Por Martin Camacho

O novo coronavírus (COVID-19) está se expandindo rapidamente pelo mundo todo desde que apareceu pela primeira vez entre novembro e dezembro de 2019 na China. Uma das suas particularidades é a propagação rápida do vírus. Essa característica diferencia a pandemia de outras doenças que surgiram neste século e marca o ano de 2020 com números elevados de infectados. 

A capacidade de fácil transmissão preocupa todos e evidência como o capitalismo globalizado hoje no século XXI pode ter proporções planetárias em pouquíssimo tempo. A questão que diferentes países têm tomado medidas emergências divergentes. Dentre os governos burgueses, o da Coreia do Sul é utilizado como melhor exemplo de como enfrentar a pandemia. O país testou quase toda a população, acompanhou de perto os suspeitos e investiu em políticas públicas na área da saúde. 

O reconhecimento coreano foi utilizado até em discurso da Organização Mundial da Saúde (OMS). A instituição internacional recomenda categoricamente a abordagem adotada pelo país asiático. “Temos uma mensagem simples para todos os países: façam testes, façam testes, façam testes”, disse o diretor da organização Tedros Adhanom Ghebreyesus em coletiva de imprensa. “Testem todos os casos suspeitos. Se eles derem positivo, coloquem em isolamento e descubram com quem eles tiveram contato e teste essas pessoas também”, recomendou.

Ao mesmo tempo que as medidas são aplaudidas pelas comunidades internacionais, o exemplo da Coreia do Sul é ignorado pelo Brasil. O país tropical, que faz fronteira com nove países, está caminhando pelo lado oposto das boas práticas de atendimento e acolhimento aos doentes. Um péssimo exemplo é a postura do presidente Jair Bolsonaro – um negacionismo esdrúxulo, irresponsável e inoperante. O capitão reformado vive negando a realidade com um discurso religioso e sem fundamentos teóricos. 

A Amazônia não está em risco, a Ciência é mentirosa, a Folha de S. Paulo é culpada, os médicos cubanos são irrelevantes e as universidades são balbúrdia. Todo esse contexto leva a que hoje um setor importante da população não acredite na gravidade da doença no país. O mandatário debochou em uma coletiva de imprensa no Palácio do Planalto e afirmou que não será derrubado pelo coronavírus. “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar não, tá ok?”, declarou o presidente irresponsável. “Se o médico ou o Ministério da Saúde me recomendar um novo exame, eu farei. Caso contrário, me comportarei como qualquer um de vocês aqui presentes.”

As declarações do representante brasileiro influenciam o mau comportamento e uma retaliação das medidas preventivas. O Brasil está sem uma liderança para conter o surto, ou seja, está extremamente atrasado e repetindo os erros da Itália ou Espanha. Os números divulgados pelo Ministério da Saúde são assustadores e revelam que não foram tomadas medidas adequadas antes da pandemia chegar ao país. A curva de infectados está sendo mais rápida que na Itália nos primeiros dias de fevereiro. Atualmente, o Brasil registra 1.128 casos e 18 mortes (atualização: 21/03).  

Crise sanitária e política

O mundo vive uma crise sanitária nunca vista na história. A Organização Mundial de Saúde considerou, na segunda-feira (16/3), o coronavírus a “maior crise sanitária mundial da nossa época” e pediu a comunidade internacional a realização de “testes para cada caso suspeito”. 

Em meio ao cenário, o Brasil vem enfrentando outro problema grave que é a agressão de profissionais da saúde. Brasileiros mal informados e influenciados pelos discursos negacionistas do presidente têm jogado alimentos nos uniformes brancos, agredindo e xingando as pessoas que estão atuando no atendimento aos doentes. Tem que se tomar medidas urgentes de segurança dentro e fora dos hospitais, é primordial ter o máximo de cuidado com o pessoal hospitalar. 

