No instante em que publicamos a tradução desta nota para o português, centenas de universidades por toda a Argentina estão sendo ocupadas pelos estudantes como resposta ao veto de Milei para o aumento do orçamento da educação superior pública. A partir de assembleias massivas pelas bases, rompendo com a inércia da burocracia peronista e kirchnerista, o movimento estudantil argentino pode estar começando a escrever um novo capítulo da história.  

Desde nossa juventude Já Basta! e corrente Socialismo ou Barbárie no Brasil, enviamos todo nosso apoio, força e solidariedade aos nossos camaradas do Nuevo Mas e de sua juventude Ya Basta! que hoje são uma das principais organizações nacionais do movimento estudantil e encabeçam o “estudantaço” contra a extrema direita de Javier Milei.

Redação 

Rumo a um “Outubro argentino”?

O levante estudantil está crescendo em todo o país: façamos como no Maio francês

Por Roberto Sáenz e Federico Dertaube

Neste momento, uma luta como a que não se via há anos está se espalhando por todas as universidades argentinas. O estopim foi o veto de Milei à Lei de Financiamento Universitário, seu desejo de sufocar o ensino superior público a todo custo.

Os porta-vozes mais lúcidos dos capitalistas argentinos vinham alertando Milei para não mexer com a Universidade, instituição de legitimidade muito grande, que poderia provocar uma explosão social. Mas Milei foi e fez isso de qualquer maneira. E agora ele tem a explosão em suas mãos.

O estudantaço, uma giro na situação política

A luta universitária é muito mais do que algo “reivindicativo”, sindical: é uma luta política. O que está em discussão é a educação. Não é apenas o salário do professor, nem o orçamento, é a educação como tal. Algo que pode se tornar uma espécie de “maio francês” na Argentina.

Não há memória de uma onda de ocupação universidades e faculdades dessa extensão na história recente. Embora o movimento estudantil seja há muito tempo um dos atores políticos mais importantes do país. E sua luta está se radicalizando agora em tempo real.

Os limites que as burocracias estudantis e os do sindicalismo dos professores vinham colocando na luta contra Milei estão sendo superados. As marchas massivas controladas pelas autoridades e pelos sindicatos foram demonstrações de força que mais tarde foram abandonadas quando o governo ainda fazia o que queria. O exemplo mais claro foi a marcha de quarta-feira (9), quando o veto ao financiamento das universidades foi discutido e aprovado no Congresso. Depois de uma marcha massiva uma semana antes, eles queriam entregar as ruas ao governo no dia decisivo.

As ações nas faculdades colocam o protagonismo no ativismo e nas bases, tiram o controle da burocracia, são ações de transbordamento. E só assim o governo pode ser derrotado, com radicalização.

O peronismo e os radicais procuraram tirar proveito da crise universitária eleitoralmente no próximo ano. A ação estudantil cortou sua agenda e foi colocada na agenda para derrotar o ataque à universidade, em vez de deixá-lo passar e esperar pelas eleições.

A luta estudantil é um teste de força, a luta de testemunhas contra Milei. A palavra de ordem de derrotar o veto de Milei implica superar os limites institucionais, que têm permitido ao governo implementar todas as suas medidas antipopulares.

As coisas estão apenas começando e já existem amplas expressões de simpatia pelo movimento estudantil nos locais de trabalho e nos bairros populares. E, de novo, as coisas estão apenas começando.

E a juventude anticapitalista de ¡Ya Basta!, uma das principais organizações estudantis de esquerda de todo o país, pode desempenhar um papel fundamental na radicalização dessa luta.

Há uma oportunidade para um maio francês, uma luta contra um governo que não quer ceder a nada, com massificação e radicalização. O movimento estudantil já começou a acender o pavio do movimento operário.

Temos que colocar o movimento estudantil à frente, porque ele vem superando o controle das direções sindicais, que em sua maioria têm capitulado ao governo.

Temos que derrotar Milei

Temos que impulsionar e construir as ocupações por tempo indeterminado. Se o governo quer se agrandar, nós também temos que nos agrandar. É a única maneira de eles não nos atropelarem. Agora é a hora.

Percebe-se uma mudança no estado de animo de amplos setores sociais e as universidades podem ser um centro de organização. A rejeição dos trabalhadores da Fate (empresa de produção e exportação de pneumáticos) em relação à ofensiva patronal, a luta dos residentes e demais trabalhadores da saúde, são sintomas do surgimento de outra situação política. E o movimento estudantil pode ser um fator de unidade de todas as reivindicações, com as faculdades como centros de organização comum. Como na França em 1968, a radicalização pode passar dos estudantes aos trabalhadores.

É preciso promover plenárias interfaculdades e um Encontro Nacional de Estudantes para organizar todas as ocupações de forma comum, com um programa comum, que parta da derrubada do veto de Milei. A organização de baixo pode sobrecarregar a liderança dos centros estudantis que não querem levar a luta até o fim. Os centros estudantis dirigidos pela esquerda podem e devem ser protagonistas desse movimento, por isso devem ser defendidos.

Não se pode estar pensando nas eleições do próximo ano. Milei deve ser derrotado agora. A votação da Lei de Bases foi um triunfo tático para o governo, não estratégico. Seu plano geral ainda pode ser derrotado.

Com ocupações por tempo indeterminado, com o objetivo de derrubar o veto, podem ser realizadas atividades cotidianas que tecem vínculos com todas as outras lutas.

Abaixo o veto! Chega de Milei! Pettovello fora!

Até algumas semanas atrás, tal situação parecia impossível. “Sejamos realistas, exijamos o impossível” foi a palavra de ordem da unidade dos trabalhadores e estudantes no Maio francês. Mas dezenas de milhares de estudantes estão entrando na cena política. Milhões de trabalhadores olham para eles com simpatia, sentem-se identificados, apoiam suas lutas. A história pode ser feita. Sim, ainda há um longo caminho a percorrer, ainda estamos começando, ainda fazer como o Maio francês parece impossível: “sejamos realistas, façamos o impossível!”.

 

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