Ridículo ataque do MRT à EFS e ao MAIS

Polêmica: ridículo ataque do MRT-PTS à EFS e ao MAIS

A PASO da Argentina na esquerda internacional*
 

FERNADO DANTÉS

A frente de esquerda “Esquerda em frente pelo Socialismo”, (IFS em esponhol e EFS em português), frente entre nosso partido Novo MAS e MST, existe oficialmente desde novembro do ano passado. A despeito da inaudita e sem precedentes demonstração de covardia política, o PTS nunca a reconheceu, nunca disse nada público em seus jornais ou página sobre a nossa existência. Nenhuma palavra sobre o porquê da necessidade de ter surgido outra frente da esquerda na Argentina, depois de sua negativa a sequer discutir a possibilidade de integrar outras organizações à FIT. (1)

Pela primeira vez, nos demos conta que o PTS, tem algo a dizer, através da mediação de sua organização do Brasil, o MRT, falam na forma de polêmica sobre o balanço do MAIS em torno da PASO, as primárias eleitorais da Argentina.

Começamos observando o título do artigo (em sua página web “Esquerda diário” (de 17 de agosto): “A FIT é a esquerda que cresce, exceto no mundo oportunista do MAIS”. Este título é digno do conteúdo que se segue. Não aceitar acriticamente os exageros, a auto ploclamacão e o louvor ao próprio umbigo do MRT converte uma organização em “oportunista”!

Isso é simplesmente digno dos argumentos – que não foram públicos, jamais públicos – que utilizaram para recorrer à justiça burguesa contra a EFS. Chamar-nos “esquerda” e usar a cor vermelha para eles foi uma tentativa de “copiar a FIT”. A identidade genérica de “esquerda” é como quase toda a população identificada ao trotskismo na Argentina. O absurdo é que, em 2005, 2007 e 2009 constituímos acordos eleitorais com o próprio MRT argentino, uma frente com o nome “Frente de Esquerda” e nunca nos ocorreu a tentativa de impugnar tal legenda após termos sido excluído da FIT em 2011.

A cor vermelha é patrimônio histórico da esquerda revolucionária faz pelo menos um século e meio. E mais, nos acusaram de copiá-los, por nos considerarmos marxistas! Nos parece razoável, não desistir de nossa identidade política pelos caprichos de algumas seitas.

O verdadeiro problema está em outro lugar.

É a partir de 2011 que este setor vem se proclamando “a única esquerda” com métodos pouco classistas. O mecanismo é simples: como ninguém, além da FIT na esquerda consegue nos últimos anos superar a Paso ou o piso proscritivo das primárias eleitorais – para seguir em campanha -, eles se veem de fato, como “a única esquerda”.(2)

Dedicaram-se por anos a sustentar está “história”, apoiando-se nos mecanismos antidemocráticos do regime político contra outras organizações de esquerda.

Com o estabelecimento da EFS, tornou-se uma possibilidade real de que os nossos partidos passassem o piso proscritivo – o que ainda não se concretizou na principal, mas se concretizou em várias outras províncias. Assim, a existência da EFS significava um risco eleitoral, levando este setor a recorrerem quatro vezes à justiça inimiga de nossa classe, contra a EFS. Utilizam os mesmos artifícios antidemocráticos da justiça e do regime burguês para validar sua autoproclamação! Com semelhante histórico, pretendem ser a expressão mais alta dos princípios revolucionários.

Realidade editada para se adequar a uma conveniência

É realmente difícil argumentar com este artigo. Não contém em si uma única ideia política aproveitável. Não é mais do que um acúmulo de exageros. Vejamos:

“A atuação do PTS (que conforma a FIT…) na luta de classes, como a enorme batalha de alcance nacional dos trabalhadores da multinacional Pepsico contra as demissões, fez com que os votos da FIT tivessem um caráter marcadamente operário e popular, que anteriormente eram hegemonizados pelo Kirchnerismo…” E então afirmam: “A Frente de Esquerda é a esquerda que cresce por que está solidamente fundada na luta de classes através da intervenção do PTS”.

A partir dessas linhas vêm duas ideias. A primeira é que de acordo com o MRT eles são a única organização que intervém na luta de classes. A segunda é que esta intervenção explica os resultados eleitorais da FIT. Tais declarações são simplesmente ridículas.

Vender para leitores brasileiros em geral, e para seus militantes em particular, a história de que são a única organização que intervém na luta de classes é, no mínimo, desonesto. Não só é um insulto à militância da EFS, mas também aos membros da FIT.

