Um 8 de Março contra a exploração e opressão e de enfrentamento à extrema direita
Num momento de mudanças estruturais na situação política mundial, a burguesia mostra a sua mais ignóbil face contrarrevolucionária e impõe contra a classe trabalhadora e os oprimidos em geral guerras, genocídios e todo tipo de violência contra movimentos sociais, principalmente migrantes, juventude, negros e mulheres; apoiando governos reacionários, protofascistas e fascistas em todos os cantos do mundo.
De outro lado, existe forte resistência, marcada pela “emergência de novos atores políticos da classe trabalhadora, da juventude, do movimento negro e de mulheres que, somada à polarização da luta de classes, recolocam as condições que não apenas realimentam as rebeliões populares e lutas de menor alcance, mas também condições objetivas para a abertura de processos revolucionários. Claro que para isso, o avanço da consciência política de classe através da construção de movimentos e partidos revolucionários, coloca-se como condição indispensável.”. (ver https://esquerdaweb.com/se-abre-uma-nova-etapa-da-luta-de-classes-a-nivel-internacional).
Assim, na passagem deste dia, em nome do intencionalismo proletário, apoiamos as lutas feministas de todo o mundo, em especial, afirmando a nossa solidariedade à Marea Vede da Argentina em sua luta contra a iniciativa de Miei de revogar a conquista histórica da Lei de Legalização do Aborto, assinada em dezembro de 2020.
É necessário que os lutadores de todas as lutas, particularmente os socialistas revolucionários não somente se solidarizem com as lutas feministas, mas, que participem efetivamente. As mulheres capitaniam, neste dia com suas bandeiras e métodos, uma luta que direta e indiretamente atinge toda a classe trabalhadora – toda a humanidade em última instância – e, portanto, essa também é a nossa luta com a qual temos que nos colocar lado a lado.
Relacionado a isso, publicamos abaixo tradução de artigo da mestranda Sara Lua Gonzales da Universidade Nacional Autónoma de México, reproduzido pelos camaradas do NPS da Costa Rica, integrantes da Corrente internacional Socialismo ou Barbárie, sobre a luta e posições de Nadezhda Krupskaya e seu relacionamento com três outras grandes revolucionárias: Inessa Armand, Clara Zetkin e Alexandra Kollontai, na caminhada pré, pró e pós Revolução Russa.
Mais do que nunca, é preciso valer hoje as palavras de Krupskaya: “As mulheres burguesas defendem seus “direitos das mulheres” especiais, sempre se opõem aos homens e exigem seus direitos dos homens. Para elas, a sociedade contemporânea é dividida em duas categorias principais, homens e mulheres. Os homens possuem tudo, têm todos os direitos. A questão é alcançar a igualdade de direitos. Para as mulheres trabalhadoras, a questão feminina é muito diferente. Mulheres politicamente conscientes veem que a sociedade contemporânea está dividida em classes. A burguesia é uma classe, a classe trabalhadora é outra. Seus interesses se contrapõem. (…) A “questão das mulheres”, para as trabalhadoras, é como envolver as massas atrasadas de mulheres trabalhadoras na organização, como deixar claro seus interesses, como fazê-las rapidamente transformadas em companheiras na luta comum”
Nadezhda Krupskaya e as mulheres socialistas na Revolução Russa, uma perspectiva feminista
Vida e obra de Krupskaya: seu trabalho político, pensamento e luta pelos direitos das mulheres trabalhadoras
Por Sara Lua Gonzáles Forster
Introdução
Estudar Nadezhda Krupskaya, 1869-1939, o círculo pessoal e o trabalho político que ela estabeleceu com outras mulheres socialistas, nos permite abrir uma janela necessária para analisar essa era efervescente de debate, atividade e luta pelos direitos das mulheres.
Na primeira seção deste artigo, é feita uma breve introdução à relação entre feminismo e socialismo no final do século XIX e início do século XX. É importante notar que as mulheres socialistas apresentadas neste artigo não se consideravam feministas, pelo contrário, assumiam um forte distanciamento do feminismo por considerá-lo parte das demandas burguesas (Frencia e Gaido, 2018). Mas, como veremos ao longo do artigo, as ações, ideias e disputas políticas realizadas por essas mulheres socialistas tornam necessário incorporá-las como parte da história do feminismo do nosso ponto de vista atual.
