FINAPOP: Programa do MST propõe inovar na linha de crédito a agricultura familiar no Brasil

O fundo de investimento Financiamento Popular para alimentos saudáveis, definido pela sigla (Finapop), apresentado pelo economista Eduardo Moreira em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), no último sábado (16), tem como objetivo financiar a produção de alimentos saudáveis. Linha de crédito promete se contrapor a modelo de investimento de bancos tradicionais.

Gleidson Mariotto e Rosi Santos

A nova linha de crédito, é um modelo mais popular de financiamento, que investirá em projetos de produção realizados por cooperativas de todo o país. Com porcentagem de 5,5%, tanto para financiador, como para quem acessar o fundo, são juros bem menores do que aqueles aplicados por bancos públicos e privados atualmente, e quem fizer o investimento poderá ter uma lucratividade bem próxima da proposta pelos mesmos.

O modelo de crédito tradicional brasileiro é uma verdadeira maquinária de lucro para banqueiros ou grandes financiadoras. O pequeno investidor, além de ter que superar uma burocracia absurda para acessar esse tipo de mercado, recebe valores baixíssimos, prejudicando a economia solidária e mantendo a hegemonia econômica dos grandes bancos.

Por isso, o Finapop pode significar um avanço para a economia solidária e preço justo na comercialização de mercadorias agrícola, além de dar maior poder de abrangência ao consumo de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos, produzidos pelos trabalhadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, entre outros.

O modelo de investimento baseia-se no Triodos Bank, um banco de grande sucesso, criado na Catalúnia. Nele, é possível saber, exatamente, onde o seu dinheiro no banco está sendo usado, e nesse caso falamos de todo o dinheiro da população que fica no banco, como as poupanças por exemplo. Nesse novo modelo o dinheiro das cooperativas e do pequeno produtor, poupado ao longo de uma vida, servirá para gerar riqueza sustentável, ao invés de financiar a produção de armas, do agronegócio, da indústria agrotóxica e de outros grupos econômicos antagônicos aos interesses da população.

O capital gerado pelo setor será sempre investido em empreendimentos relacionados a agricultura familiar e cooperativista, que são hoje os maiores produtores orgânicos do país, afinal, “o mercado financeiro deveria existir para unir as riquezas e permitir que as pessoas que não têm capital, tenham acesso ao capital momentâneo para produzir riquezas,” como disse o economista Edu Moreira, parceiro do MST, no lançamento do fundo.

Com o crescimento populacional e aumento da tecnologia, vem diminuindo-se assustadoramente o trabalho no campo. A automação do campo é o carro chefe do agronegócio, que gera desocupação de milhares de campesinos, além da terrível degradação ambiental.

Pois de acordo com João Pedro Stédile, liderança nacional do MST, a distorção e desiquilíbrio da natureza vem gerando novas doenças, cada vez mais letais, como o covid-19 e o h1n1 que possue casa relacionada a essa irracionalidade ambiental e animal. A grande dificuldade atualmente para girar essa chave é que, apesar da produção de orgânicos ser grande, ainda há falta de beneficiamento para os setores sustentáveis do mundo agrícola.

Entre uma das dificuldades está a pouca capacidade distribuição dos alimentos pelo país. Sendo necessário maquinários e insumos que encarecem em demasia toda cadeia produtiva ao não conseguirem circular a produção. Sendo linhas de crédito como estas, importantes aliados da produção agroecológica e uma alternativa que atenua o êxodo rual o desemprego e a fome no campo.

A agroecologia, como bem coloca o MST, é um modo de vida que os camponeses adotam gerando novas relações sociais, com a natureza e com o trabalho, atuando coletivamente, promovendo outras relações do gênero, onde o ser humano deixa de decidir tudo e a natureza também é um sujeito.

Um aspecto político e de vivência humana importante, que enfrenta a lógica atual de ocupação do campo deixando em evidência a necessidade de que terras sejam disponibilizadas, não só aos trabalhadores do MST e pequenos produtores, como a outros trabalhadores rurais, sem terra e agricultores indígenas.

Para além das criticas que temos com relação aos limites dessa proposta, na medida em que não enfrenta de maneira coletiva e organizada politicamente o modelo exploratório capitalista, da natureza e da economia, fazendo apenas um contraponto a ela, não podemos ocultar que a situação atual de investimento e de linhas de crédito ao pequeno produtor é absolutamente injusta, e que é necessário encontrar alternativas a este modelo hegemônico de economia.

O Brasil é o país com a maior concentração de terras do mundo, e medidas como essa, apesar ter pouco ponto de contato entre a mão de obra campesina e operária em movimento, sem dúvidas servem para atenuar essas desigualdades e dar mais centralidade aos trabalhadores do campo, que são os verdadeiros representantes do uso sustentável dos seus recursos naturais, e com a soberania alimentar.

O fundo de investimento já está disponível, e,  como falamos anteriormente, apesar de suas limitações, pode ser um incentivo importante para recuperação econômica de pequenos agricultores e cooperativas de trabalho afetadas nesse momento de pandemia.

Estabelecer e viabilizar os meios necessários para produção de alimentos saudáveis, sem a exploração predatória e insalubre do trabalho e do próprio meio, pode ser um caminho para minimizar as desigualdades sociais e por fim a exploração irracional do homem sobre a natureza.

*Dúvidas e maiores informações sobre o fundo no email:  contato@finapop.com.b