Deixando de lado, por um momento, as diferenças políticas entre organizações nas diferentes lutas, vamos registrar brevemente a realidade sem recortes.

O Partido Obreiro (PO) dirigiu este ano uma das mais importantes lutas do último período: AGR Clarín. A Esquerda Socialista (IS ligada a CST no Brasil) que também conforma a FIT, dirige os trabalhadores ferroviários da linha Sarmiento. Nosso partido em particular desempenhou um papel proeminente nas lutas de Gestamp, FATE, Pilkington, Massuh há alguns anos atrás. A esquerda em geral é sempre identificada por seu apoio às lutas dos trabalhadores. Se tomarmos o raciocínio absurdo da sucursal brasileira do PTS, da máquina auto proclamatória até o fim, pode-se concluir que, por si só, sem aliados, poderiam alcançar resultados eleitorais da FIT.

A desfaçatez com a qual mentem não tem limites. Dizem que a nossa frente procurou “criar a tese de que os deputados de esquerda não precisam se meter em todas as lutas, (referindo-se Nicolas Del Cano e Myriam Bregman PTS)”. A realidade é que nossa companheira Manuela Castañeira não teve que responder uma vez, mas duas vezes, na TV a uma proposta de campanha praticamente reformista de Del Caño candidato deles, que disse: “A realidade seria completamente diferente, com 20 ou 30 deputados (de esquerda)”, enquanto Manuela disse que não, que a conquista dos assentos parlamentares tem alcances práticos limitados e que o centro da estratégia no enfrentamento ao ajuste de Mauricio Macri estava nas ruas.

Há alguma dúvida do que dizemos? Deixaremos os links dos debates para que qualquer um possa vê-los com seus próprios olhos:

https://www.facebook.com/manuela.castaneira/videos/1549496471791890/

https://www.facebook.com/manuela.castaneira/videos/1523888154352722

Sigamos, mas adiante falam pomposamente do “crescimento inegável da FIT”. Em geral, a esquerda sempre tem melhores resultados nas eleições legislativas como essa para 2018, do que nas eleições presidenciais e é por isso que a comparação de desempenho mais apropriada é com 2013 e não com as eleições presidenciais de 2015.

No jornal “A Verdade dos Trabalhadores” de 15 de agosto de 2013, os companheiros escreveram uma nota sobre seu desempenho eleitoral: “900.371 votos para o FIT”. Esse é o número (real) de seus resultados para esse ano porque conta os distritos em que a FIT foi apresentada como tal e os lugares onde havia apenas listas de qualquer uma de suas partes.

Em 14 de agosto deste ano (Esquerda Diário, nesta data com o título “Quase um milhão de votos para a Frente da Esquerda na Argentina”) afirmam que com 931 mil votos obtiveram “um crescimento de quase 30% em relação a ambas eleições, tanto a de 2015, como as primárias de 2013”. O mesmo afirma literalmente o MRT brasileiro. Como não queríamos duvidar da honestidade dos companheiros, fizemos as contas com a calculadora nas mãos. Lamentamos decepciona-los: 31 mil não são 30% dos 900 mil, mas apenas 3,4%. Recomendamos, de boa-fé, que os companheiros analisem os estudos primários das operações matemática, façam “a regra de três” para não voltar a ter esse problema.

Podemos ter um quadro mais completo dos resultados se analisarmos as porcentagens nas principais províncias. Capital, legisladores: 4,2% em agosto de 2013, 4,3% em 2017. Buenos Aires, deputados: 3,95 em 2013, 3,62% em 2017. Córdoba, deputados: 5,6% em 2013, 4,32% em 2017. Santa Fé, deputados: 2,65% em 2013, 2,14% em 2017. Mendoza, deputados: 7,6% em 2013, 8,8% em 2017 (aqui sim há crescimento!). Salta, deputados: 11,2% em 2013, 7,3% em 2017. Jujuy, deputados: 9,39% em 2013, 12,55% em.

Com esses números, a declaração do MAIS de que o número de deputados nacionais da FIT corre risco de ficar mais magro, é completamente realista. Por exemplo, em Córdoba, a segunda província do país, foi onde a política de seita de não fazer nenhum acordo com a EFS pela FIT abriu sérias dificuldades para a conquista de um banco, já que a FES passou as PASO. Já em Mendoza necessitam dobrar seus votos, e em Salta, as coisas parecem igualmente complexas para a FIT.

Queremos ser equilibrados.

