Ataque racista a Jacob Blake reacende luta antirracista

O movimento antirracista e os protestos contra a violência policial, podem ser determinantes para derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais

A juventude negra estadunidense vem sendo protagonista da luta antirracista no país e tornando-se um grande exemplo para o movimento negro e para juventude mundo afora. A juventude negra é a linha de frente dessa luta contra o genocídio da população negra pelo Estado imperialista há várias décadas. Essa é uma juventude que, também, está questionando a política econômica do presidente Donald Trump e, desta forma, conseguindo dialogar com outros setores da juventude não-negra e da classe trabalhadora.

SEVERINO FELIX

Mais um caso de violência policial ocorreu no último dia 23 de agosto quando um policial branco alvejou com sete tiros Jacob Blake, um afro-americano de 29 anos, na cidade de Kenosha (Wisconsin). Esse ataque racista impulsionou ainda mais a luta que toma as ruas diariamente nos EUA desde a morte de George Floyd por um policial branco.

O caso de Jacob Black demonstra que o sonho americano tão propagandeado não passa de uma grande falácia para a população negra, latina e centenas de imigrantes atraídos pela falsa propaganda do Estado desde a época da guerra fria.

Nas décadas de 1960/70, a população que lutava contra a segregação racial e era impulsionada pela política dos Direitos Humanos projetou grandes líderes negras/os. como Ângela Davis, Rosa Parks, Martin Luther King Jr, Malcolm X, W.E.B. Du Bois, Bayard Rustin e Amélia Boynton Robinson, dentre outros.

Porém, a partir de 2013 várias novas lideranças negras e uma nova forma de organização descentralizada, mas radical, surgiu. Apesar desta contradição organizativa, este movimento está mudando o cenário do movimento negro, dentro dos Estados Unidos e fora dele.

A luta antirracista no cenário eleitoral

A questão da luta antirracista está na ordem do dia das eleições estadunidenses. Enquanto o racista e supremacista branco Donald Trump tenta criminalizar o movimento Black Lives Matter, Joe Biden tenta capitanear a revolta da juventude negra em votos contra Trump e, consequentemente, ser um candidato antirracista neste momento.

O partido Democrata tenta atrair a juventude negra para a campanha do presidenciável Biden em um momento em que cresce o sentimento contra Donald Trump por sua postura frente aos protestos que vem ocorrendo no país, mesmo após ter anunciado uma mulher negra para compor a chapa majoritária do seu partido.

Além de querer criminalizar os movimentos pacíficos no país e enviar a guarda nacional para reprimir o movimento, Trump faz questão de culpar prefeitos e governadores democratas por apoiarem manifestações antirracistas em suas regiões e promoverem o “caos”. Por isso, em sua visão ultrarreacionária, é necessário intervir com as forças de repressão.

Porém, a grande maioria da juventude negra que participa e lidera os protestos antirracistas ainda não está convencida de votar no democrata, mesmo sabendo que são contra Donald Trump, o que vem causando preocupações na campanha democrata.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Swing Black Voter Project, que monitora seis estados onde a população negra é a maioria, apenas 47% da população jovem entre 16 a 29 anos pretende votar em Badin, enquanto que entre a população mais velha, eleitores entre 30 e 59 anos, a proporção sobe para 70%. Ou seja, não será fácil convencer essa juventude a depositar um voto de confiança em Biden. [1]

Outro problema para atrair a juventude é a política bipartidarista, na qual democratas republicanos se revezam no poder. Nem Biden nem Trump defendem uma política para acabar com as desigualdades sociais e o racismo estrutural no cenário americano.

Existem mais três candidaturas disputando a presidência do país: o partido da Constituição, o partido Verde e o partido Libertário. Estes dois últimos têm atraído a atenção da juventude, porém diante do cenário eleitoral acirrado entre Trump e Biden, a juventude se vê em uma grande encruzilhada política.

Os votos da juventude negra são importantíssimos para eleição do candidato democrata, mas não será tarefa fácil convencer essa juventude mais radical por seus votos nas urnas e legitimar o voto em Biden na luta contra o ultradireitista Trump.

O fundamental é levar a luta antirracista de forma independente até as suas últimas consequências, ou seja, colocar abaixo toda está estrutura policial e estatal. Para isso, a construção de um partido dos trabalhadores estadunidenses, dirigido pela juventude negra, pelos demais oprimidos e pela classe trabalhadora, é fundamental.

Só com um partido socialista, operário e negro com influência de massas é possível centralizar a luta de forma que a mobilização de rua ganhe representatividade política e se generalize de forma a estar à frente das profundas transformações políticas necessárias para quebrar o racismo estrutural estadunidense. Ou seja, colocar esse estado imperialista racista abaixo.


[1] Jornal o estado de São Paulo 30/08/2020