Unificar lutas é cada vez mais necessário para enfrentar patrões e governo
No primeiro trimestre os trabalhadores das obras do PAC voltaram a protagonizar importantes enfrentamentos com os patrões e com o governo, como foi o caso dos trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Jirau, em Porto Velho, estado de Rondônia, que enfrentaram o governador Confúcio Moura (PMDB), o ministério regional do trabalho e a repressão da guarda nacional a mando de Dilma Rousseuff, todos alinhados com os interesses da Construtora Camargo Correa. Nos últimos meses quem protagonizou a maior onda de mobilizações foram os trabalhadores do setor de transporte e os funcionários públicos federais.
Apesar da política da grande mídia e das burocracias sindicais para isolá-los, e para que suas lutas e reivindicações não cheguem a conhecimento da maioria dos trabalhadores, acabam roubando a mídia pela sua combatividade truculência com a qual esses movimentos são tratados pelos patrões e pelo governo. Essas lutas, a exemplo do que vem ocorrendo na obras do PAC, são feitas, em muitos casos, contra os dirigentes dos sindicatos, que em sua maioria são ligados a central única dos trabalhadores, base de sustentação do governo. Mesmo sem o apoio dos dirigentes burocráticos, os trabalhadores enfrentam governos patrões e para conquistarem reajustes salariais e outras reivindicações econômicas.
São processos que se dão em resposta a política econômica aplicada pelo governo e o que se pode chamar de “início da falência do atual modelo de dominação”. As perdas salariais que vêm se acumulando com a tendência inflacionária dos últimos meses se agrava com a desvalorização da moeda local em relação ao dólar, então, os trabalhadores acabam tendo de enfrentar os seus “próprios dirigentes”- na sua ampla maioria governistas – na luta contra a exploração que se agrava.
Greve dos trabalhadores do metrô colocou Alckmin e sua política de privatização contra a parede
Há vários anos é denunciado que o metrô paulista passa por um processo de saturação em suas operações. A falta de política de expansão – principalmente dos governos do PSDB – é a responsável pela situação trágica na qual se encontra o metrô mais lotado do mundo (11 pessoas por metro quadrado).
A privatização e a falta de investimento têm transformado as operações do metrô em uma verdadeira bomba relógio, ocasionando acidentes o da linha vermelha (que feriu mais de 33 pessoas), além de vários incidentes cotidianos. As obras realizadas por consórcios privados, como ocorrem com os trabalhadores das obras do PAC pelo país, são realizadas nas condições mais precárias de segurança para os trabalhadores e para a população, o desabamento da estação pinheiros na linha amarela, o acidente e a morte de dois operários na construção da linha lilás no dia 22 de junho são exemplos disso,
Para que o metrô paulista pudesse dar conta da demanda seria necessária a existência de 200 km de linhas em operação, atualmente o metrô opera com 70 km. As atuais políticas governamentais vão fazer com que o déficit aumente devido ao crescimento da população e, ao contrário do que diz o governo do estado, isso não se deve a falta de orçamento, mas sim no seu direcionamento. O orçamento do Estado de São Paulo dobrou no período de 2004 a 2011 e cálculos inflacionários do ano 1985 ate hoje (131%) feitos pelos metroviários indicam que hoje o bilhete deveria custar R$1,84 e não R$ 3,00, isso proporciona um lucro de R$1 bilhão por ano, fora o investimento governamental. Essa situação é explicada pela prioridade quase absoluta dada para o padrão de transporte que foi imposto no Brasil desde a década de 50, ou seja, o transporte individual.
Apesar da força do movimento categoria tem conquista rebaixada
A greve do metrô paulista durou 15 horas e já obrigou o governo do estado a apresentar uma proposta rebaixada. Essa greve ocorreu simultaneamente com outras categorias do transporte no estado em todo o país, como CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) que estavam em greve nos estados de Belo Horizonte, João Pessoa, Maceió, Natal e Recife. Mesmo contra a vontade das burocracias sindicais a força da greve dos metroviários poderia impor um processo de unificação na prática que poderia deixar claro quem são os verdadeiros responsáveis pela situação do transporte na cidade de são Paulo. Em São Paulo, não foram apenas os metroviários que entram em greve, trabalhadores de empresas de ônibus também realizaram dias de paralisação para conseguirem reajustes salariais e outras reivindicações econômicas.
Durante a greve o governo do estado de São Paulo veio a público acusar os trabalhadores de que a greve era política. O que quer dizer um governador do PSDB ou qualquer outro representante da classe dominante ao afirmar isso? Quer dizer que os trabalhadores não têm o direito de utilizar os meios necessários para lutar contra a exploração econômica ou contra a opressão política. Para esses senhores só a aristocracia que representa a classe dominante tem o direito de fazer política, de se utilizar de todos os meios, porque além do poder econômico dispõe dos meios ideológicos e materiais, para manter a dominação sobre a maioria.
O problema da greve do metrô foi justamente o contrário, não alçou, como tem sido comum nos movimentos grevistas brasileiros na última década, a necessária condição política para colocar em questão o conjunto do projeto político da classe dominante, fazendo com que a disputa política se dê apenas entre questões táticas e em torno de qual partido da classe dominante – disputa que tem se dado principalmente entre o PT e o PSDB, cumpre melhor os interesses da burguesia.
No enfrentamento aos governos e aos patrões existe um obstáculo adicional que é necessário transpor: a burocracia sindical. Esses dirigentes atuam constantemente no sentido de que as lutas não ultrapassem os pequenos reajustes salariais e para que os trabalhadores não unifiquem suas demandas impondo derrotas política aos governantes e a burguesia. A burocracia é fundamental para ajudar a classe dominante a convencer os trabalhadores de que o sindicalismo só serve para lutar por melhorias salariais. Por isso que os trabalhadores do transporte em São Paulo fizeram greves simultâneas sem que houvesse nenhum movimento unificado que incluísse com força.
Um processo de lutas unificado do setor do transporte em São Paulo poderia colocar totalmente contra parede governo estadual, municipal e a burguesia que explora esse setor. Para isso faltou articulação das campanhas salariais do setor e uma coordenação comum para organizar uma campanha salarial conjunta no Estado e, quiçá, em âmbito nacional com um o eixo que passe por mais investimentos, aumentos salarial, estatização das empresas de transporte com controle dos trabalhadores, melhores condições de trabalho e dos serviços oferecidos aos trabalhadores.
Ao fazer um balanço dos resultados da greve o presidente do sindicato dos metroviários, Altino de Melo Prazeres, “a proposta da empresa não é a melhor, ainda é muito insuficiente, mas é um conquista e isso não porque Alckmin gosta dos metroviários, mas é o resultado da nossa luta” (Greve no metrô: Quem faz São Paulo parar? Por Altino Prazeres, 23/05/2012, http://cspconlutas.org.br). Após cinco anos da última greve o movimento, segundo o próprio representante do sindicato havia uma adesão de 100% dos operadores de trem e uma forte adesão dos setores que não costumam paralisar. Em meio a essa vitalidade do movimento a onda de greves no setor de transporte recuar de uma greve em menos 24 horas de paralisação significou a perda da possibilidade de conquistar uma vitória categórica dos metroviários não apenassalarial.