“Religioso” protagoniza o maior caso de violência sexual do Brasil   

SUELI ALVES

O escandaloso caso de João de Deus veio à tona em 8 de dezembro, no programa do jornalista Pedro Bial, que ouviu 10 vítimas. No último domingo (16/12) o médium foi preso nas proximidades de Abadiânia, cidade goiana onde criou a Casa de Dom Inácio de Loyola. 

João de Deus ou João de Abadiânia é “médium curador” que atua principalmente na cidade de Abadiânia, no Estado de Goiás, mas também fez atendimentos “espirituais” em outros países.

O “médium” é acusado de cometer estupros contra cerca de 500 mulheres, entre elas sua filha. No que já é uma das maiores quebras de silêncio da história. O relato de muitas dessas mulheres nos faz tomar pé do quanto as vítimas são desqualificadas, muitas delas não chegam a denunciar por medo de ameaças ou por julgarem não ter credibilidade…  

Os relatos abrangem episódios da década de 1980 até outubro deste ano, mas segundo o Código Penal Brasileiro, as vítimas de crimes sexuais devem se manifestar no prazo máximo de seis meses, o que neste caso significa que centenas de mulheres não deverão nem serem ouvidas.

O Brasil é campeão em violência contra as mulheres

A violência neste caso, como em tantos outros vivenciados pelas mulheres todos os dias, nos alerta para o quanto é nociva uma sociedade que vive sob a égide da misoginia, do machismo, do patriarcado e do capitalismo.

Todos os dias mulheres relatam violências sofridas, e em grande parte delas dentro da própria casa, onde teoricamente deveriam estar protegidas. Em 2018, o Brasil registrou 164 casos de estupros por dia, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Apesar desse número alarmante, somente 10% dos casos de violência contra a mulher são denunciados.

Casos de estupros praticados por falsos sacerdotes também não são novidade. Usam da confiabilidade e da autoridade sobre as pessoas, fazendo com que a denúncia feita por crianças e mulheres acabem por serem desconsideradas.

Além disso, muitas vítimas acabam por nem denunciar, já que há um processo de auto culpabilização, vergonha e medo. As mulheres estão “aprisionadas” pela cultura do estupro, do machismo e da misoginia, são subjugadas a ponto de conviverem com seus próprios algozes. Ou seja, vivemos em uma sociedade patriarcal que urgentemente precisa ser destruída.

Só a luta acaba com toda forma de opressão!

Apesar do aumento da violência contra a mulher, principalmente as mulheres negras, a luta por liberdade e contra a violência de gênero cresce no mundo todo. Isso revela o quanto é necessário que cada vez mais se crie uma rede de proteção entre todas as mulheres contra todo tipo de violência, que cada caso seja de extrema importância para as organizações de esquerda e que a organização e conscientização das mulheres seja prioridade.

Em todos casos temos que exigir que todas mulheres sejam ouvidas e que justiça seja feita de forma exemplar. O caso de “João de Deus” só reafirma a necessidade urgente dos temas sexualidade, gênero e cultura do estupro estarem inseridos no currículo escolar. É necessário também que todas organizações de trabalhadores e trabalhadoras discutam a desigualdade que há entre homens e mulheres em todos âmbitos sociais.

Para além disso, sabemos que a partir de 1º de janeiro estaremos diante de um governo composto por reacionários de toda espécie que não têm nenhuma preocupação com a vida e a dignidade das mulheres. A futura ministra da “Família”, Damares Alves, já deu uma série de declarações retrógradas e criminosas em relação aos direitos contraceptivos das mulheres, conquistas que tivemos ao longo da história e das quais não vamos abrir mão.

Punição exemplar para João de Deus e para todos os violadores!

Lutemos contra a cultura do estupro!

Educação sexual e de gênero obrigatória em todas escolas!

Bolsonaro é inimigo das mulheres!

Nenhuma trégua a este governo que só quer reforçar a desigualdade de gênero!

Só poderemos resistir e avançar com unidade, organização e luta!

Todas às ruas, contra todos os ataques!