O corpo encontrado na manhã dessa sexta-feira (15), apareceu em um lago no Parque Municipal do Pedroso em Santo André, e de acordo com um dos irmãos da vítima e descrição da família pode ser de garoto sequestrado pela polícia nesta quarta-feira (13).
ROSI SANTOS
Vivo o levaram, vivo o queremos
Na manhã dessa sexta-feira (15) a cidade de Santo André e parte do ABC paulista despertou com uma notícia desoladora. Depois de uma semana com todas as preocupações voltadas a notícia do desaparecimento do estudante da Escola Clotilde Peluso, Lucas Eduardo Martins dos Santos de apenas 14 anos, por parte da polícia militar, foi encontrado por volta das 10h, numa represa no Parque Natural Municipal do Pedroso, no ABC paulista, um corpo com as características de Lucas.
Logo após anúncio do aparecimento e enquanto a família se dirigia ao Instituto Médico Legal (IML) da cidade, a comunidade da Favela do Amor, na Vila Luzita onde família vive, bloquearam avenida e realizaram manifestação, exigindo respostas sobre o caso e, se fosse o caso, justiça para Lucas.
Um verdadeiro martírio para família e amigos de Lucas da comunidade
Um dos irmãos de Lucas, Vitor disse em entrevista no IML que não se tratava do irmão, porém Igor, também irmão e outros familiares de Lucas, afirmam que devido as características físicas específicas do garoto que pode ser sim de Lucas o corpo encontrado. No entanto, de acordo com IML somente depois de exame de DNA, que pode levar mais de 10 dias se poderá identificar se de fato o corpo é de Lucas.
Basta de insensibilidade. A família de Lucas esta devastada, e exigem de imediato a realização dos exames necessários para a comprovação ou não da identidade do corpo encontrado, é revoltante que além da angústia de dias que os familiares vem passando desde o desaparecimento de Lucas, que o governo da cidade de Santo André, representado pela prefeitura de Paulo Henrique Serra (PSDB), deixe que a família espere mais duas semanas em meio a tamanho sofrimento.
É inadmissível que a prefeitura de Santo André responsável direita pela gestão do IML da cidade, cometa ou permita que cometam, mais essa absurda crueldade contra essa família, que nesse momento se encontra ainda mais desamparada.
Denúncia do Companheiro Zeca, que acompanhou essa semana o caso junto a comunidade mobilizada, contra o genocídio da população negra e exigência de respostas ao caso de Lucas
O desaparecimento levou a manifestações e ampla sensibilização social
Ao contrário do que pretende a polícia e a prefeitura de Santo André, que tenta com a morosidade no IML para confirmar a identidade do corpo, acalmar os ânimos e conter indignação social, a comunidade e família apesar do abandono estatal e das ameaças da polícia que chegou inclusive, a “visitar” a casa da família encapuzados, não estão dispostos a deixar o desaparecimento e possível assassinato de Lucas “para lá”.
Diversos moradores e solidários da região vêm mobilizando-se com intuito de denunciar a violência policial racista a moradores de zonas periféricas e pressionar as autoridades para apuração imediata do caso que envolve o estudante.
E desde quarta-feira (13), data do desaparecimento, a comunidade junto a família vem se mobilizando e levando a imprensa dados do crime e as ameaças da polícia. A manifestação pacífica em que muitos moradores e testemunhas declaravam a canais de TV ter visto Lucas sendo levado na viatura da polícia, foi “inexplicavelmente” reprimida pela polícia, mesmo com a presença de jornalistas em meio aos manifestantes.
Evento que levou a impressa de alguns canais a mudarem a linha editoral e trabalharem com a hipótese de que Lucas tenha sido realmente sequestrado e talvez morto pela PM. Em manifestação no dia de ontem os companheiros e membros do Esquerda Web, estiveram presentes na manifestação para prestar sua solidariedade e apoio a família e aos moradores.
Caso gera inúmeras suspeitas contra a PM
O Policial Militar que ameaçava matar a um irmão de Lucas foi reconhecido pela mãe em foto e moradores estão seguros do envolvimento da polícia. Em conversas com algumas pessoas, foram reiteradas as declarações sobre o abandono e descaso do Estado a comunidade, inclusive em situações tão dramáticas, como essa.
