Governo Doria mente sobre dados de feminicídios em SP

João Doria (PSDB). Foto: Adriano Machado/Reuters

O Governador de São Paulo, João Doria, entregou dados fictícios as instituições de pesquisa sobre número de feminicídios do ano passado. Governador parece ter tido o objetivo de maquiar o crescimento dos casos de feminicídios no estado. Falta de seriedade, má-fé? Ou as duas coisas?

Rosi Santos – Vermelhas

Dados apresentados essa semana pelo governo paulista sobre violência contra mulher são extraoficiais e falsos. O levantamento foi enviado a órgãos de pesquisa e estudos da temática. Porém, os números apresentados surpreenderam entidades que, ao notar a irregularidade, os questionaram e a não publicação do relatório na página oficial da Secretaria de Segurança Pública (SSP), obrigando o governo a divulgar os reais dados por meio de publicação oficial na página da SSP.

Os dados trazem um aumento vertiginoso dos casos de feminicídios em São Paulo. Entre janeiro e julho de 2018, uma média 227 assassinatos de mulheres no estado e não 71 como diz o documento apócrifo do governador João Doria. Estamos falando de um aumento de 220% de mulheres que perderam a vida por violência machista na capital econômica do país.

Governo Doria agiu de má-fé e deve ser responsabilizado

Até o momento, procurados responsáveis pela apuração e divulgação de dados da SSP, não souberam informar a razão pela qual os dados apresentados inicialmente estavam abaixo do número real e nem sobre a metodologia não oficial empregada na entrega do relatório.  Além disso, a última atualização dos dados na página havia sido feita somente em dezembro de 2018. Ou seja, considerando que são dados que representam período anterior a um ano da publicação, vemos que durante esses nove meses de gestão Doria, o governo estadual trabalhou com dados antigos, isso se tratando de um “erro” no âmbito de políticas públicas fundamentais para a prevenção da violência e defesa da vida das mulheres, por si só é um crime monumental.

Esse crime denota não apenas a pouca ou nenhuma preocupação sobre a segurança das paulistas, mas o que é o mais grave chama a atenção sobre como foi utilizado o orçamento, já tão escasso para as precárias medidas de combate a violência de gênero.

A incompetência na gestão pública de Doria é tão grande que transborda

O Secretário Executivo da PM (Polícia Militar), coronel Álvaro Camilo, ao ser perguntado pela imprensa sobre o ocorrido, deu uma resposta aparentemente séria, mas com o conteúdo cheio de escárnio, diante do problema. Sobre o trabalho da equipe técnica da Secretaria, o secretário disse que “é possível chegar aos dados pelo perfil dos homicídios. Vamos rever os dados do ano passado e não há problema nenhum em corrigir os dados”. E que se fosse o caso, iriam corrigir todos os dados do ano passado, “vamos até estudar uma forma de apresentar melhor isso” concluiu.

É esse o nível de descaso em que estão submetidas as mulheres pelo poder público. São mortes diárias, que ficam por isso mesmo. Para se ter uma ideia, ontem pela manhã, nem bem havíamos processado esse escândalo envolvendo o governo de Doria, já era notícia mais um caso de feminicídio, dessa vez na região do Capão Redondo: Taynara Cristina dos Santos de 30 anos, mãe de três filhos, foi assassinada a tiros pelo ex-marido; o homem ameaçava matar além da mulher, dois filhos da vítima de um relacionamento anterior.

Taynara foi alvejada ao se atirar diante de uma das crianças para protegê-la. Dessa maneira, as mulheres estão sendo obrigadas a conviver com níveis absurdos de violência e insegurança, tendo em vista que os casos de feminicídio aumentaram em todo o país desde que assumiu a presidência o misógino e protofascista Jair Bolsonaro.

João Doria, apesar de negar tem um alinhamento estratégico eleitoral com as políticas de Bolsonaro, quer ganhar parte de seu eleitorado mais nefasto. Dessa maneira, a tentativa de manipulação dos dados está longe de ser um acidente ou caso isolado, mas sim uma política orquestrada por Doria junto a Secretaria de Segurança Pública comandada pela Polícia Militar (PM) do estado, com o único objetivo de encobrir a realidade de medo e violência das mulheres trabalhadoras.

Ao se ter conhecimento de seu intento de falsificação, Doria, que adora uma aparição pública, não se manifestou sobre o escandaloso caso. Atitude bem diferente daquela quando mandou recolher o material didático das escolas sobre identidade de gênero. Tanto a retirada dos materiais de discussão de gênero das escolas públicas como esse golpe contra as mulheres são atuações políticas que se alinham com o projeto liderado por Bolsonaro.

