País vive há quase um mês duríssimos enfrentamentos com o governo. Mesmo com bloqueio midiático da imprensa internacional, e com parte do país incomunicável sem redes sociais ou qualquer conexão a internet, manifestantes marcam novos protestos para essa sexta-feira (25).

Por Rosi Santos

Nem mesmo os quase 160 mortos nas manifestações, os diversos toques de recolher, quase 5 mil feridos, a censura local e invisibilidade da imprensa mundial, tem desencorajado a rebelião do já tão aviltado povo iraquiano. Os protestos mais massivos vem ocorrendo há algumas semanas, mas a revolta social já vem sendo gestada há meses.

Essa verdadeira rebelião popular, chega aos dias de hoje em consonância com as demais rebeliões na América Latina e no mundo. São milhares de manifestantes nas ruas do país canalizados pela exigência de saída imediata do primeiro-ministro, Adel Abdel Mahdi e toda sua cúpula, que, além de ignorarem a situação desesperadora da economia e das condições de vida dos trabalhadores – com escassez de água potável, eletricidade e ausência de infra-estrutura -, estão envolvidos em um mega esquema de corrupção.

As manifestações ocorrem em várias cidades do país, mas é na icônica Praça Tahrir, na capital Bagdá, que os manifestantes estão sofrendo uma impressionante repressão. A polícia vem reprimindo a população com disparos de arma letal.

Os protestos contra o governo, que está no poder há pouco mais de um ano, igual que a maioria dos conflitos que vem ocorrendo, estão sendo organizados pelas redes sociais. Os iraquianos queixam-se principalmente do desemprego absurdo, da decadência de todos os serviços públicos e de um governo corrupto, que governa a portas fechadas para o povo.

Diversas províncias do país, já confirmam novos protestos nesta sexta-feira (25)

Durante toque de recolher, em Bagdá, no Iraque. Fotos: Reuters/Thaier Al-Sudani

O elemento político mais valioso, independente se as massas iraquiana vão conseguir seguir nas ruas ou não, depois de tanto tempo em luta respondida com uma dura repressão, é que depois de esperar por alguma superação dos problemas políticos e econômicos, vinda de cima para baixo, desde invasão americana, nesse momento a maioria da população iraquiana têm recobrado para si a responsabilidade sobre as transformações sociais do país.

Chama a atenção o nível da organização em que os manifestantes encontram-se. Muitos chegam de caminhões de várias lugares do país e tomam toda a Praça Tahrir de maneira concentrada. Quando chegam já há bloqueio policial na praça, porém com a força da multidão vão “empurrando” para fora da praça os tanques das forças especiais de repressão e, em muitos casos, há repressão para dispersar os manifestantes na maioria das vezes ocorrem com disparos de armas letais da polícia, como já dissemos.

A repressão utilizada pelo governo nos protestos de 4 de outubro aumentou a polarização e a radicalidade dos protestos. Depois disso, os manifestante se cobriram de legitimidade nas ruas e afirmam que tal violência, vinda de um governo desonesto e fracassado politicamente é inaceitável. E mais do que nunca, seguem mobilizados exigindo que o presidente e todos os seus membros apresentem renúncia.

Anos de crise gestam uma situação insustentável

Essa explosão de indignação popular resulta, dentre outras coisas, da crise do capitalismo de 2008, das duas invasões americana e dos mais de 100 anos de pilhagem e saque imperialista na região. A única forma do povo iraquiano vencer é pela unidade, derrubando com um só golpe todo o sistema político decomposto e cristalizado no país.

E a burguesia está aterrorizada com esse possibilidade. Pois unificados os trabalhadores iraquianos esquecem por um momento as diferenças,- muitas delas incentivadas e atiçadas pelo imperialismo dos EUA e pelo Estado Islâmico (EI) -, entre a população sunita e os xiitas de Bagdá.

O que toda a classe dominante do Oriente Médio, ao lado de seus aliados ocidentais, temem mais do que tudo é que os protestos se massifiquem ainda mais, e que as populações da região se unam através de bandeiras classistas que vão para além das diferenças nacionais e religiosas.

A Federação dos Conselhos de Trabalhadores, Sindicatos do Iraque e o Partido Comunista dos Trabalhadores Iraquianos, vêm levantando há algumas lutas, bandeiras de nacionalização para frear a escalada de privatização, que passa o país em seus seguidos governos. No entanto, não possuem nenhuma política concreta para evitar que os seguidos levantes no país sejam capitaneados por fracções e milícias sectárias, que usam inumeráveis vezes o movimento para angariar apoios, totalmente escusos ao interesses das maiorias.

Nesse sentido, é fundamental um programa que possa unir todos oprimidos e ao mesmo tempo desafiar as raízes causadoras de todos os problemas da sociedade iraquiana, convocando uma greve geral pelo Fora Mahdi e exigindo a renacionalização das indústrias e das grandes companhias do país, sob o controle democrático dos próprios trabalhadores, para que também essa luta caminhe para um estado socialista democrático, secular e livre de toda opressão e exploração dos trabalhadores, juventude e mulheres.

Fora Mahdi! Punição exemplar a todos os assassinos a mando do Estado!

Toda visibilidade e solidariedade a luta do povo iraquiano!

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