Na quinta-feira logo após mobilização, em entrevista o capitão André Luís Magalhães Bonifácio, do Centro de Comunicação Social da Polícia Militar, afirmou sem nenhum comprometimento real com o caso, que não estavam conseguindo encontrar a viatura que pode ter feito a abordagem a Lucas ou que tenha feito as diligências naquele horário na comunidade.
Porém depois que o fato transcendeu e ganhou repercussão midiática por meio da mobilização, uma das duas viaturas da Polícia Militar que estariam envolvidas, no desaparecimento foi identificada, e passa por perícia da Polícia Civil, mas até o momento a única providencia da cúpula da PM, foi o afastamento de dois PMs suspeitos no crime dos trabalhos na localidade, os PMs estão afastados sem redução de salário, deixando evidente que apesar de todos os indícios e testemunhos, as autoridades tratam o caso sem considerar sua gravidade.
Um dos moradores nos relatou, que um homem em situação de rua que não se sabe se já foi ouvido, pode ser uma testemunha decisiva. Ele contou aos moradores que por volta das 3h daquela madrugada, estava em uma área de mata atrás da Escola Estadual Adib Chamas, a poucos metros da casa da família, na Rua Professor Felisberto Carvalho, quando PMs apareceram no local e exigiram que ele se retirasse.
Logo depois ao regressar ao local, o sem teto ainda sem saber do ocorrido com Lucas encontrou a blusa da vítima, a vestiu e desceu para a favela, onde soube de toda situação ao ser interpelado pela mãe e irmão de Lucas, sobre uso da roupa da vítima. Pela manhã, ao se dirigirem ao local indicado por essa testemunha, foi encontrado o boné de Lucas em meio ao mato.
Vidas negras e pobres importam
Lucas nunca teve contato com a mãe biológica que, assim como o pai, ambos são dependentes químicos, situação que fez com que ex-esposa do pai de Lucas assumisse o papel de mãe e a responsabilidade por ele e o irmão mais velho, de 22 anos, que trabalha em uma pizzaria para manter a família.
A mãe de criação de Lucas, Maria Tereza, esta em choque com desaparecimento do filho e encontra-se dopada de medicamentos para tranquilizar-se, na quarta-feira poucas horas após o desaparecimento falou em desespero a imprensa que, ouviu de dentro de casa, Lucas dizer “eu moro aqui” para alguém, mas quando saiu ver com o garoto falava uma viatura PM deixava o local e Lucas já não se encontrava.
O caso está sendo registrado pelo 6º DP de Santo André, e acreditamos ser de suma importância além dos atos que vem ocorrendo na comunidade, exercer pressão popular também no 6º DP, exigindo respostas na “casa” da polícia, com intuito de criar um fato político de maior visibilidade em torno do caso de Lucas e que possa questionar a racista Pasta estadual de segurança pública para Santo André.
Outra coisa que acreditamos ser fundamental, é dar nome e sobrenome as autoridades envolvidas na apuração do caso, para sejam cobradas nominalmente pela sociedade andreense. Pois mesmo, sendo a história de Lucas semelhante a de tantos outros jovens negros que moram nas periferias do ABC e da grande São Paulo, que convivem diariamente com abusos e violência policial, o caso de Lucas esta em sintonia com as mobilizações contra violência institucional da polícia racista a jovens negros nas favelas do Rio de Janeiro e de outras lugares do país.
Fator vem elevando a politização desses casos. E é por isso que familiares e toda comunidade estão dizendo basta a violência contra vidas negras, e estão decididos que independente do corpo encontrado nessa sexta-feira, ser ou não de Lucas, como a tia da vítima disse, qualquer coisa que tenha acontecido com Lucas, e apesar das ameças da polícia irão seguir exigindo respostas, para que esse caso não vire mais uma estatística da violenta, corrupta e racista Polícia brasileira.
Por isso exigimos:
Inclusão ao Programa de proteção a testemunha de toda a família!
Chega de tortura, identificação imediata do corpo pelo IML!
Basta de foro privilegiado! Tribunal e julgamento comum a todos os PMs envolvidos!
Chega de genocídio negro! Pelo fim da PM! Nem polícia militar nem militarização da polícia!