Uma banda que se orgulha de não ter nenhum hit em 40 anos e que sempre se distanciou da lógica da acumulação capitalista que transforma artistas em celebridades a serviço da indústria cultural
RENATO ASSAD
Compartilho com vocês um trecho do show (link ao final do texto) que teve como objetivo central dividir a letra, a melodia, a arte, o palco e o protagonismo com o público ali presente. Numa revolucionária dinâmica de apresentação, ninguém menos que New Model Army poderia ter realizado tal façanha, improvável nos dias de hoje, mas extremamente simples e coletiva. Algo praticamente impensável aos “célebres” artistas da música.
A banda que se orgulha de nunca ter tido um hit se quer em 40 anos de atividade e autora de músicas como “Milícia Cristã” e “Aí Vem a Guerra”, ficou conhecida pela seu militância e posicionamento político na cena do rock. Em uma humilde carreira, o grupo, que apresentou várias formações, evitou ao máximo os holofotes que direcionam à uma cega ganância de capitalização de obras musicais, fato que na minha opinião contribuiu para a supressão de um sucesso exponencial.
A polêmica banda britânica liderada por Sullivan, nunca escondeu a sua sensível consciência frente o contraditório mundo capitalista e suas nefastas e importantes figuras como Bush – “homenageado” ao público nos principais shows de 2003. Quando estiveram aqui no Brasil em 91, não puderam deixar de centralizar a discussão em torno dos preços dos ingressos, alegando que isso segregaria o acesso ao concerto.
Em uma mistura de punk, música celta e folk rock, as simples e densas letras deixam claro que a música para eles trata-se de uma coletivização e aproximação coletiva de angústias e anseios, sob, imagino eu, uma sensível e cheia de empatia percepção de mundo.
A primeira faixa deste concerto (51st State) é uma clara crítica aos Estados Unidos e sua formação social e conta com frases como “tire seu chapéu para a concorrência yankee”, “diga o que quiser mas isso não muda absolutamente nada, porque os corredores do poder estão a um oceano de distância” e “sabemos como limpar os dentes e despir uma arma”.
Frente ao nosso tempo, New Model Army nos deixa uma mensagem, que não posso deixar de interpretar de outra maneira – hoje mais do que nunca precisamos construir e apostar em um protagonismo coletivo, em uma arte revolucionária e dividir sem hesitar o palco sob o som da linda melodia que é a luta de classes.