A força revolucionária da luta feminista é mundial

LUTAR JÁ NO BRASIL CONTRA OS ATAQUES AOS NOSSOS DIREITOS DEMOCRÁTICOS

Por Sara Vieira

No que pese as desigualdades, o movimento feminista em escala mundial passa por um ascenso histórico. Em várias partes do mundo as mulheres têm desenvolvido lutas de impacto nacional e internacional, organizado movimentos de grande amplitude e obtido conquistas não menos importantes. Mesmo quando não se obtém uma vitória imediata, como foi o caso da legalização do aborto na Argentina, o movimento ganha em organização, conquista mais posições políticas, amplia suas ações e se constitui como um catalisar das demandas de todos os oprimidos e explorados da sociedade.

O movimento feminista no Brasil, assim como nas outras partes do mundo, constitui-se como polo de resistência aos ataques neoliberais da direita, aqui representada pelo governo Temer e seus aliados. Nosso movimento, coloca-se como o contraponto mais dinâmico na luta contra os retrocessos aos direitos democráticos e na luta por outras conquistas,  dentre elas: o combate ao feminicídio, à violência sexual e pela legalização do aborto.

Vários são os ataques às mulheres no país. A crise financeira, seguida da “reforma trabalhista” e do avanço do discurso reacionário precarizaram ainda mais a situação das mulheres no mercado de trabalho e aumentaram a violência contra as mulheres negras e pobres.  O noticiário apresenta diariamente casos de mulheres assassinadas por seus companheiros. O feminicídio é praticamente uma epidemia que se alastra e manifesta de forma corriqueira com o avanço do discurso fascista, machista e misógino presente no atual contexto nacional, e defendido e encarnado inclusive pelo candidato a presidência Jair Bolsonaro e seus apoiadores.

Apesar deste cenário desfavorável para as mulheres, sua organização se amplia e suas pautas têm ganho espaço no debate nacional. Resistimos à PEC 181 no ano passado, estivemos presentes em todas as manifestações contra o impeachment de Dilma, nos atos Fora Temer, contra a reforma da previdência, em solidariedade à luta das mulheres argentinas, na cobrança de justiça por Marielle, na defesa da ADFP 442 que  tramita no supremo e prevê a legalização do aborto no Brasil e agora na disputa eleitoral, mostrando que há várias formas de resistência e luta, ao  lado dos trabalhadores e da juventude.

Como é notável, a luta do movimento de mulheres no Brasil ainda não chegou no patamar da luta das mulheres na Argentina, mas é parte do fortalecimento da luta feminista em todo o mundo. Em nosso país, como ainda não temos um alcance de massa e vivemos uma conjuntura de ataques reacionários, precisamos pensar como em nosso contexto podemos ampliar nossa organização e mobilização para enfrentar os problemas e construir estratégias de luta para combater as duras expressões do neoliberalismo e do patriarcado no Brasil.

Em nossa visão, para que o movimento feminista se amplie e ganhe contundência no Brasil, é preciso construir ainda mais o feminismo de luta nas ruas. Nesse sentido, é preciso desenvolver um reflexo político segundo o qual, diante de casos de feminicídio, de violência contra as mulheres, de desigualdade social e de mortes decorrentes da ilegalidade do aborto coloquemo-nos imediatamente em mobilização.

Em relação à atual conjuntura, diante do fortalecimento político-eleitoral do neofascismo no Brasil, que se apresenta em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos e tem chances de ir ao segundo turno, o movimento feminista, a Marcha Mundial de Mulheres e todas as organizações feministas, precisam, no que pese as profundas diferenças com o lulismo, ocupar as ruas para levantar suas bandeiras e denunciar o ataque ao direito democrático que significa a ilegibilidade em Lula, o assassinato de Marielle, a precarização do trabalho das mulheres além de outros ataques.

Companheiras, não podemos esperar o final das eleições, é preciso ter política pra as urnas e para as ruas!

Essa é uma hora decisiva para construirmos a unidade com o conjunto do movimento político da classe trabalhadora, sindical e popular para levarmos concretamente para as ruas a bandeira de que Fascistas, machistas e racistas, não passarão!

Feminismo socialista nas urnas e nas ruas!!

