“A Amazon não nos deixa ir”, foi a última mensagem de texto enviada por um dos empregados falecidos, minutos antes de um tornado ter destruído o galpão da empresa em Edwardsville, Illinois.

Renzo Fabb

A onda de tornados que atingiu cerca de seis estados americanos este fim-de-semana deixou mais de 80 pessoas mortas nos EUA. Seis deles foram mortos quando não tiveram autorização da Amazon para deixar o seu trabalho.

Na sexta-feira à noite, avisos de tornado foram desencadeados no Arkansas, Illinois, Kentucky, Missouri, Mississippi e Tennessee. Para além das mortes, os ventos fortes causaram danos generalizados e perdas materiais.

Porém, um dos acontecimentos mais notáveis ocorreu no galpão da  Amazon em Edwardsville, Illionois, onde seis trabalhadores da emrpesa foram mortos. Apesar dos avisos nas horas que antecederam o tornado, e mesmo do aviso da proximidade do tornado, meia hora antes de tocar terra, a empresa obrigou o seu pessoal a permanecer nos seus postos de trabalho e a refugiar-se nos banheiros das instalações caso necessário, de acordo com os sobreviventes.

Os trabalhadores começaram a receber alertas em seus telefones celulares a partir das 20:06 horas. Entretanto, o tornado não atingiu o prédio até depois das 20h30min. Segundo estimativas das autoridades meteorológicas de Illinois, era exatamente às 8:39 quando o tornado começou a desfazer o galpão, de acordo com seus radares. Isto significa que os trabalhadores poderiam ter evacuado o local meia hora antes. Mas a resposta da empresa foi uma proibição de sair das instalações, e uma “recomendação” para usar os banheiros como abrigos.

O companheiro de Larry Virden, um dos mortos, disse que minutos antes do tornado, ela recebeu uma mensagem de texto de seu namorado dizendo-lhe que a empresa “não nos deixa sair”. Enquanto isso, um dos 45 funcionários sobreviventes que puderam ser resgatados do local disse à mídia local que “a Amazon sabia que estávamos enfrentando tempestades potencialmente mortais. Todos nós sabíamos disso. Eles tomaram a decisão de enviar trabalhadores para um armazém gigante sem garantia e agora os trabalhadores estão mortos.”

A empresa de Jeff Bezos, a pessoa mais rica do planeta, é conhecida por seu trabalho análogo à escravidão e práticas de superexploração, com métodos terríveis de controle e vigilância sobre seus trabalhadores.

Outra questão sobre a responsabilidade da Amazon pela tragédia diz respeito à proibição de seus trabalhadores utilizarem telefones celulares no trabalho. Como muitos dos funcionários desobedeceram à regra, eles puderam estar cientes dos alertas que indicavam a chegada iminente do tornado e tiveram tempo de pelo menos tentar encontrar um lugar que parecesse seguro. A empresa nega publicamente a existência de tal proibição.

Temporada de superexploração

O fato de a tragédia coincidir com a aproximação da época das férias está diretamente relacionado com a decisão da empresa de aumentar sua força de trabalho temporária para lidar com a demanda. Todos os anos, milhões de americanos encomendam seus presentes de Natal através da Amazon, para os quais a empresa contrata milhares de pessoas em todo o país de forma temporária e/ou terceirizada.

De acordo com um funcionário que preferiu permanecer anônimo, apenas sete trabalhadores da fábrica de Edwardsville (um armazém construído no ano passado para atender ao aumento da demanda durante a pandemia) são organicamente vinculados à empresa, enquanto o restante é terceirizado através de outras empresas. Este será um dos principais argumentos que a Amazon utilizará para se dissociar de qualquer responsabilidade pelas mortes da última sexta-feira.

Muitos desses trabalhos temporários são motoristas das vans e pequenos caminhões que transportam pacotes de um armazém para outro, distribuídos em todo o país. Embora a Amazon argumente que contrata “pequenas empresas de transporte local” para lidar com a demanda nesta época do ano, as vans são invariavelmente marcadas com o logotipo da Amazon.

Estima-se que a empresa de Jeff Bezos utilize cerca de 3.000 empresas para terceirizar o trabalho, principalmente quando se trata do transporte de encomendas. Em inúmeras ocasiões, grupos de trabalhadores que lutam pela sindicalização denunciaram que este modelo de trabalho foi concebido para absolver a Amazon da responsabilidade pelos riscos ocupacionais e pelas conseqüências desastrosas para a saúde decorrentes do trabalho nos enormes armazéns de triagem e envio de encomendas, bem como para evitar a organização dos trabalhadores.

O CEO da Amazon, Andy Jassy, disse no Twitter que a empresa estava “com o coração partido pela perda” de seus funcionários. Entretanto, o luto dos empregadores não parece ser suficiente para que a empresa os reconheça efetivamente como seus empregados.

Tradução Renato Assad