Ha dois anos sem Anahí e Marielle!

Por as milhares de vítimas da opressão e violência machista e estatal

Apresentamos aqui a tradução da carta emotiva e fraternal de uma de nossas companheiras de Las Rojas Sur, Argentina, pela passagem dos dois anos do feminicídio de Anahí Benitez, artista e militante feminista de Las Rojas e Tinta Roja.

Aproveitamos nessa oportunidade para também homenagear a todas as mulheres oprimidas do mundo que tombaram. No que toca o caso do nosso país, queremos dedicar às palavras de nossa companheira a figura de Marielle Franco, nossa companheira do PSOL, assassinada pelas hordas paramilitares e milicianas do Rio de Janeiro e, como Anahí, ainda sem o direito a justiça, mas não sem memória.

Acreditamos que neste momento em que o governo do neo-fascista Bolsonaro, se coloca na ofensiva de ajustes e de ataques frontais aos direitos dos trabalhadores, mulheres e juventude, por seus membros conservadores e/oi fundamentalmente reacionários, que propõem, por exemplo, a “instalação de uma fábrica de calcinhas” para colocar um fim a exploração sexual infantil e de seu livre mercado na ilha de Marajó (Pará) que por nós e pelas que se foram precisamos reagir. Esse governo impele que as mulheres levantem suas vozes todos os dias e a cada hora, pelo fim da opressão do machismo no Brasil.

Relembramos Anahí, Marielle e as milhares anônimas vitimas de feminicídio e da violência estatal (perpetrada em leis ou pela ausência delas) em todo o mundo, novamente bradamos: JUSTIÇA PARA MARIELLI!

VERMELHAS, 07/08/2019

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Dois anos sem Anahí Benítez

Carta a nossa companheira Anahí

Há dois anos após a feminicídio de Anahí Benítez, publicamos uma carta de suas companheiras e amigas

Tinta Roja-Las Rojas Sur
6 agosto, 2019

Como muitos a descrevia, Anahí era uma artista, mas não era apenas uma artista. Anahí usou sua arte para expressar toda a sensibilidade que tinha pelas injustiças deste mundo, usou sua arte para lutar e transformar essa sociedade. Foi assim que a conhecemos, sendo ativista no centro estudantil da ENAM. Era 2016 e os jovens e professores estavam promovendo uma verdadeira rebelião educacional em defesa da educação pública, Anahí começou a se aproximar de nosso coletivo secundarista Tinta Roja participando das atividades que realizamos nessa luta.

Mas Anahí foi mais longe, procurava por algo transformador. Participou dos cursos de marxismo que demos naquele inverno na regional sul, e se aproximou de Las Rojas, se mobilizou na greve internacional das mulheres, pintou o primeiro mural de Las Rojas no sul (nas paredes da Universidade Nacional de Lanús), se mobilizou contra a repressão policial a seus companheiros, fez parte da tomada da ENAM contra o Operativo Aprender e as últimas conversas que tivemos com ela foram sobre a luta na PEPSICO, porque como dissemos acima, Ana pretendia transformar tudo.

Cada companheiro que nos tiram dói, se leva um pedaço do nosso movimento, um pedaço de nós mesmos. Ana estava lá, por cada criança que lutamos. Agora temos que sair e lutar por ela. O vazio é imenso, incompreensível, não encontramos palavras para descrever a dor, o desamparo e a raiva que sentimos.

A polícia, a justiça e o governo não te procuraram quando você ainda poderia estar viva. Fomos nós, seus amigos, seus companheiros, e organizações políticas, que se concentraram na porta da escola e se mobilizaram para encontra-la. A polícia só te encontrou porque nos estávamos te procurando, sabíamos que poderíamos encontrá-la viva, mas o abandono do Estado fez com que eles a encontrassem quando já era tarde demais. No sábado, 5 de agosto foi uma forte mobilização para te achar, para exigir seu aparecimento viva e infelizmente se tornou um grito de justiça. Milhares de pessoas se mobilizam, transformam essa raiva e essa dor em luta. Você estava lá em todos os abraços, em todas as músicas, em todas as crianças que se juntaram ao movimento, em cada companheiro seu.

Da parte de Tinta Roja e Las Rojas, prometemos não parar de lutar até que a justiça seja feita por ti. Eles poderiam ter te salvado se eles te procurassem a tempo, o governo e esse estado patriarcal são responsáveis pelo seu feminicídio. Continuaremos nas ruas exigindo a prisão para todos os seus feminicídas e cúmplices de seu assassinato, continuaremos nas ruas até acabarmos com esta barbárie. Abraçamos nesta data a dor da sua família, amigos e companheiros.

Mas não nos despedimos de ti, porque segue aqui viva em cada mulher que luta, em cada jovem que se rebela contra este sistema desumano.

Anita, até o socialismo sempre!

Justiça por Anahí!