Balanços e perspectivas das recentes mobilizações na USP
Maria Cordeiro
Na última quinta-feira, 08/05, 52 cursos da USP paralisaram suas atividades para um dia de lutas pela implementação de cotas trans, vestibular indígena, estrutura e permanência para toda a demanda rumo ao fim do vestibular.
O ano para es estudantes na USP e para o movimento estudantil começou com uma série de ataques brutais levados a cabo pela reitoria de Carlotti: Corte de mais da metade das Bolsas PAPFE, principal programa de bolsas da USP (de 6500 auxílios para apenas 2500 desde o início deste ano). Além disso, outro alvo da política racista e elitista que a reitoria leva a cabo é a moradia estudantil, o CRUSP: seus moradores enfrentam cronicamente a falta de vagas e superlotação de apartamentos em que ume estudante tem que dividir um pequeno apartamento com mais dez pessoas. Também, há inúmeros problemas estruturais como a falta de água, iluminação, além dos esforços da reitoria para impor um controle reacionário dos moradores a partir da imposição de grades nos prédios.
A reitoria, apoiada pelo governo assassino de Tarcísio, encontra poucas dificuldades para levar a cabo seu projeto de expulsão da juventude trabalhadora e negra da universidade. O movimento estudantil neste início de ano se demonstrou tímido frente aos compromissos de luta, tanto em relação ao cenário internacional de avanço do genocídio em gaza e a nível nacional, da possibilidade histórica da prisão de Bolsonaro e todos os golpistas, privatizações, a luta contra escala 6×1, quanto às agruras vividas no dia a dia pelos estudantes, tais quais os temas tratados anteriormente, mas também frente às resoluções da greve de 2023 não atendidas.
Os coletivos LGBTs e o Levante Indígena, em unidade com o corpo estudantil como um todo, reconhecem que é uma tarefa imediata e central lutar pelo ingresso de pessoas trans e indígenas na USP, mas também, pela permanência desses estudantes, com auxílio no valor de um salário mínimo paulista e moradia para toda a demanda.
Como resultado da greve de 2023, foram criados GTs para tratar do ingresso des estudantes, no entanto, em dois anos, nenhuma ação concreta para a aprovação dessas medidas foi feita. A reitoria de forma cínica e preconceituosa alega que o tempo da universidade é outro, e que é preciso maior rigor científico para a aprovação, enquanto adia reuniões sobre o tema e coloca entraves institucionais para a discussão e execução das demandas des estudantes.
Ao fim, foi chamada uma primeira assembleia geral des estudantes no dia 28 de abril pelo DCE para votar o indicativo de paralisação e uma assembleia dia 5 de maio para realmente aprovar a paralisação. Achamos essa forma de duas assembleias um equívoco e uma demonstração da não construção e aposta neste espaço fundamental para a organização e mobilização des estudantes. O DCE, que é o órgão máximo de representação estudantil, fez apenas alguns posts no instagram, que julgamos ser uma forma auxiliar de divulgação, mas imprecisa para alcançar o corpo des estudantes, principalmente diante da gravidade do tema, e das consequências de uma paralisação com pouca força. Dito e feito: esta segunda assembleia, que ocorreu no quadrado das artes, reuniu apenas algumas dezenas de pessoas, muito menor do que a anterior e correu com uma mesa burocrática, sem espaço para informes, e atropelada. Mesmo assim, a paralisação foi aprovada para dia 08/05.
No dia 08, dezenas de cursos na USP paralisaram com o mote “Por cotas trans, vestibular indígena e permanência já! Pelo fim da escala 6×1 na USP, unir a educação contra o Tarcísio! #ForaTarcísio #Rumoaofimdovestibular” e bandeiras políticas: “Prisão para Bolsonaro e todos os golpistas de ontem e hoje, Fora Tarcísio assassino, Fora Derrite! Pelo fim da escala 6×1, por 30h semanais sem redução salarial! Abaixo o arcabouço fiscal e todas as contra reformas e privatizações!”. O trancaço e ato na frente da reitoria foram grandes, com diversos estudantes independentes e membres de organizações políticas. Assim, fizemos bastante barulho na porta da reunião e a Ana Lanna, pró-reitora da PRIP, dissolveu de forma autoritária a reunião, após se negar a colocar cotas trans e vestibular indígena na pauta.
Após esta ação autoritária da PRIP, es estudantes ocuparam o bloco K, antigo bloco do CRUSP que atualmente é utilizado pela reitoria como prédio administrativo da USP. A partir da ocupação, dois professores membros da COIP, preocupados com a integridade do prédio, desceram para conversar em plenária com es estudantes ocupantes. A plenária foi longa, os ânimos estavam altos, no entanto, durante o intervalo, O DCE se reuniu com os professores e foram declarados os encaminhamentos sem discussão com o plenário: proposição de um edital para pesquisadores trans na USP, adiantamento da reunião com a PRIP para a próxima semana, outra reunião com a PRIP para discussão sobre políticas voltadas para indígenas na USP e reunião com a Diretoria de Vida no Campus para debater infraestrutura.
Colocamos a importância das ocupações como método histórico de luta, que já arrancou diversas vitórias para o movimento estudantil, como a ocupação do bloco K e L na greve de 2023, que fez a reitoria recuar da medida administrativa que jubilaria todos os calouros daquele ano por faltas devido à greve. É por medo das ocupações que agora a reitoria tem grades e uma portaria parecendo a de um condomínio de luxo. Entretanto, o método antidemocrático desta plenária dentro da ocupação, que foi dissolvida após os “encaminhamentos”, vulgariza essa ferramenta, que foi propagandeada como vitória histórica do DCE, que inclusive nos parece querer emplacar alguma vitória para chamar de sua para sua campanha eleitoral à reeleição em agosto. Além disso, foi marcada uma próxima assembleia geral apenas para dia 20/05, muito aquém do tempo político necessário para a mobilização.
A história se repete: em 2023, as direções do DCE anunciaram vitória em cima promessas de grupos de trabalho e reuniões, hoje, dois anos depois fazem o mesmo de forma oportunista, sem ter materializado avanços reais na aprovação das reivindicações! Tomar promessas como vitórias concretas nada mais faz com que o movimento se desgaste, que cresça a desconfiança na própria força do movimento estudantil e nos métodos históricos de luta.
Nesse sentido, é preciso que avancemos e lutemos por medidas concretas! Demos um primeiro passo importante, mas agora é preciso uma gigantesca campanha pelas cotas trans, junto aos professores, que se mostram favoráveis à pauta, junto aos trabalhadores e, fundamentalmente, junto ao movimento trans de fora da universidade para consolidar uma nova conjuntura uspiana a partir de uma correlação de forças favorável que coloque contra as cordas essa reitoria! É preciso unificar as lutas pelas cotas trans, vestibular indígena, permanência para um salário mínimo (pauta que unilateralmente foi retirada dos encaminhamentos e reivindicações da plenária na ocupação), moradia para toda demanda, pelo fim da escala 6×1, pela prisão de Bolsonaro e todos os Golpistas e Fora Carlotti e Tarcísio assassino!
Não vamos ficar esperando reuniões para marcar reuniões que não avançam na luta concreta, queremos e vamos lutar por nossas reivindicações já! Promessas não são vitórias!