O governo do Equador entrega Assange ao imperialismo

REDAÇÃO IZQUIERDAWEB

Em um giro político entreguista evidente, o presidente Lenin Moreno retira do fundador da Wikileaks sua condição de refugiado político e o entrega à polícia inglesa. O imperialismo tinha Assange em sua mira depois de anos da vinda a público de documentos secretos que colocaram em evidência seus crimes de guerra no Oriente Médio e em geral a imundície dos segredos da política capitalista. Exigimos a liberdade imediata de Julian Assange. 

O site oficial do Wikileaks já vinha advertindo sobre a iminência da detenção em Londres de seu fundador e diretor, que estava refugiado na embaixada equatoriana fazia já sete anos. Em um tweet no dia 10/4 advertiram que Lenin Moreno se preparava para apresentá-lo para seus chefes dos Estados Unidos no dia 16 de abril. Tanto Estados Unidos quanto Reino Unido vinham exigindo sua extradição para julgá-lo. 

Os argumentos que o presidente equatoriano usa para justificar sua decisão são pouco menos do que incríveis. Em um vídeo hoje fala de “declarações incordiais e ameaçadoras de sua organização contra o Equador, e sobretudo a transgressão aos acordos internacionais…Equador soberanamente dá por encerrado o asilo diplomático dado ao senhor Assange no ano de 2012”.

A conversa sobre sua “cortesia” faz parecer que o que está por trás de um presidente tirar-lhe seu direito de asilo político ao principal nome da Wikileaks é menos uma decisão política e mais o desagrado por suas boas maneiras. Sobre a violação de tratados internacionais também há pouco o que dizer: trata-se de acordo entre Estados, não entre indivíduos. Nada pode violar um tratado que não foi assinado.

“Soberanamente” parece que foi uma palavra forjada para tentar esconder o evidente caráter capacho e entreguista dessa decisão. Lenin Moreno se arrastou servilmente aos pés de Trump e do imperialismo ianque, que tinha visto seus pérfidos mecanismos de funcionamento real colocados à vista de milhões graças aos vazamentos de Assange.

Embora a explicação dada pelo ex-presidente Rafael Correa a respeito da decisão tomada pelo mandatário atual parece ter certa base real, mesmo assim explica pouco. Wikileaks teria recolhido recentemente documentos que provavam movimentos financeiros espúrios por parte de Lenin Moreno, que teria contas ilegais no Panamá, chamados INAPapers. Porém, as coisas são evidentemente mais complexas.

A entrega de Assange é uma política de defesa dos interesses do imperialismo ianque (e inglês) e seus crimes, não pode ser reduzido a discussão local entre Correa e seu ex-aliado. Lenin Moreno se alinha com o giro à direita na região, com a política de acabar com a formalidade dos enfrentamentos verbais com os Estados Unidos para alinhar-se de forma total, incondicional e submissa.

Lenin Moreno sabe muito bem das implicações da entrega de Assange. Reino Unido é um aliado chave dos Estados Unidos na política internacional, foi um dos primeiros seguidores das invasões no Iraque e no Afeganistão, seus interesses estão hoje profundamente ligados.

Pois bem: quem é hoje presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu abertamente em 2010 que Julian Assange deveria ser executado. Bill O’Reilly, apresentador de televisão do imperialismo estadounidense fez amplos seus desejos de execução a todos os membros de Wikileaks.

Embora os vazamentos sejam múltiplas e muito variados, os mais impactantes são que colocaram em evidência os crimes de guerra dos Estados Unidos nas guerras do Oriente Médio. Através do site Wikileaks foram feitas algumas das maiores divulgações de documentos secretos da história.

Em 2010 veio a público de forma coordenada com vários grandes jornais o vazamento de quase 400 mil documentos do Pentágono sobre seus crimes no Iraque. Ali se falava em mais de 60 mil civis assassinados pelas forças aliadas encabeçadas pelos Estados Unidos, do uso sistemático de tortura e assassinato da população civil por parte das forças armadas iraquianas aliadas às forças invasoras e múltiplos crimes de igual envergadura.

Os “Diários da Guerra do Afeganistão”, revelados no mesmo ano, também revelaram as múltiplas atrocidades cometidas pelas tropas do imperialismo na zona. Também trouxeram à público um vídeo onde um helicóptero Apache disparava contra um repórter da agência Reuters e várias pessoas desarmadas. A agência havia solicitado ao Estado norteamericano para ter o registro do assassinato, o aparato militar havia negado sua existência até que Wikileaks vazou. Poderíamos seguir falando interminavelmente das numerosas revelações públicas dos crimes e vexações do imperialismo que foram postas em evidência pelo portal de Assange.

A necessidade do imperialismo tirar de cima de si semelhante aborrecimento é evidente. Com Wikileaks se pôs em evidência para todo aquele que quisesse ver o mecanismo de funcionamento da democracia imperialista ianque, sobre o que escondem de vir a público e a brutal repressão que representam.

A entrega de Assange é um ataque de grandes proporções a liberdade de expressão e comunicação. Trata-se de colocar uma mordaça na imprensa em defesa dos interesses dos grandes capitalistas e seus governos. Exigimos a imediata liberdade de Assange e denunciamos o capacho Lenin Moreno como o rastejante agente de Trump que é.  

 

Tradução: Gabriel Barreto