 

DEBATE NA EUROPA SOBRE O MOVIMENTO DE MULHERES

Por Las Rojas Europa

Esta semana se realizou uma nova edição da Universidade de Verão do Novo Partido anticapitalista  (NPA) da França, eu sua sede balneária de Port Leucate,  a qual participaram cerca de mil militantes e simpatizantes do partido.

Nós do Socialismo ou Barbárie Europa, participamos com uma delegação de companheiros e companheiras  que organizaram a conferência “As mulheres e a ofensiva no mundo”,  da qual participou nossa companheira de Las Rojas, Carla Tog como palestrante, analisando a experiência recente do movimento de mulheres na Argentina, junto com as palestrantes Monica Casanova do Chile, Laia Facet  da Espanha e Louise Roc da França.

No início de sua exposição, Carla Tog ressaltou: “Assistimos a um renascer feminista nos últimos tempos, porém, este movimento não nasceu por arte ou magia, nem por geração espontânea. Para nós, este movimento tem um impulso anterior, uma história prévia e talvez, o caso da Argentina possa servir de exemplo para abrir o debate”.

E acrescentou: “hoje existe um movimento de mulheres que é mundial e que chegou para permanecer e isso é uma grande novidade, porque é o principal movimento mundial que existe, coordenando lutas e transmitindo  experiências que transpassam as fronteiras.”

Algo que se notou constantemente nas diferentes intervenções   foi o fato  de concordarem na globalidade do fenômeno,  que somente nos últimos dois ou três anos conta com grandes experiências, como a de “Ni uma Menos” da Argentina [1], o movimento Anti-Trump nos Estados Unidos, a greve de mulheres na Polônia, o referendo pela legalização do aborto na Irlanda, a resistência das mulheres kurdas, entre tantos outros a nível internacional.

Este ano, a luta das mulheres argentinas pela legalização do aborto significou um dos elementos “mais empolgantes na situação internacional”, como destacou Christine Poupin, porta-voz do NPA, no fechamento do encontro na universidade.  Isto se deve ao surgimento de uma nova geração feminista que entra em cena com toda sua juventude e potencialidade constituindo-se em um dos principais contrapontos positivos a uma situação mundial de giro à direita e de instabilidade.

Na Argentina, em particular, o movimento feminista obteve pela primeira vez, uma grande vitoria, conquistar o apoio da sociedade que se manifestou de forma ativa nas ruas, com marchas massivas e vigílias pela obtenção do direito das mulheres decidirem sobre seus próprios  corpos.  Porém,  existe uma minoria que denominamos como a “coalizão obscurantista”, entre os quais se encontra nada a menos do que o governo de Macri, as igrejas católicas e evangélicas, os deputados conservadores, os dinossauros do senado e os grandes meios de comunicação, todos representantes da classe dominante capitalista que busca perpetuar a opressão às mulheres em benefício próprio.

Uma coalizão obscurantista, retrógrada a quem a Las Rojas tem declarado guerra,  porque sabemos que para obter nossos direitos, é necessário lutar e enfrentar de frente esse inimigo poderoso que não facilitará em nada. O exemplo mais claro disso foi posto pelas companheiras francesas que mencionaram a geração de Maio de 68, como as responsáveis por conseguir obter a legalização do aborto na França a custas de imensas manifestações.

Os diferentes exemplos e experiências de luta que compartilhamos neste encontro foram muito importantes para pensar questões centrais sobre a construção de um movimento de mulheres de massas. Neste sentido, se destacaram experiências de autoorganização, de lutas por casos concretos contra a violência sexista e os feminicídios,  e do significado enorme da luta pela legalização do aborto.

Por estes motivos, os avanços em cada um dos países citados, nos colocam enormes desafios e possibilidades. Porque quando o movimento de mulheres identifica com clareza seus inimigos, denunciando a todo o Estado e a justiça patriarcal, permite desenvolver a consciência, que quando avança não volta atrás. E é esta possibilidade que contem toda a potencialidade revolucionária se o movimento consegue identificar claramente seus aliados naturais na classe operaria. Uma aliança que pode resultar estrategicamente numa batalha decisiva para conseguir todos os direitos e por mudar toda a sociedade.

[1] Ver: “ni uma menos” em Universidade de Verao de NPA 2017: HTTP://www.socialismo-o-barbarie.org/?p=10239