Por um 8 de março de luta!
A conjuntura atual é caracterizada por uma guinada à direita na situação política internacional, diante da qual prevalece um clima reacionário e conservador. Por esta razão, são constantes os ataques sobre os direitos da classe trabalhadora, mulheres e da população LGBTI, ou seja, os governos atribuem à crise econômica a classe trabalhadora e ameaçam os direitos democráticos.
Estes ataques reaccionários produzem polarização, não permanecem sem resposta e geram luta nas ruas, desde os explorados e oprimidos, na Argentina contra o aumento dos impostos de Macri, no Brasil com o movimento #Elenão contra Bolsonaro, na Costa Rica contra o ajuste fiscal e na França com os coletes amarelos contra a Macron.
A escolha de Jair Bolsonaro no Brasil reflete a virada reacionária, que elegeu um governo anti-democrático que ataca os direitos das mulheres já adquiridos e dificulta novas conquistas. Por exemplo, Bolsonaro ignora a diferença salarial, em um país onde as mulheres ganham cerca de 25% menos que os homens e as mulheres negras 60% menos. Além disso, ele reproduz a cultura do estupro em seus discursos, num país em que somente este ano mais de 100 casos de femicídio foram registrados, se opõe ao aborto direitos e quer flexibilizar leis que garantem este direito em caso de estupro e risco de vida para as mulheres.
Essa vitória da extrema direita machista ameaça a classe trabalhadora, as mulheres e a população LGBTI. Após a eleição, as agressões e mortes devido à homolesbobitransfobia dispararam, razão pela qual Jean Wyllys, do PSOL, teve que se exilar devido a ameaças de morte. Os ataques contra a classe trabalhadora já começaram, nos primeiros de seu governo, Bolsonaro anunciou o decreto que reduz o salário mínimo esperado para este ano. Da mesma forma, as mulheres brasileiras estão ameaçadas com a flexibilização do porte de armas e com a reforma da previdência, projetos que afetarão diretamente as mulheres trabalhadoras. Além disso, em sua aliança com setores evangélicos para atacar os direitos das mulheres, nomeou como Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, que é uma pastora evangélica, contra o aborto e a educação sexual.
Na Espanha temos outro exemplo do giro reacionário e misógino com o avanço do Vox em Andaluzia. Com a supressão das políticas de gênero, pois o PP procura esconder a violência patriarcal entre as outras violências domésticas para privá-la de sua natureza estrutural, quando o principal não é o cenário, mas a causa, isto é, o patriarcado. Em resposta às provocações misóginas de Vox, houve mobilizações maciças de mulheres em Andaluzia e em outras cidades.
No caso da América Central, também houve uma virada à direita com governos reacionários e conservadores. Em Honduras há uma ditadura de Juan Orlando Hernández com a perseguição e assassinato de ambientalistas contra o capital
transnacional. Por outro lado, o recente triunfo da ala direita em El Salvador com Bukele (que tem uma denúncia de violência de gênero) coloca mais políticas neoliberais e conservadoras no ataque principalmente aos direitos das mulheres. Na Costa Rica, o governo de Alvarado caracterizou-se pela implementação de políticas contra a classe trabalhadora, como a reforma tributária baseada nos interesses da burguesia e dos setores empresariais, além disso, há uma Assembléia Legislativa tomada pelo conservadorismo fundamentalista, que têm sido os principais adversários dos direitos das mulheres e da população LGBTI. E finalmente, na Nicarágua, a ditadura de Ortega-Murilo desencadeou uma escala de repressão brutal que resultou em um grande número de prisioneiros e presos políticos. O grupo de governos reacionários tem em comum seu ataque contra a classe trabalhadora, as mulheres e a população LGBTI. Em resposta, o movimento das mulheres é organizado e vai à ofensiva em uma guerra aberta, como vimos com Trump nos Estados Unidos, com Bolsonaro no Brasil, com Macri na Argentina e agora com a Vox na Espanha.
Por esta razão, para desacreditar o movimento de mulheres, esses governos se dizem contra “ideologia de gênero”, um termo cunhado pelo Vaticano e adotado pela extrema direita. Assim, a Igreja Católica (através do Papa) lidera o movimento das mulheres, por exemplo, Bergoglio anunciou recentemente que “que o feminismo é um machismo de saias”, referindo-se à crítica de cumplicidade da Igreja com os pedófilos. Se a Igreja e o Papa dão tais declarações é porque a força da luta feminista revela a opressão das mulheres pela Igreja em conjunto com outras instituições que sustentam o sistema patriarcal.
