Origem do derramamento de petróleo segue desconhecida

REUTERS/ALISSON FRAZAO

Manchas de óleo nas costas brasileiras colocam, novamente, o desleixo do governo com o meio ambiente em cheque

Luciano Mathias

Completando um mês e meio dos primeiros vestígios de óleo que surgiram nas praias do nordeste brasileiro, a origem do seu derramamento ainda segue desconhecida. Até agora centenas de praias de todos os estados do nordeste já foram afetadas, o quadro se mostra cada vez mais preocupante surgindo novos focos de poluição a cada dia e traz preocupações relacionadas a fauna e flora da região.

As investigações sobre a origem do conteúdo começaram a ser feitas a partir da análise de amostras, dessa forma, foi possível identificar o produtor desse petróleo específico. Segundo Mario Rangel, gerente de Geoquímica Petrobras “Cada petróleo teria, entre aspas, um DNA específico. Então esse conteúdo de moléculas que está em cada amostra é que me permite diferenciar um petróleo do outro e correlacioná-los, buscar semelhanças ou diferenças. Então, grosseiramente, podemos dizer que cada petróleo tem um DNA diferente”.

O laboratório da Petrobras relatou que o “DNA” das amostras coletadas indicam que esse petróleo é extraído pela Venezuela, fato que fez o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, responsabilizar o país vizinho antecipadamente, que respondeu as acusações negando a culpa.

Conhecer a origem do país extrator se mostrou como sendo uma das várias etapas para entender os responsáveis. Se, no caso, o petróleo fosse derramado nas bacias próximas à Venezuela, as correntes marítimas locais se encarregariam de levar as manchas de petróleo na direção oposta da costa brasileira.

Dentro disso algumas hipóteses têm sido montadas para conhecer o local da origem do derramamento. Um dos fatores determinantes na compreensão do caso são as correntes marítimas atuantes no litoral nordestino. Uma simulação feita no atlântico indica que a  origem do derramamento deve estar em alto mar, cerca de 400km da costa, sendo deslocada para as costas brasileiras através da corrente sul equatorial, como mostra a imagem.

Fonte: Prof. Ilson Silveira

Nessa região do atlântico circulam milhares de navios-tanques todos os meses, provenientes de vários países diferentes. Só no mês de agosto, quando começaram as primeiras evidências de manchas de óleo, cerca de 1.100 navios carregados de petróleo navegaram por essas águas.

E ainda assim resta saber também como ocorreu esse desastre, pode ter sido pelo naufrágio de um desses navios, um despejo criminoso, entre outras formas.

Esforços estão sendo feitos na tentativa de reduzir os danos; desde forças tarefas para tentar salvar tartarugas marinhas que estão sob forte perigo, até uso de boias para conter o petróleo que se espalha e ameaça adentrar cada vez mais em rios da região, dentre eles o importante Rio São Francisco.

A magnitude do desastre ainda é obscura, pouco é divulgado sobre o verdadeiro estrago, a repercussão do acontecimento foi tardio, além de não receber a devida importância por parte do governo considerando, por exemplo, que faltaram recursos para a implementação necessária das boias de contenção. Porém o que está certo é o teor altamente nocivo que o petróleo pode causar no ecossistema marinho, já são centenas de animais encontrados mortos, dentre eles aves, tartarugas e golfinhos.

A resposta imediata e precoce de Bolsonaro pós-desastre foi de acusar a Venezuela, dessa forma, não perdendo a oportunidade de marcar sua posição na polarização geopolítica atual, na qual a Venezuela tem sido, muitas vezes, referência para o debate.

Vale lembrar que não é a primeira vez que esse governo se aproveita de desastres ambientais para mostrar seu posicionamento político, fez isso quando chamou o exército israelense durante a catástrofe de brumadinho, mostrando sua intenção em estreitar laços com o reacionário estado israelense. E fez isso, também, na ONU quando justificava o desmatamento da floresta amazônica ao mesmo tempo que apresentava para a comunidade internacional seu caráter de extrema direita.

Porém depois de pesquisas feitas por inúmeros especialistas, Bolsonaro precisou recuar e falou que “existe a possibilidade de que tenha sido um navio afundado no passado porque tem muito petroleiro com bandeira pirata na área”, quando chegava no estádio do Pacaembu para assistir o jogo do Palmeiras.

Os desmontes que ocorrem nesse governo dos órgãos de regularização e combate dos impactos ambientais como, Ibama, Inpe e ICMBio evidenciam cada vez mais o perigoso rumo que está sendo tomado no desleixo com o meio ambiente em pró da agenda ultra-liberal que é imposta.

O desastre vem logo após a evidenciada queima da floresta amazônica, que culminou em greves globais pelo clima, e pode fortalecer ainda mais a pauta ambiental trazida à tona no último período, mobilizando pessoas nas ruas de todo o mundo.