Gabriel Mendes
Bolsonaro voltou hoje a se pronunciar na TV para se posicionar diante da pandemia que avança mundialmente e que no Brasil fez, segundo os dados divulgados pelo Ministério da Saúde, 46 mortes e 2201 casos confirmados.
O tom variou. Entre o negacionismo, que coloca o coronavírus como “gripezinha”, e a defesa do fim da quarentena, Bolsonaro defendeu a “manutenção dos empregos” um dia após ter recuado em parte da MP927 – medida que possibilitava o afastamento em massa de trabalhadores sem direito a receber os salários e que foi amplamente rejeitada.
O discurso é idêntico aos dos empresários que têm circulado nas redes sociais. Discursos estes que defendem a manutenção da economia mesmo diante “ de 5 ou 7 mil mortes”, como disse o empresário Júnior Dorski, dono da rede de restaurantes Madero. Ou, como o presidente, existem aqueles que chamam a pandemia de “gripezinha”, como disse Alexandre Guerra, sócio da rede de fast food Giraffa’s. Para esses empresários e para o presidente, o lucro está acima da vida e a lógica é deixar os trabalhadores morrerem.
Bolsonaro se mantém desafiando as evidências e se apoia, para além do empresariado, em setores de trabalhadores informais e precários que temem a interrupção das atividades, muitos deles pequenos comerciantes e trabalhadores precários ou informais que a cada dia não trabalhado terão diminuição da renda e, por isso, são pressionados a correr riscos.
Ao mesmo tempo, ex-apoiadores já começaram a se manifestar contra o governo, os panelaços que em várias cidades vêm acontecendo diariamente se concentram, no geral, em bairros de classe média que votaram majoritariamente em Bolsonaro e contra a “esquerda” nas eleições de 2018. Os panelaços se mostram muito dinâmicos pois, apesar de se concentrar em áreas centrais e bairros de classe média ou média-alta, começam a ocorrer em cidades metropolitanas e periferias, como na Rocinha (Rio de Janeiro) e em bairros periféricos de cidades como Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
No terreno institucional, figuras públicas e parlamentares de direita defendem diferentes medidas: O jurista Miguel Reale Jr, um dos autores do impeachment de Dilma, defende a interdição de Bolsonaro por (in)sanidade mental, Janaína Paschoal, deputada estadual paulista pelo PSL, defende a renúncia para que o vice, General Mourão, assuma, já o deputado federal e ex-aliado, Alexandre Frota, protocolou um pedido de impeachment na Câmara dos Deputados.
O que fica evidente com o discurso é que, mesmo após recuos – como foi com a MP927 que foi revogada em parte -, o governo segue apostando na polarização. Confronta-se não com a oposição, que hesita e parece que ainda não sabe se defende “Fora Bolsonaro” ou aguarda eleições de 2020 e 2022, mas com setores da classe dominante e os governos estaduais.
Frente às medidas fundamentais para combater o avanço da pandemia, como a quarentena, Bolsonaro questiona medidas amplamente aceitas como necessárias, mesmo por políticos reacionários e oportunistas, como o governador de São Paulo, João Doria e o governador do Rio, Wilson Witzel.
Diante de mais um pronunciamento que escancara o compromisso desse governo com os interesses dos patrões e o seu caráter genocida diante da pandemia do Covid-19 – o lucro é colocado acima das vidas -, derrotar Bolsonaro deve ser hoje a ordem do dia por uma questão de sobrevivência e de defesa das liberdades democráticas ameaçadas.
Devemos lutar para que todos trabalhadores tenham direito a quarentena, os estáveis com seus salários mantidos integralmente e uma bolsa auxílio emergencial no valor do salário mínimo a todo trabalhador em condição informal/precária hoje. Para os trabalhos essenciais ao combate do coronavírus, é preciso redobrar medidas que garantam a prevenção contra o contágio, medidas de higiene, consultas e exames médicos para todos. Também devemos nos manter mobilizados pela completa revogação da nefasta MP927!
Agitar Fora Bolsonaro! e construir um movimento com mobilizações constantes como “barulhaços”, além de um sistema de consignas que totalize a luta é tarefa fundamental que todas as organizações comprometidas com os interesses das e dos trabalhadores. Não devemos confiar em governadores estaduais, muitos oportunistas de momento que se elegeram na carona de Bolsonaro, devemos exigir dos partidos de oposição que adotem uma posição categórica Fora Bolsonaro! – que é parte fundamental de um combate real a essa grave pandemia. Essa consigna avança no interior do PSOL, mas ainda é rejeitada pelo PT, PCdoB e demais partidos de oposição. Se conseguirmos impo-la pela mobilização das massas será um passo fundamental para mudarmos a correlação de forças e começarmos a impor derrotas à classe dominante.
Um plano dos trabalhadores para enfrentar a pandemia!
Fora Bolsonaro e Mourão!
Eleições Gerais!