Greve na FIAT contra a obscenidade empresarial

Milionário repasse de Cristiano Ronaldo

CRISTIAN ERRE

No âmbito de um atípico Campeonato Mundial de Futebol, no qual os principais candidatos e suas grandes figuras estavam fora de competição antecipadamente (com exceção do selecionado francês  e suas jovens estrelas de ascendência africana), começa a adquirir maior importância o mercado de passes regidos pelo recesso europeu.

O abalo indiscutível e o ponto forte deste verão boreal foi a notícia de que, após 9 temporadas, 4 Liga dos Campeões e mais de 450 gols Cristiano Ronaldo deixa o Real Madrid para ir para a Juventus. Tal contratação, impressionante do ponto de vista do futebol, não só chama a atenção pelas questões esportivas. A transação custará a quantia não desprezível de aproximadamente 350 milhões de euros entre os 112 milhões para o passe, mais os 240 milhões para os quatro anos de contrato. Número recorde no futebol italiano. Uma euforia foi desencadeada em todo o país devido à incipiente incorporação da estrela portuguesa à Serie A, e para esquecer o fracasso da não qualificação para a Rússia 2018. Embora, também, tenha encontrado resistência em alguns trabalhadores do Grupo FIAT.

E o que isso tem a ver com os trabalhadores da FIAT? Simples O presidente da Juventus, Andrea Agnelli, é junto com sua família, principal e histórica acionista e diretora do grupo automotivo  italiano.
É a partir desse escandaloso e obsceno “o movimento do mercado”, que os trabalhadores da FIAT Melfi SATA (planta na região sul da Itália, inaugurada na década de 90 e de tecnologia avançada) agrupados no USB (Unione Sindicale di Base) oposição a sindicatos tradicionais, se manifestaram através de uma declaração rejeitando esta situação entendendo que “é inaceitável que enquanto a empresa está pedindo aos trabalhadores enormes sacrifícios em termos económicos, decida gastar centenas de milhões para a assinatura de um jogador de futebol “. Após isso, foi decretado uma greve a partir de domingo desde as 22 horas até as 18h de terça-feira, dia  17. É digno de nota que a Fiat Melfi produzia, dentre vários modelos de diferentes marcas do grupo, o FIAT Punto, que será descontinuado. . Por essa razão “Há 1.640 trabalhadores despedidos.  Na semana passada firmou-se um acordo entre a Fiat e os sindicatos para liquidar o fundo de desemprego e o contrato de solidariedade: 5857 trabalhadores que trabalham por turno terão uma redução no número de horas e salário.” (1)

Os trabalhadores da indústria italiana, entre as quais a indústria automotiva se destaca, vêm sofrendo duros cortes em sua qualidade de vida. É que os ataques às conquistas históricas do movimento operário e dos setores populares foram cada vez mais brutais nas mãos dos partidos tradicionais de direita ou de “esquerda”, e seus governos, todos pró-União Européia. Todos eles patrocinados e apoiados pela burguesia italiana, que continuaram a se beneficiar da remoção de direitos para os que estão abaixo. Ajustes e planos de austeridade que, por outro lado, não pretendem tirar da mão do atual governo de coalizão entre o movimento Lega e Stella, que só promove a deportação de imigrantes como saída para o momento atual.

É neste marco que a medida anunciada pelos trabalhadores do grupo industrial líder no país, pode se tornar uma ponta de lança que desafia tal euforia pelo auto-denominado “golpe do século”, e gera a possibilidade de contágio do resto dos trabalhadores da península. Compreendendo que o desporto e especialmente o futebol, passional como ele é, não deve ser aceito como uma cortina de fumaça para fazer indigesta qualquer manipulação sobre as condições de vida da grande maioria. Que a obscenidade e brilho dos montantes movidos por empresários e magnatas entre contratações, contratos de TV e publicidade, enquanto se empurra milhares e milhares à miséria e à barbárie não pode ser considerada como normal, e a condenação disso pode gerar um novo caminho de unidade dos de baixo. Dependendo da evolução da medida, conhecendo os obstáculos que significam as distintas centrais burocráticas a respeito da organização dos de baixo, pode-se  dar passos para recuperar o terreno perdido. E desse modo, que o futebol novamente seja uma ocasião de prazer na vida, e não um placebo às custas dela.

(1) https://www.ilpost.it/2018/07/11/melfi-fiat-fcs-cristiano-ronaldo/

 

Tradução: José Roberto