Colômbia: panelaços e saques contra a fome

Os habitantes das favelas das principais cidades da Colômbia protagonizaram nas últimas horas panelaços e novas tentativas de saques.

Luiz Licht

Os protestos se multiplicam, reivindicando pela falta de ajuda dos governos diante da escassez de alimentos, diante da fome que ocorre no contexto de quarentena para combater o coronavírus. Lembremos que lá, o confinamento começou em 25 de março e deve terminar em 27 de abril.

Os saques ocorreram pelo menos desde o último sábado em diferentes cidades, como Medellín, com o bloqueio de estradas para tentana tentativa der saquear caminhões com comida. Em Bogotá e Cali, com panelas na mão, muitos saíram para protestar contra as promessas não cumpridas de alimentos e ajuda econômica que ainda não haviam recebido, 23 dias após o início da quarentena.

Em Cali, uma mulher expressava os motivos pelos quais eles decidiram sair às ruas “As pessoas estão com fome, estão deixando suas casas arriscando suas vidas e não lhes tem trazido comida. Eles nos disseram que nos enviaram dois caminhões e não nos enviaram nada, nada chegou até nós (…) Precisamos de ajuda

Em Ciudad Bolívar, um bairro ao sul de Bogotá, ocorreu um panelaço pelo segundo dia consecutivo na noite de quarta-feira, exigindo que a prefeita Claudia López cumprisse a ajuda prometida e muito necessária. A manifestação foi respondida com gás lacrimogêneo do Esmad (tropa de choque).À fome dos trabalhadores, o governo nacional e locais respondem com repressão.

 “Na zona rural da Colômbia, também houve protestos por falta de comida neste período de quarentena. Na região caribenha de La Guajira, os indígenas Wayuu bloquearam estradas para exigir comida e água. Dezenas deles foram detidos pela polícia.”

A situação social já degradada pelas políticas de ajuste, que o presidente, Ivan Duque deu continuidade, deixa sem a possibilidade de ajudar os trabalhadores colombianos com um mínimo de recursos. Nesse país, o trabalho informal atinge taxas muito altas, como forma de acessar uma renda mínima, e é sentida a paralisia econômica causada pelo confinamento obrigatório, sem medidas concretas de ajuda. A opção que o governo dá é absurda: doença ou fome.

Daí a bronca e as ações de protestos e reivindicações, que não param, apesar da resposta repressiva dos governos de todos os níveis. Segundo o ministro da Saúde, Fernando Ruiz, haverá uma abertura gradual e controlada de alguns setores da economia a partir de 27 de abril. Na Colômbia, até anteontem, 18 de abril, havia 3.233 casos confirmados de coronavírus, dos quais 144 morreram e 550 já se recuperaram.

Tradução: José Roberto Silva