É o povo venezuelano que deve decidir sobre a legitimidade do seu governo
Declaração da Corrente Internacional Socialismo ou Barbárie. 11/01/2019
Maduro assumiu hoje o segundo mandato como presidente da Venezuela. A estas alturas não é segredo para ninguém a imensa catástrofe e degradação social que vive o país que foi o farol do progressismo na região. Sua segunda assunção ao poder ocorre em meio a um isolamento internacional arquitetado principalmente por governos pró-imperialistas de direita.
No entanto, é evidente, que a responsabilidade principal pela situação na Venezuela é do governo Maduro e do chavismo. Em mais de vinte anos à frente do governo, o chavismo não realizou nenhuma transformação profunda no sentido anticapitalista. Trata-se em geral da manutenção de uma dependência absoluta da exportação de petróleo, que permite ingressos para abastecer todo o resto, incluindo alimentos e remédios. Nunca se tomou nenhuma medida de fundo para que a Venezuela não fosse um país tão absolutamente dependente dos dólares do petróleo, o que implicava medidas anticapitalistas que um governo burguês, como o chavista, nunca quis tomar.
O “bolivarianismo” surgiu como um processo progressivo, pois foi produto de uma autentica rebelião popular que conquistou concessões econômicas e sociais. O nacionalismo burguês de Chávez cavalgou uma rebelião popular e governou com amplo apoio, o que permitiu certo grau de independência da velha burguesia “escuálida” e dos Estados Unidos, inclusive enfrentou-os com uma retórica “socialista”. O ponto mais alto da rebelião foi a resistência ao golpe de Estado de abril de 2002 e a derrota do locaute patronal do final desse ano. Depois destas vitórias populares, o chavismo, longe de se apoiar na iniciativa popular, desmontou toda atividade desde baixo para transformá-la em uma gestão bonapartista do Estado capitalista. Assim, o chavismo administrou o poder burguês durante mais de uma década, fazendo de seus funcionários uma camada de burocratas e “boliburgueses” endinheirados sob o amparo do poder, que é hoje uma camada social entre as massas por um lado e o imperialismo e burguesia “escuálida” por outro. Com o avanço da crise social e depois da morte de Chávez, amplos setores populares romperam com o que consideravam seu governo, mas sem irem à direita “escuálida” e racista devido à experiencia que as massas fizeram durante décadas de governos de superexploração e opressão, ou seja, pesa o abismo de classe que os separa.
Com suas bases sociais, econômicas e política muito deterioradas, Maduro foi aprofundando o caráter bonapartista de seu governo, tratando de resolver suas crises com iniciativas políticas que se baseiam na substituição da iniciativa popular pela arregimentação bonapartista. Isso se traduziu na convocação de uma Assembleia Constituinte que não contou com uma autentica participação de massas. Assim foi também a reeleição de Maduro em maio do ano passado, que se foi “legitima”, contou com uma participação baixa para os parâmetros dos anos anteriores.
Nesse contexto é que os governos capachos – como Macri, Piñera, Bolsonaro, etc. – usam a situação a favor do alinhamento incondicional da região com os EUA de Trump. A justificativa é a “legitimidade” da eleição presidencial anterior pela não participação nela da oposição. A realidade, triste realidade para os “escuálidos”, é que decidiram boicotar a eleição porque não podiam ganhá-las nem mesmo em meio a uma terrível catástrofe que é o governo de Maduro.
A justificativa “democrática” na boca de semelhantes governos reacionários deveria ser suficiente para demonstrar a legitimidade de suas posições. Todos eles atacam as liberdades democráticas dos de baixo em seus respectivos países. Bolsonaro inclusive chegou ao poder a partir da proscrição do principal candidato e em meio a uma situação reacionária que inclui o assassinato político de Marielle Franco e dois anos de mandato de um presidente não eleito, como foi Temer. Iván Duque na Colômbia governa um país que vive o sistemático assassinato de ativistas há anos. Todos eles se apressaram em reconhecer o governo de Juan Orlando Hernández de Honduras depois de ganhar em meio a denúncias de fraude e mobilizações de repúdio. Poderíamos seguir longamente com os exemplos. Quem encabeça realmente a iniciativa de repúdio a Maduro é Donald Trump, líder da principal potência imperialista do mundo hoje. A nenhum deles interessa e nunca interessou a vontade do povo venezuelano. O que querem é a submissão incondicional desse país.
A Corrente Socialismo ou Barbárie rechaça de maneira incondicional qualquer manobra golpista orquestrada pelo imperialismo e governos reacionários da região contra o governo Maduro. Defendemos assim que é o povo explorado e oprimido da Venezuela que deve decidir sobre sua legitimidade.