Na segunda seção, é apresentada a figura central do artigo, Nadezhda Krupskaya, mostrando aspectos biográficos dessa autora e a diversidade de atividades políticas, pedagógicas e em defesa das mulheres que desenvolveu ao longo de sua vida. O campo de escrita mais fértil de Krupskaya foi a educação, mas ela também compôs textos relacionados às mulheres trabalhadoras e camponesas russas e aos problemas que elas tiveram que enfrentar antes e depois da Revolução Russa.
Na terceira, quarta e quinta seções, algumas das ideias da obra de Krupskaya são apresentadas em diálogo com as de outras três autoras, Inessa Armand, Clara Zetkin e Alexandra Kollontai. Este artigo se propõe a mostrar em pares a relação de Krupskaya com cada uma dessas três grandes figuras do feminismo. As ideias de Krupskaya são descritas em torno de uma tríade de eixos fundamentais, e em cada um deles Krupskaya está ligada a outro autor: com Inessa Armand, em relação aos direitos das mulheres e das crianças; com Clara Zetkin, em relação à participação política das mulheres; e Alexandra Kollontai, em relação à reestruturação da família.
A sexta seção indica como as demandas e debates dessas mulheres socialistas dialogam com as demandas dos poderosos movimentos feministas da atualidade. Como caso paradigmático, são apresentadas as iniciativas que estão sendo realizadas por mulheres do Setor de Gênero do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Brasil.
Nas reflexões finais, são discutidas as contribuições das mulheres socialistas russas para a relação entre feminismo e marxismo e como esses debates continuam até hoje. O artigo termina destacando as conquistas das mulheres russas durante esse período e a importância da celebração do Dia da Mulher Trabalhadora para a Revolução Russa.
Feminismo e socialismo, uma relação complexa
Uma das primeiras tentativas de colocar a situação das mulheres em diálogo com o socialismo surgiu da corrente de pensamento do socialismo utópico no século XIX: na França, em relação ao Saint-Simonianismo, e na Inglaterra, com o Owenismo. As mulheres desses movimentos buscavam criar “projetos de vida alternativos que questionassem as restrições sociais impostas às mulheres” (Nash, 2004: 85)[i].
Da mesma forma, o socialismo organizado em partidos políticos e o movimento operário do século XIX também questionavam essa relação, mas enfatizavam que o problema da situação de exploração das mulheres residia no fato de que as mulheres não tinham acesso à esfera da produção e, portanto, continuavam a depender dos homens (De Miguel e Palomo, 2018). A solução estaria, portanto, na abolição da propriedade privada e no acesso das mulheres ao trabalho assalariado[ii]. Consideravam que a emancipação das mulheres “estava indissoluvelmente ligada à da classe trabalhadora, pois eram dois aspectos de uma mesma luta: a que levava ao desaparecimento do sistema capitalista de produção” (Capel, 2008: 104). Augusto Bebel, com sua obra ”Mulheres e Socialismo“ de 1879, é um dos primeiros a escrever sobre a especificidade da situação das mulheres dentro do socialismo [iii https://www.redalyc.org/journal/4559/455962140002/html/]. “Bebel reconhece que a desigualdade também pode ser devida aos próprios homens, e não apenas ao sistema burguês. Mas sublinha que a obtenção de direitos puramente femininos não resolverá o problema geral da alienação feminina e que só a abolição do vínculo económico pode libertar as mulheres da tutela masculina” (Navailh, 1993: 260). Isso se traduzia na ideia de que as mulheres deveriam se juntar à luta de classes do movimento operário e dentro dele poderiam criar organizações de mulheres, mas sem estabelecer de fato um feminismo operário (Nash, 2004).
Como veremos adiante, as mulheres que apresentamos neste artigo refletiram em seus escritos e em suas iniciativas políticas a importância de falar sobre as mulheres dentro do movimento operário. No entanto, elas eram críticas ao feminismo porque o viam como parte da agenda política burguesa. Tanto Krupskaya quanto Kollontai estavam certas de que a luta pelos direitos das mulheres era baseada na luta da classe proletária. Por exemplo, Kollontai, no Primeiro Congresso das Mulheres Russas, realizado em 1908, em seu texto “Mulheres Trabalhadoras na Sociedade Contemporânea“, expõe as diferenças entre o feminismo burguês – que naquela época exigia o direito ao trabalho e ter acesso aos privilégios que os homens de sua classe possuíam – e as demandas das mulheres trabalhadoras – que reivindicavam melhores condições já dentro do mundo do trabalho onde eram exploradas[iv].