Nesta conjuntura, o movimento das mulheres está na ofensiva, subindo e na vanguarda das lutas com o aumento da participação dos jovens, isso pode ser percebido através da luta feminista na América Latina e no mundo. Algumas destas lutas significativas são enormes como a heróica luta pela legalização do aborto na Argentina, a luta dos chilenos contra o assédio sexual nas universidades, 5 milhões de mulheres na Índia que fizeram uma corrente humana de 620km em Kerala para exigir seus direitos.
O movimento feminista na Argentina se destacou mundialmente pela luta histórica para reivindicar o direito ao aborto livre, legal, seguro e gratuito. No último ano ele rendeu batalhas épicas, como as vigílias de 13J e 8A, onde se posicionaram na tradição de luta nas ruas para conquistar os direitos das mulheres.
Assim, a força das mulheres não tem freios porque é construída nas ruas, é a força de um movimento que sacode o planeta, um movimento que também irá avançar a luta contra o capitalismo e patriarcado.
Nós, Vermelhas/Las Rojas nos posicionamos como feministas socialistas, isto é, consideramos necessário que o movimento de mulheres também adote um caráter anticapitalista para lutar contra o sistema econômico que nos explora e nos condena à miséria. Nossa proposta para a organização das mulheres é construir um movimento que lute nas ruas com a classe trabalhadora contra o capitalismo patriarcal, por um mundo sem opressão ou exploração.
Portanto, a luta pelo direito ao aborto é estratégica, não é só a liberdade de decidir sobre nossos corpos, mas pela capacidade de organização e mobilização para ganhar um apoio social nunca antes visto, para lutar contra as instituições religiosas que oprimem as mulheres e os LGBTI, contra os governos que usam nossos direitos como moeda de troca. Por isso, é necessário continuar lutando na Argentina e no mundo pelo nosso direito de decidir, confiando apenas em nossa própria força para que a maré verde triunfe e se expanda em toda a América Latina e em todo o mundo. Além disso, esta batalha une todas as minorias, com a capacidade de derrotar politicamente o governo Macri, no caso da Argentina, assim como a Igreja e os reacionários.
Portanto, a grande lição que emerge do movimento de mulheres na Argentina está na organização e mobilização, chaves para avançar nas lutas e conquistas dos setores explorados e oprimidos.
Nesse contexto de ofensiva reacionária e de fortalecimento das lutas das mulheres, haverá grandes manifestações no 8 de março, Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, uma oportunidade de lutar e deter os governos reacionários e conservadores, para acabar com as políticas que condenam as mulheres a uma violência estrutural e exigir que a Igreja e o Estado sejam questões separadas, bem como o direito de decidir sobre nossos corpos.
As mulheres do mundo irromperão nas ruas para que nossas demandas sejam ouvidas, porque, na luta contra essa onda reacionária e conservadora, precisamos de organização, mobilização e união com os setores explorados e oprimidos. É crucial continuar a fortalecer esse movimento de mulheres em ascensão em todo o mundo, bem como criar vínculos com a classe trabalhadora e a população LGBTI para enfrentar ataques unificados dos governos e promover nossos direitos.
Vamos de vermelho neste #8M, dia internacional de luta contra o retrocesso, para um movimento feminista anticapitalista!
Contra governos reacionários e misóginos!
Não a violência estrutural contra as mulheres!
Chega de ataques à comunidade LGBT+!
Não as mortes por homolesbobitransfobia!
Todos os direitos para todas as pessoas!
Pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito!
Educação sexual científica e feminista agora!
Pelo fim do feminicídio! Nenhuma a menos! Nós queremos viver!
Chega de violência contra as mulheres, sem mais assédio sexual ou feminicídio!
Pela separação entre Estado e Igreja! Os padres e pastores da política!
Chega de tráfico e exploração sexual, pelo fim da prostituição!
Trabalho e salário decente para todos! Mesmo salário para o mesmo trabalho!
Todos os direitos aos imigrantes! Ninguém é ilegal!
COLABORAÇÃO E TRADUÇÃO: Marina Cipolla