Deborah Lorenzo
Dia 19 de junho, no Brasil e ao redor do mundo, as ruas foram palco para as vozes da juventude, dos LGBTQIA+, dos negros, das mulheres, dos indígenas e dos trabalhadores. Setores historicamente explorados e oprimidos que não aguentam mais a política genocida, privatista e de ataques aos direitos e à democracia do governo Bolsonaro e da maioria do Congresso Nacional.
Em um cenário de 2 mil mortes diárias pela covid-19, ausência de políticas públicas sanitárias e de contingência social, como um auxílio emergencial no valor de um salário-mínimo, testagem em massa e um programa de vacinação coordenado nacionalmente, de maneira uniforme, quem sangra é o povo, não Bolsonaro.
Asim 500 mil vidas interrompidas, ceifadas, retiradas a força pelas mãos de um governo genocida foram o marco fúnebre da data, que se combinou com o crescimento acelerado da disposição de enfrentamento a essa situação dos setores mais dinâmicos da luta de classes.
O povo sangra muito!
A revolta se materializou com a crescente adesão as manifestações desde o 13 de maio e o 29 de maio. A urgência para tirar Bolsonaro do poder, agora, se traduz em um número praticamente dobrado de manifestantes nas ruas em um período quinzenal de convocações.
Esta agitação, esta mobilização crescente reflete o cansaço e a dor da classe trabalhadora. Mais que isto, é da vontade – e necessidade estratégica – do povo trabalhador e oprimido derrubar Bolsonaro já! Não o “sangrar” até 2022 ,como quer de forma oportunista e irresponsável a esquerda da ordem!
Avanços contrarreformistas, como a privatização da Eletrobras, ataques aos direitos dos povos originários, como o PL490, esquemas de corrupção envolvendo compra de vacinas, como o caso da Covaxin, apenas para citar alguns dos inúmeros crimes praticados por este governo, o apoio da maioria do Congresso, de setores da classe dominante, das milicias, das forças repressivas e das forças armadas indicam que esse governo está isolado e enfraquecido, mas pelo seu caráter ultrarreacionário segue sendo um tremendo perigo para os direitos democráticos, principalmente os de luta e livre organização. Por isso, não se pode brincar com fogo, como faz o lulismo e as burocracias partidárias e sindicais que o orbitam.
Então diante do crescimento seguido do número de participantes nas manifestações e de outras expressões de radicalização dos de baixo e do perigo crescente para as vidas e direitos democráticos que significa manter Bolsonaro no poder, o que justifica a decisão unilateral das burocracias das frentes que convocam os atos, sem qualquer discussão com as bases, de agendar um novo ato para dia 24/07, mais de um mês após o 19J, tomada na última reunião da Frente Fora Bolsonaro?
Se os atos vinham ganhando proporções maiores, ganhando corpo, em um processo de massificação, qual a lógica de criar este vazio prolongado? Só nos resta constatar que se trata de uma estratégia oportunista, portanto a não aposta nas saídas pelas ruas, de “sangrar” Bolsonaro em vez de “matá-lo”, advogada pela burocracia lulopetista e seus satélites.
Lógica esta que trabalha com uma perspectiva gradualista/oportunista de desgaste do governo enquanto a disposição de derrubar Bolsonaro cresce nas ruas. Isso não é um simples erro tático, mas uma estratégia que representa uma traição criminosa à crescente luta por baixo – única forma de derrotar o neofascismo no poder que formou uma coalização governamental que o sustenta – diante de um perigo iminente!
Bolsonaro, embora isolado, segue sendo uma ameaça à soberania popular. Seja por seus inumeráveis acenos às intenções golpistas e bonapartistas, seja por seu desprezo pela vida da população. Assim, apostar na estratégia de desgaste do governo é abrir uma brecha política ímpar para que Bolsonaro se recupere e imponha suas intenções golpistas sobre o povo, como aliás ocorreu em 2018 com a prisão de Lula e a eleição deste governo em meio à perda da soberania popular. É aceitar que perderemos mais e mais vidas, que este é o “preço a se pagar”, e porque não que tenhamos o fechamento definitivo do regime. Inaceitável!
Essa foi uma decisão tomada por cúpulas de todas as centrais sindicais, ignorando a voz do movimento e da ampla vanguarda, abafando o calor do movimento e desmobilizando as bases. Um ato absurdo, ilógico, criminoso! Mais uma traição das burocracias contra a classe trabalhadora e as suas necessidades, um passo atrás no desafio histórico de derrotar Bolsonaro e o seu governo genocida.
Esperar não é uma opção!
Não aceitaremos que as vozes das centenas de milhares de jovens, mulheres, negros, LGBT, indígenas, que tomaram as ruas neste 19J sejam silenciadas. Não aceitaremos a política pelega que não dialoga com as bases e impõe o recuo quando podemos avançar e em um momento em que podemos ir a um salto de qualidade nas mobilizações, massificando-as e possibilitando uma mudança definitiva na correlação de forças e a abertura de um processo de impeachment.
Não aceitaremos o alto preço de prosseguir com uma tática que apenas leva a mais sacrifício dos nossos e possibilita que o neofascista e seu governo se recupere. É imprescindível que todas as frentes de mobilização, os sindicatos, os movimentos estudantis, os movimentos populares se engajem na convocação para um ato no dia 10/07, mantendo assim a frequência quinzenal como mínimo. O ritmo de crescente participação pode levar à massificação das manifestações e somar forças para o ato de 24/07 e posteriormente acumular condições para a construção de uma greve geral.
A história, a mais recente inclusive, nos mostra que o resgate de ferramentas históricas de luta dos explorados e oprimidos é a única maneira para fazer o governo recuar, para constranger as bases militares e policiais, para pressionar o congresso pela abertura do processo de impeachment e para edificar uma ofensiva que carregue as demandas da nossa classe. Não podemos confiar nos meios institucionais como prioridade e nas táticas eleitoreiras para 2022 como quer impor a esquerda da ordem dirigida pelo lulismo. Quando se trata dos próprios fundamentos da sociedade, somado a um período reacionário de perigos e possibilidades o caminho a ser percorrido é o da unidade de ação em uma permanente mobilização pelas bases.
Exigimos que a decisão de jogar tudo para 24/07 seja revertida. Este é o momento de intensificar nossa presença nas ruas! Nenhum passo atrás!
Por um ato no dia 10/07, que dê vazão à vontade do povo, que fortaleça e potencialize o 24,07!
Pelas preciosas vidas de nossos companheiros, por vacina para todos, renda mínima e defesa dos direitos democráticos. Este não é um preço que aceitamos pagar pelas traições da burocracia, vamos em frente!
Por vacina, pão, saúde e educação!
Pelo fora Bolsonaro e Mourão já!
Eleições Gerais!