“Em meados do século XIX, a burguesia deu seus primeiros tímidos passos rumo à libertação financeira, bateu insistentemente às portas de universidades, ateliês de arte, escritórios. E, enquanto isso, sua “irmãzinha”, a proletária, tendo experimentado todo o horror da exploração capitalista, da força de trabalho, exige do governo alguma intervenção no campo da “liberdade contratual” entre capital e trabalho” (Kollontai, 2017: 151).[v]
A corrente das mulheres socialistas na Rússia acompanhou de perto o movimento de mulheres na Alemanha, com Zetkin como líder e figura mais representativa. Essa ativista concentrou grandes esforços na obtenção de direitos para a participação política das mulheres, mas, apesar de defender o sufrágio universal, não acreditava na possibilidade de um feminismo operário. Segundo Zetkin, “feminismo e marxismo diferem não apenas em suas demandas e suas formas de organização, mas também em seus fundamentos teóricos: a teoria natural das revoluções burguesas, em um caso, e o materialismo histórico, no outro” (Zetkin, 1907, in Frencia e Gaido, 2018:7).
No III Congresso da Internacional Socialista, realizado em Zurique em 1893, houve uma “ruptura oficial dos socialistas com a ideologia feminista, quando Clara Zetkin introduziu a exigência de legislação protetiva para o trabalho das mulheres” (Frencia e Gaido, 2018:19). O pedido de Zetkin de proteção ao trabalho das mulheres é resumido no final do texto “A Mulher Trabalhadora“[vi], escrito por Krupskaya em 1899. A partir desse primeiro panfleto, Krupskaya já faz uma crítica clara à dependência econômica que as mulheres tradicionalmente tinham de seus pais ou maridos. Ela aponta como essa situação começou a mudar quando as mulheres entraram no trabalho assalariado, mas como os salários mais baixos das mulheres em certos empregos levaram ao “florescimento da prostituição, abertamente incentivada pelos empregadores como um ‘complemento’ aos salários” (Frencia e Gaido, 2018:18).
Krupskaya, Armand, Zetkin e Kollontai desempenham um papel fundamental na história das mulheres. Apesar da complexa relação que existia naquela época entre feminismo e socialismo, os debates que essas mulheres iniciaram ainda foram objeto de reflexões, estudos e reelaborações pelo feminismo marxista (Sargent e Hartmann, 1981). Para mergulhar nesse terreno, este artigo se propõe a focalizar a vida e as ideias de Krupskaya e, por meio dela, aprender sobre a luta das mulheres socialistas russas por educação, participação política e direitos como trabalhadoras.
Krupskaya: pedagoga, revolucionária, bibliotecária e escritora O aspecto sugestivo de focalizar essa genealogia feminista na figura de Krupskaya surge da constatação de que uma mulher bolchevique, figura fundamental no governo após a Revolução Russa de 1917, extremamente criativa, pedagoga, tradutora de textos e cartas e editora do jornal Iskra – entre muitas outras atividades que exerceu ao longo de sua vida – não era tão conhecida no surgimento e desenvolvimento da Revolução Russa. Krupskaya, que além de militante escreveu inúmeros artigos e palestras sobre a educação comunista, a juventude e a situação das mulheres, foi em muitos aspectos ofuscada pela figura de seu marido, Lênin, e sua obra, que ela cuidou de divulgar após sua morte. No entanto, seu próprio trabalho recebeu muito menos atenção[vii].
Krupskaya nasceu em 1869 em São Petersburgo, em uma família de origem nobre, mas empobrecida. Sua mãe trabalhava como governanta e seu pai era militar. Devido às ideias de seu pai, que conhecia o movimento socialista, costumavam receber visitas de alguns personagens da ideologia revolucionária, “primeiro niilistas, depois populistas e depois apoiadores da Sociedade Narodnaya Volya – Vontade do Povo – “[viii] https://www.redalyc.org/journal/4559/455962140002/html/(Krupskaya, 1978: 1). Desde pequena, como ela mesma relata em sua autobiografia, já expressava sua aversão aos latifundiários que exploravam os camponeses, bem como sua firme oposição à injustiça e às guerras. Também desde criança, graças à amizade que estabeleceu com uma professora rural à qual acompanhava em seu trabalho, seu interesse pela educação cresceu e a partir daí quis ser professora. Seu pai morreu quando ela tinha 14 anos e, por ter ficado sozinha com a mãe, ela teve que começar a trabalhar desde cedo dando aulas no colégio. Como estudante universitária Krupskaya foi a um círculo estudantil marxista e, a partir das leituras do grupo, chegou à conclusão de que “o caminho não era o autoaperfeiçoamento tolstiano. A solução estava num poderoso movimento operário” (ibid.: 5). Enquanto estudava na universidade, durante cinco anos foi também professora numa escola noturna frequentada por trabalhadores de várias fábricas. Para ela, essa experiência como professora foi fundamental: “Esses cinco anos inocularam meu marxismo com sangue vivo e me uniram para sempre à classe trabalhadora” (ibid.: 6).