Não vai ser tão fácil assim o governador sair incólume desses dois casos. Apesar de haver ainda muitos debates a justiça já determinou a ilegalidade da retirada do material das escolas e Doria tem que explicar a população e, principalmente as mulheres, sobre suas motivações em fraudar dados de violência contra a mulher. Especialmente porque entre as suas principais promessas de campanha foi a de redução da violência de gênero, com a entrega de mais Delegacias da Mulher e a criação de um aplicativo de socorro policial, que foram as mais alardeadas, pelo suposto político fora do establishment. Doria, inclusive, fez questão de comparecer pessoalmente a inauguração de muitas das delegacias depois de eleito, arrancando cedo sua campanha a presidência em 2022.

Muita demagogia barata. O fato é que, tudo o que está relacionado ao enfrentamento a violência contra as mulheres, deveria ser tratado primeiro como coisa séria. No entanto, graças as mentiras e exibicionismo elitista do governador empresário e seu lobbysmo na política, as mulheres estão jogadas a sua própria sorte, sendo vítimas da violência machista diariamente no estado.

Além da gravidade desse evento pontual, o descaso já vem de antes, pois as únicas “grandes” políticas do governador para a área foram a criação de 10 novas Delegacias da Mulher e do aplicativo “SOS Mulher” – que serve para a mulher chamar a polícia com um único toque em situações extremas – ambas medidas indubitavelmente insuficientes.


Doria é um empresário que representa iniciativa privada, ponto. O projeto do aplicativo, por exemplo, foi realizado em parceria com setor privado e isso foi o carro chefe da publicidade do governador, e não a função do aplicativo. Ou seja, nem mesmo ele acreditava na potencialidade desse tipo de tecnologia diante da complexidade que envolve a violência cotidiana contra as mulheres.

Esses paliativos não resolvem problemas estruturais da sociedade. Um aplicativo não salvou a vida de Taynara, que tentava se libertar de uma relação abusiva e violenta há anos, sem o acompanhamento adequado dos governos. E quando o Estado falha há muito menos a se fazer depois de uma tragédia consumada.

Atualmente existem somente 133 Delegacias da Mulher, entre elas apenas sete funcionam 24h. Esse número não comporta e não pode nem atender a realidade populacional em São Paulo de mulheres que representam a maioria da população, cerca de 5.924.871 milhões, espalhadas por todo o estado. Tão pouco se trata de encher a cidade de Delegacias da Mulher, mas possuir medidas efetivas, voltadas não somente a repressão, mas a prevenção, verdadeiramente planejadas e adequadas à realidade das paulistas.

Nenhuma confiança em Doria e seus governo machista!

A tentativa de manipulação de dados relacionados a violência contra mulher, principalmente feminicídios, por parte do Estado é gravíssima e deve ser amplamente repudiada. Pois, além de denunciar que não existe uma política sistemática de enfrentamento direto as causas e efeitos desse tipo de violência, se tentou ocultar dados fundamentais que implicam diretamente na criação ou não de mais ações de combate e prevenção, que poderiam evitar que mais companheiras sigam morrendo.

Já denunciamos em outras matérias sobre a dupla violência que as mulheres trabalhadoras, em sua maioria negras e periféricas, sofrem quando são negligenciadas dessa maneira pelo Estado. Assim, o Estado burguês, machista e patriarcal, por meio da omissão e descaso é conivente e ajuda a tirar a vida de mulheres todos os dias em nosso país, deixando famílias dilaceradas, como no caso de Tayanara e de muitas outras, filhos órfãos de mães assassinadas pelo próprio pai, amigo, tio ou outros parentes, que levarão as consequências da dor e do estigma causado pela a violência patriarcal, para toda a vida.

Por isso necessitamos urgente de um plano de lutas unificado entre os diversos coletivos e frentes feministas para enfrentar com um só punho o aumento assustador dos casos de feminicídios em nosso país, impulsionado pela política de Bolsonaro de apologia ao uso de armas e seu discurso de ódio e misoginia constante. Somente uma exigência contundente nas ruas por meio da organização das próprias mulheres será capaz de mudar essa realidade.

Foto de Taynana de uma de suas redes sociais.

Justiça por Taynara!

O estado é responsável!

Auxilio estatal a família e principalmente filhos!

Fora João Doria e sua política bolsonarista para São Paulo!

Livres e vivas! #NenhumaMenos!


Uma nova expressão da rebeldia feminista esta por ser lançada:

Lançamento do Manifesto Feminista e Socialista Vermelhas, nesse dia 14, sábado.


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