Governos reacionários do Brasil e da Bolívia demitiram os médicos cubanos como um pré-anúncio do genocídio. Esses mesmos médicos são linha de vanguarda na Itália para combater o avanço do vírus. Ação que nenhum governo pode fazer, só os trabalhadores em seus esforços multiplicados que, muitas vezes, sacrificam a vida para proporcionar atendimento adequado são os atores principais desses dias de pandemia. 

A culpa dessa situação é totalmente de Jair Bolsonaro, que se comporta como uma criança mimada. Está comprovado que o senhor presidente não tem capacidade para governar. Minimizando a doença e colocando em risco milhões de pessoas, porque a cada besteira que fala confunde mais a população. Dentro dessa situação, muitos dos municípios ou estados estão tomando medidas que ultrapassam a federação com mais visão que o próprio presidente. Ou seja, há uma evidente insubordinação dos governantes que não reconhecem mais o que se fala desde o planalto. 

No Estado de São Paulo, os prefeitos da região do Grande ABC, que fizeram um plano para suspender totalmente a circulação de linhas de ônibus até o dia 29/03 estão em debate com o governador João Dória no sentido de manter ou não o funcionamento do transporte público municipal. O governo estadual também colocou todas as pessoas de forma obrigatória na quarentena, não apenas a classe média, como se anunciou nos primeiros dias com os fechamentos dos cinemas e teatros. Sem essa medida, os munícipes da região continuariam pegando o transporte lotado para ir trabalhar todos os dias. 

Outro exemplo é o governador do Pará, Helder Barbalho, que gravou um vídeo no sábado (21/3) reclamando da atuação do presidente. O político paraense afirmou em um vídeo “Nós não temos nada contra o governo federal, nós não queremos agir contra o governo federal. Agora, nós não vamos ficar esperando o governo federal agir, nós vamos fazer o que cabe ao governo do estado e não vamos pedir licença para presidente, para ministro nem para ninguém para proteger os paraenses”, disse o governador do partido do Michel Temer, MDB.

Já o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, assinou um decreto estadual que pedia aval da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para barrar a entrada de voos internacionais e dos estados brasileiros com casos da doença, incluindo a ponte-aérea Rio-São Paulo. “Só fiz o decreto para que o governo tome ciência das medidas e, de uma vez por todas, acorde. É preciso olhar para o Brasil como um todo e parar com essa atitude antidemocrática, conversar com os governadores. Porque o que vai acontecer daqui pra frente, definitivamente, depende muito do que o governo federal precisa fazer”, afirmou o governador do Partido Social Cristão.

Ambos os governos são extremamente reacionário, mas, neste momento de pandemia, estão tomando medidas muito mais “progressivas” do que o governo nacional que não está articulando nada. É notória a crise de legitimidade e de direção. Ninguém mais respeita as decisões do “mito”, mesmo entre político que em outros momentos apoiaram a candidatura fascista, racista e misógina. 

Panelaços: o grito dos revoltados

Bater panela é uma prática velha na democracia brasileira. Em toda a história da América Latina esse barulho feito em objetos metalizados é sinônimo de indignação, um pré-anúncio de instabilidade política. 

No fora Collor, no fora Dilma e agora no fora Bolsonaro as panelas foram utilizadas como forma de protesto. Esse movimento já teve conotação mais à direita, progressista e um pouco de esquerda, mas sempre foi um sinal de que alguma coisa estava errada. Hoje, os panelaços nos bairros nobres das capitais também começam a chegar nas periferias, como se viu na favela da Rocinha (Rio de Janeiro) e em São Bernardo do Campo. 

Teve também as revoltas dos trabalhadores de telemarketing, um setor que é totalmente explorado e desvalorizado, que exigem que as empresas parem de funcionar. Um exemplo é a Atento Brasil que recusa liberar os funcionários e que não disponibiliza álcool em gel para higienização. A multinacional foi denunciada na sexta-feira (20/3) por obrigar os funcionários a trabalhar sem nenhum tipo de medida preventiva, além de estar funcionando com capacidade máxima. 

