MICHAEL ROBERTS(*)
Os mercados financeiros em todo o mundo continuam a subir ou descer com qualquer notícia sobre a guerra comercial dos EUA e China. Quando o presidente Trump anunciou que os chineses o haviam chamado durante a cúpula do G7 em Biarritz para chegar a um acordo nas negociações sobre um acordo comercial, as bolsas de valores subiram. Em poucas horas, quando a China denunciou que não havia tal ligação e que eram apenas as “notícias falsas” de Trump, os mercados caíram novamente.
É claro que a batalha comercial em curso se tornou o gatilho para o colapso do mercado de ações e uma mudança maciça em direção aos títulos do governo e ao ouro como “refúgios”. Mas é mais do que isso. O crescimento global desacelerou e o investimento das empresas diminuiu drasticamente. Isso se deve a uma queda dos ganhos corporativos, uma recessão de ganhos.
Tomemos os lucros das 500 empresas mais importantes segundo o seu valor na bolsa de valores dos EUA, de acordo com o índice S & P-500. Com quase todos os resultados do segundo trimestre de 2019 terminando em junho, os lucros totais (ganhos) são de apenas 0,5% e a receita de vendas de apenas 4,7%. Após levar em consideração a inflação atual, os ganhos reais foram negativos e a receita apenas positiva. E isso é para as 500 empresas mais importantes.
Para as empresas menores, a situação é ainda pior. Os ganhos se reduziram em mais de 10% desde o ano passado e as receitas aumentaram apenas 2,2%, ou nada após a inflação. Excluindo o setor financeiro, os ganhos teriam caído 21%. Uma análise setorial mostra que o setor de varejo se saiu melhor porque o consumidor dos EUA continuou gastando, junto com o setor financeiro. No entanto, os setores produtivo e tecnológico sofreram uma queda de 6,3% em seus lucros. E essa é a chave.
No primeiro semestre de 2019, os ganhos estão em território negativo em comparação com um aumento de 23% na primeira metade de 2018. E a previsão de ganhos para o T3 é uma nova queda de 4,3% em relação ao ano anterior.
Em todos os lugares, a produção nacional está caindo. A resposta usual é vender mais no exterior por meio de exportações. Mas o futuro do comércio mundial é sombrio. A empresa holandesa de dados CPB fornece dados mensais para o comércio mundial. E em junho, o comércio mundial caiu 1,4% em relação a maio e em relação a junho de 2018. De fato, o comércio mundial caiu desde outubro de 2018 um montante de 3,5%.
E agora a guerra comercial está se intensificando. Na semana passada, a China anunciou que estava impondo tarifas sobre as importações dos EUA em retaliação às tarifas dos EUA em setembro sobre as importações chinesas já anunciadas por Trump. Em retaliação, Trump anunciou rapidamente mais aumentos de taxas.
Os economistas do JP Morgan estimam que o efeito direto dessas medidas tarifárias no crescimento da China, já em desaceleração, será equivalente a 0,2% de sua taxa de crescimento e resultará em uma perda sustentada de 0,5% do PIB da China. Os aumentos adicionais com os quais Trump ameaça aumentariam a perda para 0,9%. O crescimento dos Estados Unidos também sofreria o golpe, de 0,25% a 0,5% de perda permanente de seu PIB. Ainda mais preocupante é que a incerteza sobre o quão longe esta guerra está levando as empresas, que sofrem com a desaceleração ou com a queda nos lucros, como temos visto, estão ainda menos dispostas a fazer novos investimentos.
O crescimento do investimento global já foi reduzido para apenas 1% ao ano, de acordo com o JPM. Se o investimento for negativo em todo o mundo nos próximos trimestres, o crescimento do PIB do mundo real, atualmente em torno de 2,5% ao ano (dependendo de como é medido), seria reduzido a zero. Em outras palavras, uma recessão global.
(*) Fonte: https://thenextrecession.wordpress.com/2019/08/28/the-trade-trigger/
Original em espanhol – http://izquierdaweb.com/el-detonante-comercial-de-la-recesion/
Tradução do espanhol: José Roberto Silva