Combate ao neofascismo se faz com os métodos de luta da classe trabalhadora
ANTONIO SOLER
Na tarde dessa quarta-feira, por volta das 17h, o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas de intenção de votos com 22%, foi esfaqueado na altura do abdômen quando era carregado por apoiadores durante um ato na cidade de Juiz de Fora (MG).
Bolsonaro foi encaminhado em estado grave para a Santa Casa e passou por cirurgia. Segundo relatório médico, foi atingido no intestino, mas o seu quadro clínico é estável.
O agressor, Adélio Bispo de Oliveira, depois de uma tentativa de linchamento, foi detido pela Polícia Miliar e encaminhado para a sede da Polícia Federal que fica na cidade, local que confessou a ação e permanece detido para investigação.
Ainda é cedo para qualquer conclusão sobre o episódio. Mas pelas informações obtidas sobre o agressor nas redes sociais e os depoimentos indicam se tratar de um indivíduo desequilibrado. Além disso, pelo modus operandi utilizado na ação, não parede ser o autor ligado a nenhum grupo ou organização política.
No entanto, independentemente da análise criminalística do fato e do perfil psicológico do agressor, essa ação só pode ser entendida a partir do cenário de polarização política em que vivemos há anos. Cenário criado pela profunda crise econômica, pela ofensiva reacionária e por uma série de ataques aos direitos democráticos.
O ataque a Bolsonaro não é o primeiro fato recente de violência política no Brasil. Para ficarmos apenas em dois fatos mais graves, no dia 14 de março, Marielle Franco, vereadora pelo PSOL da cidade do Rio de Janeiro, foi vítima de uma execução política sobre a qual, depois de mais de 5 meses, ninguém ainda foi indiciado, julgado ou punido. Treze dias depois, em 27 de março, a Caravana de Lula que passava pelo interior do Estado do Paraná, após uma série de outros atos de intolerância política, foi atingida por dois tiros.
Além desses dois episódios, uma série de outras formas de violência vindas da extrema direita têm sido notificadas. No dia 29/08, por exemplo, em frente ao Comitê de Campanha em São Paulo, uma assessora de Guilherme Boulos (candidato a presidente pelo PSOL) foi ameaçada por um partidário de Bolsonaro que tinha uma arma de fogo em punho.
Mas a polarização não é alimentada apenas pela violência física, pois vivemos uma série de ataques aos diretos econômicos e políticos dos trabalhadores e da maioria do povo. Para ficar em poucos exemplos, tivemos os diretos conquistados durante décadas de luta suprimidos pela reforma trabalhista e, agora, o direito soberano de escolher da maioria do povo está sendo tirado pela manobra político-jurídica que levou à prisão e inelegibilidade de Lula.
No que pese todas nossas diferenças com o lulismo e sua corresponsabilidade sobre essa situação, não podemos deixar de denunciar que sua inelegibilidade é um violento ataque aos direitos democráticos de decidir, ação que está a serviço da manutenção da ofensiva reacionária para que mais ataques aos direitos sejam desferidos no próximo período.
Esse conjunto de ataque se somam às posições abertamente machistas, racistas e homofóbicas do neofascita Bolsonaro. Trata-se assim de um discurso de ódio contra a esquerda, contra a organização dos trabalhadores, contra os direitos democráticos da maioria do povo decidir os rumos dos país, contra os direitos das mulheres, dos negros e de todos os oprimidos que engrossa o caldo da polarização político-eleitoral que vivemos hoje.
Em momentos de crise crônicas, figuras como Bolsonaro expressam, corporificam e organizam um irracionalismo muito perigoso para a classe trabalhadora, suas organizações e seus movimentos. Fenômenos políticos que se não forem detidos podem levar a determinadas correlação de forças que abrem possibilidades para retrocessos políticos estruturais, tais como golpes que instalam regimes de exceção.
No que pese que Bolsonaro ao pregar o ódio, a violência e a intolerância acabou sendo vítima do seu próprio discurso, “colhendo o que plantou”, como tem dito muita gente nas ruas, não são ações individuais que podem combater o fortalecimento da extrema direita.
Apesar de sermos inimigos mortais do neofascismo, pois a sua assunção ao poder significará um ataque não apenas político à classe trabalhadora e suas organizações, esse tipo de ação acaba por criar uma aura de “vitima” em torno de Bolsonaro e fortalecendo-o.
Para combater o neofascismo de Bolsonaro e a ofensiva reacionária em curso, defendemos sim que nosso partido, o PSOL, e seu candidato a Presidente, Guilherme Boulos, parem imediatamente de formalismo eleitoral.
É necessário mobilizar nas ruas e exigir das principais direções do movimento de massas, a começar pelo PT e CUT, que convoquem imediatamente a luta em defesa do direito da maioria do povo decidir e dos direitos políticos e econômicos da classe trabalhadora que estão seriamente ameaçados.
Assim, não podemos mais esperar, apenas com mobilização de massa, com os métodos de luta da classe operária e dos oprimidos podemos combater as ameaças que o neofascismo de Bolsonaro representa.