Enrico Bigotto
Nesta terça-feira (19/05), o Senado aprovou o projeto de adiamento do Enem, que estava previsto para 1 e 8 de novembro. O Inep, órgão responsável pela aplicação do exame, declarou depois disso que o exame seria adiado “entre 30 e 60 dias” em decorrência da pandemia do coronavírus. Um adiamento que pode se tornar até insuficiente, devido às políticas negacionistas do governo Bolsonaro em relação à crise sanitária que o país vive atualmente, para a necessidade dos estudantes que não dispõem das mesmas condições de estudo em meio à pandemia. Mas demonstra força, resistência e organização dos estudantes mesmo em situação de isolamento social, fazendo das redes sociais a sua maior ferramenta e conquistando essa importante vitória através da chamada #adiaenem.
Os ataques à educação são sistemáticos e generalizados, desde declarações absurdas do presidente e seus ministros sobre os estudantes e a produção científica no Brasil, até cortes profundos de verbas para a educação e pesquisa. Nesse sentido, o Ministro da Educação Abraham Weintraub segue fielmente a linha obscurantista e negacionista de seu chefe, acatando a decisão do adiamento, não sem regurgitar amargamente a derrota. Contudo, o adiamento só foi aceito pelo governo depois da votação no Senado e antes de ir para a Câmara dos Deputados devido à conversa de Rodrigo Maia (presidente da Câmara) com Bolsonaro para se evitar uma derrota muito possível nas duas Casas do Legislativo, uma vez que o projeto já fora aprovado no Senado. Vale lembrar ainda que Maia, como presidente da Câmara, é quem pode aprovar algum dos inúmeros processos de impeachment protocolados contra o atual presidente.
Esses são fatos que expõem cada dia mais a força histórica de mobilização dos estudantes no Brasil, e que é possível empreender mudanças objetivas na realidade a partir dessa mobilização – mesmo que digital, por hora. Desde maio de 2019 os estudantes vão às ruas reivindicar contra Bolsonaro uma educação de qualidade, com investimentos à altura dessa pauta, para que as Universidades públicas se tornem cada vez mais democráticas, para que a pesquisa científica seja valorizada etc. O recuo do ministro que afirmava enfaticamente que “vai ter Enem”, ou do presidente que faz pouco caso da ciência, coloca-se como um descolamento, mesmo que mínimo, na “balança” da correlação de forças. A um governo genocida que está cada vez mais desgastado e expondo suas fragilidades, a mobilização pela base e uma vitória é a melhor resposta aos ataques feitos.
Agora que os estudantes começam a reencontrar sua força, que havia sido brevemente esquecida devido a dura realidade da pandemia, é preciso que essa vitória não seja a única. Se faz necessário que as organizações estudantis de maior importância, como a UNE e a UBES, não se contentem nem se contenham. Não se contentem com uma vitória que, apesar de sua extrema importância, é parcial, e nem se contenham em avançar suas políticas contra esse governo que já se declarou inúmeras vezes o inimigo número um da educação. Ainda existem pautas urgentes e tão importantes quanto o adiamento do Enem, assim como de todos os outros vestibulares. O projeto de precarização da educação e de seus profissionais tem nesse momento o EaD como principal eixo, e ele também devemos combater arduamente. Não demoraremos sobre a importância do combate a esse modo de ensino, pois já o fizemos em nota anterior e mais elaborada, mas vale ressaltar a característica profundamente antidemocrática que ele traz, uma vez que a maior parte dos estudantes brasileiros não possuem condições técnicas e objetivas de manter um estudo minimamente eficiente em suas casas, onde muitas vezes falta internet, computadores, ou até condições básicas de subsistência em tempos normais, quem dirá durante uma crise sanitária da magnitude que presenciamos hoje.
Há que se avançar também em políticas diretamente contra o governo Bolsonaro, como as chamadas pelo Fora Bolsonaro e Fora Mourão. Acreditamos que a juventude tem um importantíssimo papel a cumprir para combater esse grande giro à direita que acometeu o Brasil e o mundo nessa última década, assim como as mulheres. Esses dois setores da sociedade são a ponta-de-lança de uma reação que pode se tornar cada vez mais possível com a constante organização e mobilização autônoma. Por isso, é importante que essas organizações estudantis cumpram seu papel histórico na agitação e avanço de políticas para uma educação de qualidade, laica e democrática!
Nenhum e nenhuma estudante a menos!
Pelo fim do EaD!
Garantir a permanência estudantil!
Fora Bolsonaro!
Fora Mourão!
Fora Wintraub!
Eleições Gerais!