Mulheres correm mais risco no Estado do agronegócio

#Elenão: Protesto contra Bolsonaro em MS (Foto: Diario Digital)

Estupro coletivo seguido de morte. Uma jovem de 22 anos foi violentada sexualmente e em seguida assassinada por asfixia, por mínimo seis adolescentes entre 12 e 17 anos na região de Dourados Mato Grosso do Sul (MS).

Suelen Cerqueira, Vermelhas – Mato Grosso (MT)

Em meio a um canavial, mais um corpo de uma mulher, ensanguentado e violentado é encontrado. O crime ganhou conhecimento público nesse último domingo (1) em Dourados, (MS). A vítima foi Carolaine Espíndola de 22 anos, indígena da etnia Kaiowa. Após término de uma festa regada a álcool, inclusive a menores e sem fiscalização policial. A vítima foi impedida por um grupo de 6 adolescentes de regressar a casa no sábado, e foi arrastada até um canavial, onde foi barbaramente violentada e assassinada.

Esse é mais um crime que escancara a dura realidade de violência a mulheres no estado do Mato Grosso do Sul, onde os casos de violência de gênero aumentaram consideravelmente nesses poucos meses de governo Bolsonaro. Os números oficiais de homicídios dolosos contra a mulher em 2019, já são maiores do que em todo o primeiro semestre do ano passado e anterior. Sem programas de combate e prevenção eficiente, existe principalmente no campo um descaso absoluto do poder público, que leva a permitir que até mesmo homens em tão tenra idade cheguem a cometer atrocidades como essas, contra as mulheres.

No estado onde o agro é pop, onde o agro é tudo, o machismo e a cultura do estupro fazem parte do cotidiano das mulheres, (trabalhadoras, negras, migrantes e indígenas) somos cerceadas de nosso direito à cidadania e à vida plena, com nossas rotinas limitadas por nossa condição de gênero, produto de uma sociedade machista e quase feudal como é o caso Mato Grosso do Sul.

As mulheres do campo, das aldeias e das cidades de pequeno, e médio porte como a do caso de Dourados, não estão seguras. São obrigadas a conviver com uma mentalidade masculina extremamente atrasada, conservadora e objetificante, onde os casos de violência brutal, como o de Carolaine, se encerra em uma discussão puramente acusatória e personalizada. Em relação aos casos de abusos e estupros, invariavelmente as autoridades locais atribuem esses crimes à ações isoladas e não como um problema social e político.

MS em conluio com o governo Bolsonaro que defende o agronegócio acima da vida das mulheres

O Mato Grosso do Sul, apesar de ser um estado com uma das maiores rendas per capita do Brasil, ocupa proporcionalmente o primeiro lugar no percentual de estupro e é o sexto com maior índice de feminicídio do país. Esses dados são frutos de um levantamento da Secretaria de Segurança Pública, que ainda pontua redução de mil casos, comparado a dados de 2017, ano em que o índice de violência contra a mulher aumentou exponencialmente em o todo o país.

Em entrevista a um grande portal de notícias, até mesmo a juíza Jacqueline Machado ligada a área de gênero se monstra estar impressionada, são uma média de 600 boletins de ocorrência por mês, 3.500 medidas protetivas diz ela, para nós, isso prova que mesmo se o trabalho de repressão fosse eficaz, o que não é, ele sem um conjunto de medidas principalmente de proteção a vitima desde o primeiro momento da denúncia, não basta para a violência não diminuir.

São casos de mulheres que morreram simplesmente porque terminaram seus relacionamentos ou por quererem fazê-lo. Homens que matam porque desprezam a dignidade da mulher como um ser humano dotado de subjetividades e direitos. É a posse sobre a mulher, oriunda do mais puro machismo colonial, infelizmente, ainda muito enraizado em toda a nossa sociedade.

Não é coincidência é falta de compromisso com a vida das mulheres

Uma adolescente de 17 anos relatou a policia que os envolvidos no assassinato de Carolaine também tentaram estupra-la em outra ocasião, além disso, no sábado o grupo havia tentado dominar a outra jovem, uma adolescente de 13 anos, junto com Carolaine. A menor fugiu, mas Carolaine não conseguiu escapar e foi arrastada até o canavial. Por isso por algum acaso, não estamos falando da perda da vida não de uma, mas de três ou mais mulheres. Não há coincidência nisso, mas sim liberdade e impunidade machista que propiciam violar e matar mulheres.

O caso segue em andamento e os criminosos passaram pela Vara da Infância e Juventude na já foram encaminhados para a Unei (Unidade Educacional de Internação) de Dourados, mas isso não é o suficiente, porque não evitará que dentre alguns dias ou até mesmo horas outra mulher seja vítima. Ou seja, as mulheres necessitam de políticas públicas integrais de repressão e prevenção a violência de gênero!

Não pode ser que em um dos estados de maior desenvolvimento econômico do país, e
exista quase 40 mil casos por ano de violência contra a mulher, é no minimo cinismo dizer que o estado não tenha dinheiro para investir em medidas integrais, socioeducativas e de combate a violência de gênero.

Combinar exigência e luta

É necessário exigir imediatamente o combate direto a violência que as sul mato-grossenses estão submetidas, principalmente por que a população do campo e cidades contra a adesão ao discurso misógino do governo federal, discurso que infelizmente tem tido muita eficácia no estado do agroboi. Para que se tenha uma ideia, Bolsonaro teve uma média de aprovação de 70% em 69 dos 70 municípios do estado. É nessa região do agronegócio onde o discurso machista e misógino de Bolsonaro mais ecoa.

O Mato Grosso do Sul já possuía índices preocupante sobre a questão da violência de gênero, historicamente tão recorrente no estado contra crianças, meninas e mulheres. Para combater isso é necessário que luta das mulheres se coloque em marcha, encarrando de frente o problema, para reverter o quadro tão dramático de violência contra nossos corpos e a letalidade em ser mulher em nosso nessa região.

Para que isso ocorra, é urgente que as mulheres, assim como protagonizaram diversas lutas em diferentes cidades do estado contra Bolsonaro e seus cortes na educação e a reforma da Previdência, e sua importante expressão local do grande movimento #EleNão, ocupem
 às ruas e todos os espaços de poder, para que não sejamos somente destinatárias das políticas públicas regida por homens brancos, por coronéis e detentores do capital, mas que sejamos a força e a potência na construção de políticas públicas que nos tirem do ciclo de violência o qual estamos sujeitadas, tanto de forma física, como de forma simbólica, reforçando que nossa luta é por uma sociedade livre de violência contra as mulheres.

É fundamental o fortalecimento da luta das mulheres em nossa região, pelo fim da cultura do estupro, e de toda forma de violência. É questão de sobrevivência de muitas, que caminhemos na direção de um projeto político feminista e socialista em que sejamos protagonistas. Pois somente, pela via de um processo intenso de politização, mobilização e radicalização nas ruas do nosso estado, é possível pôr fim a violência machista e ao papel social que nos é designado hoje.

Abaixo a cultura do estupro!

Livres e vidas!

Luta contra violência de gênero não se esgota na punição do agressor.

Fora Bolsonaro e seu governo misógino!