Para os parâmetros históricos da esquerda argentina, esses resultados da FIT são bons. Também são, em menor escala, os 265 mil votos da EFS. Juntas totalizam aproximadamente 1,2 milhão de votos entre as duas frentes. Mas em comparação com outros anos expõe um problema real. O crescimento do descontentamento com o governo nacional e suas medidas de ajuste, os ataques da classe capitalista e as mobilizações de massa que ocorreram apenas a alguns meses, não levaram a esquerda a se tornar um canal da bronca de amplos setores das massas por meio de nossas listas eleitoral.

Não superaram o piso conquistado anos atrás, em outra situação política. As coisas se apresentam mais complexas, com uma guinada eleitoral mais à direita no país. Afirmar o contrário é nada mais do que autoengano. O que aconteceu é uma espécie de “nova distribuição” dos votos da esquerda. Sim a FIT continua sendo majoritária, e as proporções mudaram amplamente. Apesar de não chegar a 1,5%, na província de Buenos Aires, os mais de 100 mil votos para nossa companheira Manuela Castañeira acabam de instalá-la, o que já era um fato durante a campanha, em uma das figuras mais importantes da esquerda em seu conjunto, em pleno ascenso. 
Antes, a FIT solitária ultrapassava a PASO em várias províncias, hoje nossa frente competirá em outubro em 6 províncias: Córdoba (a segunda maior do país), Santa Cruz, La Rioja, Neuquén, Rio Negro e La Pampa. Somando os locais onde o MST se apresenta sozinho, são 12 províncias. A exigência internacional de ser reconhecidos como “a única esquerda” tem bases cada vez mais fracas.

Autoproclamação e mentiras de proporções internacionais

Os camaradas do PTS-MRT estão muito ofendidos. Se indignam que o MAIS observe que há “duas frentes de esquerda” na Argentina. Reconhecer “a hegemonia da FIT” deveria ser suficiente para fazer de conta que são tudo o que existem no universo.

Dizemos “como quem não quer nada”, que a palavra “hegemonia” vindo desse setor pretende passar uma suposta direção da FIT e do conjunto da esquerda. Tal reivindicação, que o MRT quer impor à esquerda (internacional), é despolitizante. Procuram resolver todo o debate com uma maioria ocasional e não estratégica. Um método verdadeiramente de seita muito longe de ser qualquer pretensão legitima de “hegemonia”.

No entanto, fazem um esboço de polêmica política com nossa frente e com a posição do MAIS, setor que levanta a necessidade da unidade da FIT e EFS. Talvez o MRT tenha adquirido como método a falsificação de seus companheiros argentinos, talvez eles mesmos tenham sido enganados por eles. Não é problema nosso.

O fato é que o MRT repete um disparate atrás do outro e que sucursal da autoproclamação é da pureza ultrarrevolucionária (mentirosa) qualifica nossa frente como “esquerda sojeira”. Se filiam em uma verdade: nossos aliados, o MST (ligado ao MES do Brasil), apoiaram a burguesia agrária no “conflito do campo” do ano de 2008. Desde nosso partido gastamos rios de tintas em polemizar com os companheiros sobre esta posição. Mas também temos sustentado que a inconsequência do MST não o transforma automaticamente em uma organização inimiga.

A trajetória até o momento mostra: o perfil político da campanha eleitoral e a intervenção na realidade tem sido de indiscutível independência de classe. Os acordos táticos como EFS são progressivos na medida em que estão a serviço da construção de alternativas de independência política dos trabalhadores. 
Mas isso não passa de uma desculpa grosseira para as manobras de seita do PTS-MRT.

Faremos um favor aos camaradas do MRT, talvez seus inspiradores argentinos não lhes contaram. Somente para informá-los de que seus aliados na FIT, a IS (CST no Brasil), assumiram a mesma posição que o MST em relação à burguesia agrária em 2008. Sobre o que “denunciam” que nossos aliados fizeram alianças eleitorais com forças de centro-esquerda. Também gostaríamos de dizer-lhes que esses mesmos aliados do MRT, a IS, fizeram o mesmo na província de San Juan em 2009 (e enquanto realizavam um acordo eleitoral nacional com o Novo MAS e PTS). Duas vezes “de nada”, companheiros do MRT. Estar bem informado é sempre bom na política.

