento de instabilidade política poderia abrir uma janela para que a empresa passasse a servir completamente aos interesses estadunidenses.

A partir do Ministério da Fazenda, comandando por Henrique Meirelles (candidato a presidente pelo MDB – partido de Temer), foi montado o operativo para que o governo não utilizasse o direito de veto da venda da maior parte da Embraer. Demonstrando um entreguismo desavergonhado, o governo quer se desfazer dos últimos resquícios de controle das estatais para passa-las às empresas estrangeiras. O mesmo está acontecendo com a Petrobras, que deixa de refinar petróleo extraído no Brasil para comprar hidrocarbonetos no exterior a preço mais elevado. Uma política plenamente antidemocrática e entreguista.

Fora Temer e sua política entreguista

O governo ilegítimo, ao não conseguir aprovar a reforma da Previdência, quer contemplar o capital financeiro entregando o patrimônio nacional e provocando uma significativa perda de soberania na produção de bens estratégicos.

Com a ridícula desculpa de que essa política serve para combater a crise e que trará mais empregos, empresas estratégicas podem ser entregues ao capital estrangeiro. Mas o que acontecerá será o contrário do que os governantes de turno falam para a população.

Trata-se de um passo a mais para cortar gastos na inversão de tecnologia e inovação. Hoje a Embraer tem um papel importante na formação de engenheiros, mas com a privatização esse processo corre um sério perigo de desaparecer porque o governo quer dar carta branca para os interesses do capital financeiro.

Além da Embraer, estão em jogo outras empresas nacionais ou instituições de pesquisa e de ensino. O sucateamento das universidades federais e estaduais já é reconhecido por todos (as) e é visível a política entreguista de Temer neste setor. O desmonte da Embrapa (estatal que desenvolve tecnologia para a produção rural) também é produto de uma política entreguista e de sucateamento, deixando o país à mercê do desenvolvimento de tecnologia agrária em outros países.

Recentemente também tivemos o leilão que levou à privatização da Cepisa, distribuidora de energía elétrica do Piauí, ação que é parte da “desestatização” da Eletrobras, proceso que se for levado a cabo fará com que o Brasil perca totalmente o controle sobre a produção e distribuição de energía elétrica.

Não podemos deixar passar o entreguismo de Temer! Vamos exigir nas ruas o fim das privatizações de todas empresas estratégicas doo país e a reestatização sob controle dos trabalhadores das que foram estatizadas!