“Pedimos que a empresa trabalhe com capacidade reduzida, permita o home office e afaste os funcionários idosos e as grávidas, assim como outras empresas de telemarketing já estão fazendo. Essa é uma situação atípica e é importante que as empresas deem retaguarda aos seus funcionários. Conversamos com a Atento, que afirmou que preparará um plano de redução de 50% da capacidade de seus edifícios.” Informo Mauro Cava de Britto, vice – presidente do Sintetel para o jornal Agora.

O ato é importante, mas reduzir a equipe não vai resolver a situação da expansão do coronavírus. É necessário fechar as empresas que não são essenciais e, também, oferecer condições aos trabalhadores essenciais. Os salários precisam ser mantidos para as pessoas não morrerem de fome e para ficarem em casa sem ser contaminados com o novo vírus. Uma frase que está sendo muito utilizada e que é necessário repeti-la várias diversas vezes é “a economia se recupera, uma vida não”. 

Em defesa dos SUS e dos profissionais de saúde

O coronavírus mostrou para os brasileiros que o sistema que saúde pública é deficiente e precisa de investimentos. O Brasil tem um Sistema Único de Saúde (SUS), uma conquista aos trabalhadores, para quem não tem dinheiro para pagar um hospital particular. O SUS foi instituído pela Constituição Federal de 1988 para atender ao preceito constitucional que classifica a saúde como um direito de todos e dever do Estado. 

Um sistema de saúde que sofreu cortes em todos os governos desde sua criação. O investimento em saúde foi o menos priorizado nas últimas décadas. Hoje o capitalismo mundial tem como resultado um colapso social e econômico por não priorizar a saúde das pessoas. Quando o ministro da Economia Paulo Guedes chamou os servidores públicos de “parasitas“, estava falando de um setor de trabalhadores que hoje está dando a vida para salvar outras. Falas e políticas neoliberais são nefastos e precisam ser combatidos veementemente, pois pregam a defesa dos lucros antes da vida, essa concepção pode levar a um colapso sem pretendentes no país, na região e no mundo.

Em uma das entrevistas um dos tantos trabalhadores se apresenta como antípoda do que prega Bolsonaro “Sou da área de enfermagem, fiz meu juramento, não posso me furtar. É nessa hora que a sociedade precisa da nossa presença, do nosso trabalho, até para provar para o ministro da economia que parasita é quem sobrevive de dinheiro público, parasita são banqueiros, são ministros que enriquecem absurdamente com um dinheiro que nunca vão gastar na vida, nós não. Mesmo correndo risco de vida, estamos lá dentro dos hospitais para atender a população que precisar do nosso atendimento”.

Para dar conta dos gastos necessários para combater a epidemia, é preciso romper com a lógica ultraliberal que rege todo esse governo, é preciso suspender imediatamente o pagamento dos juros da dívida pública – que consome quase 50% do orçamento federal – e taxar as grandes fortunas para destinar toda essa verba para a saúde pública e para fornecer renda mínima aos desempregados e precarizados. 

Temos que sair na defesa incondicional dos trabalhadores da saúde nos próximos dias com campanhas para assegurar condições de trabalho, como os insumos hospitalares necessários para prevenir contágios, contratação de profissionais da saúde e compra de equipamentos necessários para salvar as vidas que estão em jogo. 

É necessário também garantir que todos os trabalhadores que não são essenciais fiquem em sua casa de quarentena, não apenas um setor da população, com  seus vencimentos integrais garantidos, não aceitaremos redução de salários, como está propondo o governo e alguns meios de comunicação da burguesia. 

Diante da pandemia é imperante chamar:

Fora Bolsonaro e Mourão! 

Eleições Gerais assim que passar o surto epidêmico! 

Um plano de emergência anticapitalista!

Só assim poderemos vencer essa pandemia com mobilização ampla das massas!