Afirmam que “qualquer pessoa familiarizada com a esquerda argentina responderá por que a Esquerda em Frente pelo Socialismo fracassou nas eleições: “é uma frente centrista que brilha por sua ausência na luta de classes, composta por organizações cuja estratégia não passa pela inserção militante no movimento dos trabalhadores”. Essas linhas são muito curiosas. Salta aos olhos a necessidade óbvia de distribuir injúrias. Ainda assim é divertido que eles tentem passar a opinião do PTS por “qualquer pessoa familiarizada com a esquerda argentina”. Fica mais fácil não ter que justificar por suas próprias palavras.

O PTS-MRT acredita que seus parceiros de linha de frente, como o PO e o IS, são “centristas”. Por sua vez, o PO acha que o PTS e a IS são “centristas”. Aqueles que escrevem essas palavras pensam que o PO, o MST e o IS (não o PTS-MRT, que é, em nossa humilde visão, simplesmente uma seita) também são “centristas”.

As palavras dos companheiros alcançam a difícil façanha de condensar tantas  bobagens em algumas linhas. Por que uma frente “centrista” como a nossa estaria a priori condenada por um “fracasso eleitoral”? Se a EFS é “centrista” por que a FIT não seria “centrista”? Sendo que dois dos seus três componentes são, de acordo com a opinião do próprio PTS-MRT.

 
A trama é grande. A realidade é que em sua visão, tudo o que o PTS toca torna-se revolucionário. Como o Rei Midas, que transformava em ouro o que tocava, embora tivesse o rei a humildade de saber que havia mais ouro no mundo. A respeito, de que não teríamos a estratégia de inserção militante no movimento operário, já o respondemos acima: não é mais do que um insulto despolitizante.

Contra a unidade da esquerda

Por que o longo silêncio do MRT da Argentina, e essa súbita explosão de companheirismo no Brasil? Os companheiros do MRT questionam a posição do MAIS de unidade das duas frentes ao dizer que isso implicaria ir “a reboque de direções burguesas”. Agora ficamos sabendo que somos direções burguesas! Ou de que direções falam? Que “direções burguesas” seriam automaticamente subordinadas no caso de chegar a um acordo conosco?
Na Argentina, na rua, os trabalhadores que são receptivos as nossas campanhas, que conhecem a esquerda, não dizem “você falhará eleitoralmente! São centristas e sua estratégia não é a inserção militante no movimento dos trabalhadores”. O clamor geral de cada simpatizante da esquerda diz: “Por que vocês não se juntam?”

O MRT argentino faz um silêncio prudente porque não se atreve a tornar explícita e pública sua verdadeira opinião: são contra a unidade da esquerda para construir uma alternativa mais vigorosa aos trabalhadores. A afirmação de que sua oposição se baseia no fato de que o MST-MES apoiou os proprietários de terras e fez alianças eleitorais com a centro-esquerda pequeno burguesa é um delírio: se esse fosse o caso, deveriam romper sua aliança com a Esquerda Socialista e a FIT imediatamente.

Mas o que eles não se atrevem a dizer publicamente na Argentina, vomitam sem pudor no Brasil: “É uma política ruim informar-se pelo MES argentino, que não consegue eleger nem mesmo um vereador em nenhum lugar”. O único critério de “unidade” do PTS-MRT é quem tem mais votos, mais deputados, mais cargos parlamentares. Não há frente com quem eles já não estejam “de olho”. Em suma, a posição do PTS-MRT é de um sectarismo e eleitoralismo muito mal camuflado.

*Tradução Rosi Luxemburgo

Notas
1) Quando dizemos “integrar”, não nos referimos à política de subordinação incondicional que as partes efetivamente membros do FIT (PO, PTS e IS) tiveram com outras organizações de esquerda. A história desta “integração” é bastante eloquente. Ninguém fora dos seus três fundadores tem o direito de dizer uma palavra e a ter suas próprias posições, porque são varridas impiedosamente de listas sem palavras. Organizações como o PSTU, CS e outros simplesmente foram expulsas das listas de uma maneira brutal e quase burocrática.

2) A afirmação autodestrutiva de um “fracasso” de nossa frente é simplesmente hilária. Nosso partido tem o mérito de ter conseguido instalar nossa companheira Manuela Castañeira a nível nacional como uma das referências mais importantes da esquerda. Nossa campanha suscitou grande simpatia em amplos setores de trabalhadores. Mas o critério do “triunfo” do PTS-MRT é o mesmo que o da legislação burguesa: o piso proscritivo da PASO. É claro que teria sido qualitativamente melhor termos rompido o piso nos principais distritos, porém que a esquerda “classista”, use uma e outra vez esse critério contra outras organizações da esquerda não é mais que falta de princípios.