Ontem, as autoridades eleitorais finalmente declararam Castillo, 51 anos, o vencedor no segundo turno contra Keiko Fujimori, filha do ex-ditador.

Redação

As mobilizações e protestos do Fujimorismo, e da classe média alta de Lima como força de choque, para desconsiderar os resultados, sofreram uma pesada derrota. A filha do ex-ditador colocou um exército de advogados para manipular os resultados, para ignorar os votos, para distorcer as eleições a seu favor. A grande mídia deu espaço para a mentira: eles estão insatisfeitos com o resultado.

A polarização não é apenas numérica, é social: enquanto Fujimori varreu os distritos ricos de Lima como San Isidro e Miraflores (com porcentagens de até 80%), Castillo teve votos esmagadores nas regiões andinas, como Cusco e Ayacucho.

A pequena burguesia alta das grandes cidades, a classe média reacionária, exercem ali uma clara hegemonia cultural. Em Lima, a filha do ex-ditador varreu 64% dos votos; em Trujillo, 59%; em Callao, 67%. Arequipa, a segunda cidade do país, deu a Castillo a vitória com um retumbante 64%; e seus triunfos foram contados na sexta (Huancayo, 58%) e sétima (Cusco, 83%) cidades.

Nas áreas montanhosas, camponesas, indígenas e populares, Castillo ganhou de mão beijada. Nas áreas predominantemente de classe média, a Keiko vence.

A polarização numérica é claramente uma polarização regional e social. Em cada região, o candidato que venceu o faz por uma margem muito considerável. Em cada área, a tradição política e cultural das classes sociais determina o resultado. A classe média “aspirante”, que acredita que o “índio” e o “camponês” não são suficientemente bons para deixar de ser pobre, consegue dar a conhecer seus pontos de vista às seções de trabalhadores que a seguem. Nas áreas rurais, os interesses dos mais oprimidos, sua rejeição à filha do ditador que os mergulhou na pobreza e em massacres, determinam os votos.

É claro que há “cinzas” nisto: a campanha de medo contra o espantalho “comunista” e “Venezuela” conseguiu distorcer os cerca de 15% que não iam votar em Fujimori no início da campanha e acabaram fazendo isso.

A polarização social entre oprimidos e opressores se pôs em “carne viva” com esta eleição: o que estava escondido por trás das crises de institucionalismo, acaba de arrancar sua máscara e se tornou evidente como um abismo social. A grande burguesia conseguiu reunir as classes médias urbanas e setores da classe trabalhadora atrás de uma figura de extrema-direita.

O equilíbrio instável de forças entre montanhas e vales parece representar a situação em toda a América Latina. A polarização entre as regiões vai desde os indígenas Cusco e pequenos burgueses de Lima até a Bolívia do MAS e o Brasil de Bolsonaro; a polarização social da rebelião colombiana até o povo pobre que rejeita Fujimori e a juventude chilena que virou o regime de cabeça para baixo; a polarização política do regime narco-militar colombiano até as urnas com cédulas marcadas pelo Peru Livre.

Castillo’s será um governo fraco e morno. Já antes do segundo turno ele tentou se cercar o máximo possível com funcionários profissionais do estado capitalista. Ele fez isso para que o Estado responda a ele e para acalmar os medos da classe dominante.

Entretanto, os políticos burgueses não reconhecem o vencedor como um dos seus: para eles, os “índios” estão lá para trabalhar, não para governar. A classe média reacionária de Lima, agora mobilizada contra o “comunismo”, sente-se da mesma maneira. Castillo será condicionado por um parlamento hostil (que já derrubou um governo mais a seu feitio), uma classe média que verá o comunismo em toda parte, uma força de extrema-direita fortalecida pelo apoio das classes dirigentes neste segundo turno.

Os “progressistas” de duas décadas atrás fizeram algumas reformas baseadas na mobilização e no descontentamento das massas, numa institucionalidade enfraquecida e deslegitimada, em uma classe dominante na defensiva. Nada disso existe hoje e Castillo não quer nada com a mobilização das massas que votaram nele na esperança de um governo próprio: a capitulação é a ordem do dia… mas também o descontentamento daqueles que esperavam um governo indígena, camponês e operário.

Os resultados oficiais no sítio da ONPE

Publicado originalmente em http://izquierdaweb.com/peru-castillo-fue-declarado-ganador/

Tradução: José Roberto Silva