Por Martin Camacho
No próximo 1 de fevereiro será eleito o próximo Presidente da Câmara dos Deputados, o que se escolhe a cada dois anos. Depois que não foi aprovada a reeleição para esse cargo dentro da mesma legislatura toda uma maquinaria de acordos começou a se dar entre os partidos burgueses. Até aí tudo bem, é a lógica da política de cargos e favores pela troca de votos, o problema mais específico começa com o posicionamento do PSOL.
Rodrigo Maia (Presidente da Câmara) do DEM é o principal apoiador de Baleia Rossi (MDB), apoiados por partidos como PSDB, PDT, PSB, PCdoB e PT. Este talvez seja o futuro Presidente da Câmara, uma personagem sinistra da política brasileira, mas que desta vez está contra as políticas de fechamento do regime do bolsonarismo e acabou fazendo um acordão com os progressistas.
Não colocamos nenhuma confiança no campo burguês que ele representa, mesmo se comprometendo com pequenas reformas e em se abster de aprovar o mais reacionário que está por vir. Por isso, a importância de ter uma candidatura própria desde o PSOL é a posição mais acertada para não ficar comprometido com o bloco parlamentar burguês, o que alguns setores do PSOL não veem como perigoso.
Assumir uma definição fundamental para a solução de impasses políticos, a da independência de classe, poderia ser a forma mais fácil de enquadrar uma tática para encarar essa eleição, mas é exatamente essa questão de princípio a que traz mais polêmica na esquerda e no interior do PSOL nos últimos anos. O apoio aberto em primeira instância a Baleia Rossi pelos deputados Marcelo Freixo e Samia Bomfim colocou claramente os perigos da política parlamentar quando rompe com “cláusulas pétreas” da política revolucionária.
Como se pode perder a independência de classe em um só segundo? Lugar vexatório onde se colocam e que talvez não tenha retorno. Muito acertadamente pela maioria da direção do PSOL, Luiza Erundina saiu como candidata trazendo um posicionamento mais coerente ao que o PSOL representa, um partido de denúncia à política burguesa e não de acordos. “É lamentável que o PSol negocie suas convicções e compromissos políticos históricos ao aderir ao fisiologismo e à barganha por cargos na Mesa da Câmara. Essa é uma prática dos partidos de direita com a qual eu não compactuo”, afirmou a parlamentar.
A oportunidade não pode ser melhor neste momento para ter deputados engajados na denúncia. O governo nacional está sofrendo as consequências de uma política negacionista sobre a pandemia e vai ter ou já está recuando em algumas políticas mais retrogradas. A calamidade sanitária que começou no Amazonas agora se esparrama por todo o norte do país, trazendo mais incertezas para o começo do ano. Como colocamos no anterior artigo Independência de classe e a disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados, é fundamental ter deputados que possam chamar a população a realizar ações nas ruas para enfrentar o governo e não trazer mais confusão política, achando que com o Presidente da Câmara se resolveram todos os problemas do país.
Serve de muito pouco ter representantes que decidam por si mesmos sem chamar amplos debates antes de decisões importantes do país e que acabam tendo posições por interesse específico de suas tendências ou gabinetes. Neste caso, o MES (tendência do PSOL), que articula as decisões da Samia, é uma organização conhecida pelas suas idas e vindas, por exemplo, por apoiar a Lava Jato. Então não surpreende muito que tenha uma atitude assim frente à uma votação tão importante como é a do Presidente da Câmara.
Uns dos grandes problemas é a confusão que cria na população não ter uma posição unificada e dialogada democraticamente. Em vez de elevar a consciência de classe, atitudes unilaterais e saídas da cartola de algum dirigente acabam prejudicando a compreensão de toda uma militância que vem fazendo a experiencia com governos burgueses.
É por isso que desde Socialismo ou Barbárie – tendência do PSOL- reivindicamos os debates abertos com toda a militância para que temas assim possam ser discutidos por todos e para avançarmos na compreensão de quais são os melhores caminhos que temos para enfrentar este governo reacionário de Bolsonaro.