Terminada a eleição os tucanos deixam as aparências de lado

São Paulo: Bruno Covas então candidato a reeleição durante missa do dia do Professor na Catedral ca Sé foto :Patricia Cruz.

Doria só apareceu ao lado de Covas após a vitória eleitoral ter sido confirmada, desde então retomaram os ataques reacionários com uma série de medidas como o fim do jantar no Bom Prato e a privatização do Complexo do Ibirapuera

Gabriel Mendes

Assim que foi confirmada a vitória eleitoral de Bruno Covas em São Paulo algumas aparências de momento foram desfeitas, no pronunciamento Covas esteve ao lado de duas figuras que ficaram apagadas até o último minuto da campanha, o vice da chapa Ricardo Nunes (MDB) e o governador do estado João Doria (PSDB). No discurso de conciliação Covas reivindicou a saúde, a ciência, a moderação e o equilíbrio, criticou o negacionismo e disse que é possível fazer a política “sem ódio”. 

“São Paulo mostrou que restam poucos dias para o negacionismo e obscurantismo. São Paulo disse sim para a democracia, para a ciência, para a moderação e para o equilíbrio. Hoje é o dia de celebrar nossa vitória”.  

Se não soubéssemos quem foi bem que o discurso poderia ter passado como de algum candidato do “campo progressista” marcando oposição ao principal derrotado das eleições municipais, o bolsonarismo. Mas trata-se do PSDB. Depois do simpático discurso as ações mostraram que de fato é um governo com profundo ódio de classe, que chega próximo dos trabalhadores e dos mais pobres pela necessidade de cumprir as tarefas eleitorais.

Não adianta rezar no dia do professor. A prefeitura de Doria/Covas foi responsável pela aprovação do SAMPAPREV, confisco do salário dos servidores e ataque ao direito a aposentadoria. Durante a aprovação do projeto a GCM a mando do prefeito reprimiu violentamente professores!

Na segunda-feira (30) Doria anunciou o retorno à fase amarela do “Plano São Paulo” para todo o estado, o que significa medidas de restrição para diversos serviços. Na cidade de São Bernardo do Campo, também governada por um tucano, as medidas foram implementadas na semana anterior ao segundo turno através de um decreto do prefeito reeleito no primeiro turno, Orlando Morando. Enquanto o governador segurava as medidas para tentar conter o avanço da pandemia e não prejudicar a eleição de seu aliado também chegam denúncias graves que mostram que o avanço do Covid-19 é como Doria escolhe¹.

Segundo dados levantados pela Rede Brasil Atual (RBA), Doria omitiu 2.506 internações por Covid-19 para recuar São Paulo apenas à fase amarela e não para a fase laranja. O dados do Censo Covid-19, levantados pelo próprio governo estadual, que calculam a taxa de ocupação dos leitos em hospitais públicos, indicavam no sábado (28) 12.195 leitos ocupados (71,7% dos leitos de UTI), enquanto no boletim diário divulgado por Doria divulgava 9.755 leitos ocupados (51,1% dos leitos de UTI). Nesse sentido, eram pra ser adotadas medidas mais restritivas para conter a disseminação do vírus e garantir condições de isolamento social. 

Doria e Covas não propõem medidas para garantir emprego, renda – o que possibilitaria para a maioria da população cumprir medidas de isolamento – ao contrário, retomam a agenda privatista com o reforço obtido pelas urnas.

Logo após decretar o retorno à fase amarela, Doria cortou o jantar oferecido pelos restaurantes Bom Prato, que serve almoço e jantar a R$1, em 57 das 59 unidades e também decretou o fim dos atendimentos em finais de semana e feriados. A declaração da Secretaria de Desenvolvimento Social do governo do estado é a cara da política tucana, afirmando que o atendimento nos restaurantes Bom Prato aos finais de semana, feriados e jantares foi criado em caráter emergencial e temporário “para garantir segurança alimentar das pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social durante a pandemia de coronavírus”². Para entender os tucanos, ao invés da declaração oficial do governo bastaria apenas relembrar a opinião amplamente difundida da primeira dama, Bia Doria, sobre os “atrativos” da rua: https://www.youtube.com/watch?v=rkzyoUwJGTc.

