Mais um jovem negro é brutalmente assassinado

A institucionalização do genocídio da população negra no Brasil

Por Severino Ramos Félix

Na última tarde de quinta-feira (14/02/19) soubemos através do noticiário de mais um assassinato de um jovem negro de 19 anos ocorrido dentro do hipermercado Extra no Bairro da Tijuca, Estado do Rio de Janeiro.

Sobre alegação de furto, um dos membros equipe de segurança, Davi Ricardo Ribeiro, de forma abrupta imobilizou o jovem com um golpe de artes marciais conhecido como mata leão. Mesmo não demonstrando reação para se libertar e aparentando já está desacordado, o segurança fez questão de continuar com sua brutalidade apertando o pescoço da vítima que morreu por asfixia. Assim, o jovem negro da periferia, dependente químico e com transtornos mentais, identificado como Pedro Henrique Gonzaga, tornou-se mais uma vítima e entrou para as estatísticas de jovens negros assassinados de forma violenta em nosso país.

Este mesmo segurança, em sua página de rede social, faz questão de postar uma foto em que está fardado e armado, revelando apoio político ao então candidato à presidência Bolsonaro. A pesar da cena estar sendo filmada e divulgada nas redes sociais, demonstrando clara intenção de cometer o ato de assassinato, o segurança irá responder em liberdade. Após pagar fiança de R$ 10.000, certamente realizado pelo Extra, foi indiciado por crime culposo, quando não há intenção de matar…

Neste mesmo dia uma garota negra de 11 anos, Jeniffer Silene, também morrei no Estado do Rio de Janeiro vítima de bala perdida. A jovem estava voltando da escola quando foi atingida e também entrou para esta triste realidade que está longe de ser um caso excepcional.

O crecimento da violência levada a cabo contra negros, pobres e mulheres não é mera coincidência, este setor reacionário teve grande inspiração no que há de pior neste momento: o ódio contra os setores mais fragilizados da sociedade. Muito provavelmente se fosse um jovem branco, o modo operante do segurança seria diferente, pois o racismo está implícito em parcela da sociedade e os seus personagens são sempre os mesmos.

A naturalização da violência gera pouca comoção por ser mais um jovem negro e pobre, o que demonstra na realidade brasileira um verdadeiro genocídio da população negra – elemento de violência que vem desde o período colonial e aumentou com o fim da escravatura.

A carne mais barata do mercado é a carne negra

Um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra como a população negra está mais exposta à violência no Brasil. Os negros representam 54% da população, porém guando trata-se de casos de homicídio, a população negra representa 71% desses assassinatos.

Dos 62.517 assassinatos cometidos no Brasil no ano de 2016, os jovens respondem por 56,5% dessa causa de óbitos, sendo homens na faixa etária de 15 a 19 anos, demonstrando a política de Estado para nossa juventude. Assim, a morte violenta no Brasil tem cor (pele negra), a cada 100 homicídios, 40,2% são negros, enquanto para a população não negra a taxa é de 16,0%.*

O número da população carcerária brasileira praticamente dobrou entre 2006 e 2016, segundo dados do departamento de informações penitenciárias publicado (Infopen) em 23/06/2018. A população carcerária passou de 212 mil para 726,7 mais da metade dessa população é composta por jovens com idade de 18 a 29 anos e para ilustrar ainda a política de exclusão, 64% dessa massa carcerária é composta por pessoas negras.

Isto demostra que a política de genocídio da população negra é institucionalizada no Estado brasileiro, no qual a morte do jovem de 19 anos Pedro Henrique Gonzaga é naturalizada. Se não houver uma grande mobilização de rua, campanhas de denúncia e exigência de punição para os responsáveis essa realidade não irá mudar.

A vida dos negros importa!

Não ao genocídio da população negra!

 

*Atlas da violência 2018