CONTINUA A REBELIÃO NA CIDADE CHINESA

Hong Kong: Manifestantes ocupam o Conselho Legislativo

Hoje, 1º de julho, dezenas de milhares de pessoas marcharam ao Parlamento local durante o 22º aniversário de passagem Hong Kong para a China, e centenas ocuparam o prédio do Conselho Legislativo. Ação que ocorreu dentro do contexto das massivas manifestações contra o projeto de lei de extradição de condenados para a China continental.

Por Nano Menyón

Durante todo o dia, dezenas de milhares de pessoas se mobilizaram rumo ao Conselho Legislativo de Hong Kong (equivalente ao Parlamento da cidade) no marco do 22º aniversário do acordo entre China e Reino Unido, que oficializou a passagem de Hong Kong para Pequim, sob o método “um país, dois sistemas”.

Durante a manhã houve uma tentativa de ocupar, pouco depois das 18h local a polícia emitiu um “alerta vermelho” para a região do Parlamento com a ordem de evacuação da área. No entanto, os manifestantes se mantiveram firmes diante dos seguidos ataques da polícia.

Lá pelas 21h local, os manifestantes conseguiram tirar os bloqueios e entraram no prédio, e centenas de pessoas ocuparam o recinto da Câmara. Entre eles ganhou força a ideia de ocupar o Conselho durante toda a noite.

Esta manifestação ocorre todos os anos nessa data em defesa do direito de eleger o Governo Local (o direito ao voto é muito restrito). Este ano, no entanto, os protestos ocorrem em um momento de radicalização, pois há um mês a cidade se encontra mobilizada contra o projeto de lei para a extradição de condenados de Hong Kong para a China. Foram os protestos com mais adesão na história da região, maiores que a “Revolução dos Guarda-chuvas” de 2014. A repressão policial foi brutal e se fala de ao menos um morto. No entanto, isso fortaleceu os protestos e no dia 15 de junho e Carrie Lam, chefe do governo, suspendeu o projeto (não é uma retirada, porém é uma importante vitória parcial). Nesse dia, mais de 2 milhões de pessoas se mobilizaram sob uma bandeira muito clara: a renúncia de Lam da presidência do governo local. 

Estes protestos não são apenas maiores do que os de 2014, mas também mais combativos: fruto da experiência acumulada na Revolta dos Guarda-Chuvas, decididamente os protestos ocorreram em repudio e para se enfrentar com a repressão policial. Efetivamente, a ocupação do prédio do Parlamento tem, se não a aceitação, ao menos a compreensão geral dos manifestantes.[1]

Por sua vez, os protestos em Hong Kong não contam com uma direção clara, são convocados de maneira descentralizada, com forte presença das redes sociais e de foros online. Os partidos “pan-democráticos” nem sequer podem trair para evitar que o movimento ultrapasse as direções. Isso explica também a aceitação entre os manifestantes hongkoneses de medidas radicalizadas: Um jovem, declarava-se compreensivo diante dos mais radicais. “Este é um movimento sem líderes, cada um faz o que parece que deve fazer para pressionar o governo e a China. Se eles querem fazer dessa maneira, que façam”.[2]

No entanto, o forte grau de descentralização e a falta de direção provocam um panorama ideológico confuso em que milhares de pequenos grupos auto-organizados debatem em pé de igualdade, tanto à direita quanto à esquerda. De fato, o grupo que ocupou o Conselho o fez sob a bandeira do Protetorado Britânico em Hong Kong, e muitos são os que saem às ruas com essa bandeira.

De qualquer forma, o certo é que os protestos iniciados em junho estão radicalizando-se. No futuro veremos se os governos de Carrie Lam e Xim Jimping conseguem ou não conter essa crise, se os protestos vão para a direita xenófoba, ou se pelo contrário, vão para a esquerda, tomando como suas as reivindicações sociais e se expandem (ou não) para a China continental.

Tradução: Antonio Soler

[1]Verhttps://elpais.com/internacional/2019/07/01/actualidad/1561960214_483533.html

[2]Ver ídem.