Outra medida articulada por Doria essa semana que escancara a quais interesses seu governo serve, indo no caminho da destruição do patrimônio público e pelas privatizações, foi a manobra no CONDEPHAAT ( Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) que  definia nesta semana sobre o tombamento do complexo esportivo do Ibirapuera. Se fosse aprovado o tombamento da área onde está o Ginásio do Ibirapuera e outras instalações, dificultaria em muito os interesses dos especuladores imobiliários, por isso Doria emitiu um decreto que ampliou a participação dos representantes do governo no órgão, vencendo a posição pelo não tombamento. 

A manobra abre caminho para a destruição do complexo esportivo, no Relatório de Modelagem Econômica Financeira, o Ibirapuera é traçado como “Shopping”. Ao entregar para o capital imobiliário será enterrado não apenas como patrimônio histórico, mas principalmente como centro para o esporte, formando atletas e tocando projetos com centro na juventude.

O ataque ao esporte não irá passar sem luta, bem como nenhum ataque promovido pelos tucanos, a “direita tradicional”. Como trouxemos no balanço eleitoral mais recente publicado no portal EsquerdaWeb³, a extrema-direita bolsonarista foi derrotada nas urnas e perdeu espaço para os velhos partidos da direita da ordem, como o PSDB, DEM, MDB e PP que concentram, a partir de agora, a condução de grande parte das capitais e o maior número de municípios pelo país. Estes são partidos neoliberais, entreguistas, que reprimem as mobilizações dos trabalhadores, profundamente antioperários que saíram fortalecidos pelo deslocamento do apoio da classe dominante a alternativas não-negacionistas com abertura para concessões pontuais como resposta às mobilizações.

Esses setores começam a sinalizar uma frente eleitoral ampla “antibolsonarista” que se diferencie e se postule aproveitando as fragilidades de uma alternativa nacional de esquerda. Recado dado por Eduardo Paes (DEM) no Rio de Janeiro e Covas (PSDB) em São Paulo. Terão tarefas difíceis para avançar nessa alternativa pela direita, pois terão que lidar com distintos interesses que representam esses partidos, das disputas por protagonismo inter-bloco e um percurso que será carregado de enfrentamentos com o bolsonarismo que sai do processo eleitoral enfraquecido, mas não derrotado, e enfrentamentos com a classe trabalhadora e seus instrumentos de organização e luta.

Nesse sentido, é necessário fazer balanços a partir dos núcleos organizativos e partidos de esquerda, colocando em discussão a necessidade de organizar a disposição de luta militante de milhares de pessoas que saíram pras ruas para construir campanhas como a de Guilherme Boulos em São Paulo, colocando a perspectiva de luta direta, tendo os mandatos parlamentares como importantes pontos de apoio.

Pra já convidamos: Socialismo ou Barbárie-Tendência do PSOL convida para a atividade “Balanço das eleições e os novos desafios políticos” que será feita virtualmente nesse sábado (5/12) às 17h!

Entre em contato com um militante SoB e receba o link para a atividade

Manifestação: No domingo, 06/12 às 9h, acontecerá o ato “Atleta não se compra em shopping”, em defesa do Complexo do Ibirapuera, do esporte e da juventude. Os mandatos do PSOL na Câmara Municipal, na Alesp e a militância estarão presentes junto a atletas e apoiadores do esporte.

Fora Doria. Fora Bolsonaro!

Filie-se no PSOL!

Notas

¹https://www.redebrasilatual.com.br/saude-e-ciencia/2020/12/doria-covid-sao-paulo-dados-omissao/

²https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/12/02/governo-corta-janta-de-57-das-59-unidades-do-bom-prato.htm

³https://esquerdaweb.com/eleicao-2020-derrota-de-bolsonaro-vitoria-da-direita-tradicional-e-psol-como-alternativa-de-esquerda/