A batalha para superar a direção burocrática no movimento feminista – um balanço sob a perspectiva das Vermelhas.

DEBORAH LORENZO

Ocorreu, nesta última terça-feira (8), a marcha das mulheres que reuniu a vanguarda dos movimentos feministas, coletivos de mulheres vinculados a partidos e centrais sindicais, além de independentes. Após a concentração no vão do MASP o ato percorreu a Rua Augusta sentido praça Roosevelt.

Embora seja um elemento construtivo importante que um ato em pleno horário comercial, em uma terça-feira, tenha reunido manifestantes em cerca de 40 municípios, cuja estimativa inicial apenas para São Paulo era de 15 mil pessoas, não podemos desconsiderar alguns elementos desmobilizadores que marcaram profundamente a organização e, como consequência, o resultado final deste 8 de março.

Não é novidade que o movimento de mulheres no Brasil foi hegemonizado pela burocracia, sobretudo a petista. Este setor majoritário vem boicotando qualquer faísca de radicalização do movimento e retardando o avanço em pautas fundamentais para os direitos das mulheres. Esta é a mesma tática conservadora e conciliatória adotada por este partido, para conter as massas e manipulá-las conforme seus interesses.

Em vigência de um ano eleitoral esta tática fica ainda mais evidente. O eixo “Pela vida das mulheres, Bolsonaro e Dória nunca mais! Por um Brasil sem machismo, racismo, fome e LGBTQIA+fobia.” sugestiona que as pautas e reivindicações históricas das mulheres e da classe trabalhadora não apenas podem ser resolvidas através da superestrutura governamental burguesa, como omite o fato de que não basta Bolsonaro cair para dar fim ao bolsonarismo – uma perigosa força de extrema direita que persistirá após as eleições, mesmo com a derrota – se de fato ocorrer – de Bolsonaro.

Nesta perspectiva consideramos perverso o que fazem as organizações majoritárias do movimento de mulheres. Mentem e ludibriam suas integrantes em nome de seus interesses eleitoreiros. Desmobilizam a luta nas ruas, mais radicalizada, com ideias e falsas promessas de um “Brasil feliz de novo” com Lula (e Alckmin) – governo este, que certamente legitimará uma série de ofensivas conservadoras sobre nossos direitos, como parte do acordo de “conciliação de interesses”. Nos desarmam! 

O silenciamento 

“O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.” 

Simone de Beauvoir

Diante deste balanço dos elementos que regeram a construção do 8M 2022, gostaríamos de colocar um último ponto sobre um acontecimento lamentável: o veto à fala das Vermelhas no ato.

Durante a concentração no vão do MASP houve abertura de inscrições para fala dos coletivos de mulheres. Ao reivindicarmos nosso espaço democrático de fala, fomos surpreendidas com uma negativa e uma justificativa duvidosa de que apenas coletivos feministas independentes poderiam falar – argumento que se autorrefutou no decorrer das inúmeras falas de companheiras pertencentes a coletivos ligados ao PT, dentre outros partidos. 

Não esperávamos falas radicalizadas, contudo não contávamos com este silenciamento. O fato é que não havia ali espaço para vocalizar qualquer oposição mais dura ou que pudesse colocar em xeque as enormes contradições e omissões presentes no eixo norteador do evento e, sobretudo, na equação eleitoral de derrota a Bolsonaro.

Desta forma, gostaríamos de utilizar este espaço legítimo que nos pertence para transmitir aquilo que não nos foi permitido durante a marcha das mulheres. 

Nos voltamos a você que integra ou apoia a causa feminista. Não se deixe enganar. É falso que a derrota de Bolsonaro nas urnas resolverá nossas necessidades mais emergentes, quiçá as históricas, é inclusive prematuro cantar vitória convicta de uma derrota fácil, sem resistências ou dura batalha. Lembre-se, o bolsonarismo é uma força reacionária, de extrema direita, que transcende a figura de Bolsonaro e já se incorpora nas entranhas da sociedade machista e patriarcal há tempos. Forças assim, estruturais, só são derrubadas pela mobilização permanente e organizada, pela luta radicalizada nas ruas, com consciência de classe, com um programa anticapitalista sem qualquer diálogo com representantes da burguesia e do capital financeiro. Neste sentido, nossas companheiras do México, Colômbia, Argentina, Cuba, Guiana e Uruguai nos ensinam como se faz!

É por estes motivos que nós, Vermelhas, apostamos na construção de uma frente de mulheres que lutem por um programa anticapitalista, antipatriarcal, abolicionista e nos colocamos como uma alternativa para todas as mulheres e apoiadores do movimento feminista – movimento negro, pessoas LGBTQIA+, juventude – que estejam dispostos a travar uma luta radical diante das opressões estruturais da sociedade e do sistema capitalista.

Chamamos a todos que queiram construir conosco para nos contatar por meio de nossas redes: @vermelhass e @ja.basta

Olhem como lutam as mulheres!

Por um futuro no qual sejamos verdadeiramente livres.

Mulheres nas ruas, Bolsonaro e o Bolsonarismo no chão!