É preciso superar as traições da burocracia e construir a unidade entre estudantes e trabalhadores para derrotar Bolsonaro
POR ANTONIO SOLER
Nos dias 2 e 3 de outubro, estudantes, funcionários e docentes, em vários Estados do país, realizaram a Greve Nacional da Educação com o objetivo de defender a educação pública, gratuita, democrática e de qualidade contra os ataques do governo protofascista de Jair Bolsonaro e do seu ministro da educação Abraham Weintraub.
O governo, através de cortes massivos de verbas, perseguição política aos trabalhadores e estudantes e do questionamento à autonomia universitária, quer acabar com a universidade pública. Bolsonaro trabalha incansavelmente para destruir a educação pública brasileira através de uma guerra ideológica de extrema direita.
No dia 30 de abril deste ano, marco do início da guerra contra a educação, o atual ministro da educação disse que cortaria 30% da verba das universidades federais devido à “balbúrdia” e falta de rendimento. Após a polêmica instaurada pelo posicionamento do ministério, o governo adotou o discurso de que, perante o corte, a prioridade seria para a educação básica.
Já não bastasse os mentirosos argumentos para encobrir o ataque às universidades públicas, o governo em setembro anunciou um novo corte, agora em relação às bolsas de pesquisas. Ou seja, mais de 5.613 bolsas de estudos para pesquisadores de pós-graduação referentes a trabalhos de mestrado, doutorado e pós-doutorado foram canceladas.
Diante do fato que mais de 95% da produção científica no Brasil é realizada nas universidades públicas, este novo ataque compromete o futuro da ciência nacional e, mais do que isso, da sociedade como um todo. Pois é através das pesquisas que novos medicamentos, vacinas e problemas da sociedade em geral podem ser resolvidos, muitas vezes de maneira gratuita, e isso pode acabar graças a Bolsonaro.
Esses dois dias de Greve da Educação (2 e 3 de outubro) foram importantes para denunciar o desmonte da educação pública e o processo de privatização das estatais. No entanto, apesar dessa mobilização ter ocorrido em meio à votação em primeiro turno no Senado Federal da “Reforma” da Previdência, um ataque histórico contra os explorados e oprimidos, esse não foi um tema central da jornada de lutas. Além disso, não houve uma ampla convocação das centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda para as manifestações de 2 e 3 de outubro.
A pressão anterior do movimento estudantil e dos trabalhadores da educação em nível federal, estadual e municipal, desde os protestos ocorridos em 15 e 30 de maio e outras ações em defesa da educação, tem servido para conter a ofensiva reacionária do governo e para o fazer liberar R$2 bilhões de um contingenciamento de mais de R$6 bilhões. Mas, a política da burocracia (UNE, CUT, PT e PCdoB) de negociar com o Congresso a contrarreforma da Previdência, ao invés de ter lutar para derrotá-la, interrompeu esse afluxo do movimento e fez com que essa Greve da Educação não tivesse grande impacto na realidade nacional, permitindo, assim, tanto o avanço da contrarreforma da Previdência e a manutenção dos ataques do governo à educação e aos demais setores.
O movimento estudantil é central para derrotar o governo Bolsonaro, pois é o setor que em maio desse ano produziu um movimento histórico de rua – o chamado “tsunami da educação” -, que pela sua dinâmica hoje é capaz de se articular com os demais explorados e oprimidos e que faz a ponte entre as lutas contra os ataques às condições de vida e aos direitos democráticos com uma saída política.
Não é por acaso que em todas as manifestações estudantis/juvenis uma saída política, através do “Fora Bolsonaro”, surge quase que “naturalmente”. Por isso, temos que superar a inércia política da maioria da direção lulista e de setores da esquerda socialista que, absurdamente, recusam-se a lutar por uma saída política através do fora Bolsonaro e eleições gerais como consequência necessária da luta para derrotar as contrarreformas do governo e os ataques aos direitos democráticos.
A linha política que passa da luta contra os ataques imediatos do governo ao “Lula Livre” (PT. PCdoB e algumas tendências do PSOL) como saída política não passa de eleitoralismo. A defesa da liberdade de Lula é parte importante das bandeiras democráticas, pois sua prisão serviu para impor aos trabalhadores um governo ultraliberal. Mas, sua liberdade não pode ser colocada como uma alternativa política para a nossa classe, isso é uma farsa petista que repete a aposta centralmente no calendário eleitoral e que, junto com as negociatas em detrimento da mobilização, é parte da estratégia de conciliação de classes que só serve para desmobilizar e levar às derrotas.
Por isso, os estudantes, em unidade com os trabalhadores, devem tomar as ruas para lutar por suas reivindicações imediatas, em defesa dos direitos democráticos ameaçados por esse governo protofascista e por uma saída política independente – como tem esboçado a juventude quando sai em luta. Sistema que, em nossa opinião, pode ir se concretizando em através de reivindicações que passam pela Derrota das Contrarreformas e das Privatizações (atingem em cheio a juventude), pela Defesa dos Direitos Democráticos, pela Liberdade de Lula e de todos presos políticos e pelo Fora Bolsonaro e Eleições Gerais Já!