Durante esse tempo, Krupskaya começou a formar uma organização marxista e em 1894 entrou em contato com a União de Luta pela Libertação da Classe Operária fundada por Lênin. Em 1896, após uma greve de tecelões, a polícia fez inúmeras prisões, incluindo a de Krupskaya. Depois de passar algum tempo na prisão, em 1898 ela foi condenada ao exílio, e no mesmo ano Lenin e Krupskaya se casaram na Sibéria. Durante seu exílio, escreveu para vários jornais e foi membro da Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, e entre 1905 e 1907 atuou como secretária do Comitê Central do Partido.
A produção da autora é muito extensa, com mais de 3000 publicações, incluindo livros, panfletos, artigos e revistas (Skatkin e Cov’janov, 1994), especialmente sobre a educação comunista e a formação da juventude. Mesmo antes da Revolução de Outubro, algumas das exigências que Krupskaya exigia do que seria a futura escola soviética – em um texto que escreveu em 1913 – eram que a educação deveria ser universal, gratuita e obrigatória para todos. Ressaltou que deveria incluir ambos os sexos, ser laica e com uma organização democrática onde houvesse ampla participação da população na eleição dos comitês escolares, com plena liberdade de opinião e com direito a receber educação em sua língua nativa[ix] (Krupskaya, 2017: 31-34). Mais tarde, Krupskaya consideraria importante quebrar essa divisão acentuada entre o professor e a população e incentivar sindicatos, cooperativas e organizações camponesas a ajudar os professores, a se aproximar da escola e a ter uma influência decisiva sobre ela.
Quanto ao seu trabalho político após a Revolução de 1917, Krupskaya desempenhou um papel fundamental no Comissariado de Educação de Narkompros e é considerada uma das fundadoras do sistema educacional soviético, especialmente no que diz respeito às iniciativas dos primeiros dez anos. O feito educacional de alfabetização da população, cujo departamento Krupskaya coordenou, assume dimensões colossais se considerarmos o grande número de pessoas de todas as idades que puderam acessar a educação em um contexto de guerra civil, fome, pobreza e analfabetismo maciço na Rússia pós-Primeira Guerra Mundial. “No início do século 20, quase 80% da população russa entre 8 e 50 anos era analfabeta” (Hernández Navarro, 2017: 13). Nas primeiras décadas de existência da União Soviética, objetivos educacionais significativos foram alcançados: “Centros de ensino superior foram estabelecidos em toda a União Soviética. Entre 1920 e 1940, 60 milhões de adultos foram alfabetizados. 60 por cento da população não tinha completado o ensino básico em 1926, mas em 1930 a percentagem tinha caído para 33 por cento” (ibid.: 13).
Mas, além de seu trabalho como pedagoga no Narkompros, Krupskaya também foi uma grande promotora de bibliotecas, e aumentou os orçamentos dedicados às suas instalações. Ela chegou a publicar um artigo no jornal Pravda argumentando que a expansão das bibliotecas públicas era absolutamente necessária, mas que, devido à falta de orçamento, a única solução era que a propriedade individual dos livros se tornasse propriedade coletiva. Logo depois, todas as coleções particulares de mais de 500 exemplares foram confiscadas, nacionalizadas e armazenadas nas novas bibliotecas (Haigh, 2007). No entanto, essa iniciativa também facilitou uma censura, uma clivagem dos livros, onde alguns títulos eram permitidos por serem considerados relacionados ao socialismo, e outros passavam a fazer parte de “coleções especiais” e não estavam disponíveis para o público em geral (ibidem). Segundo Krupskaya, a alfabetização e o acesso à literatura para a população “possibilitaram a conscientização do povo sobre a revolução” (Muñoz-Muñoz, 2010), uma vez que eram considerados instrumentos da luta socialista. A formação de bibliotecários e bibliotecárias nos primeiros anos da Revolução Russa também foi significativa. Em 1918, criou-se o primeiro seminário da Biblioteca Soviética em Moscou por iniciativa de Krupskaya, e mais de 20 departamentos de bibliotecas foram abertos nos Institutos Russos de Educação Política, Institutos de Pedagogia e nas Academias de Educação Comunista (Haigh, 2007).
Após a morte de Lênin em 1924, Krupskaya dedicou grande parte de seu tempo à edição da obra de seu falecido marido. No auge do stalinismo, a figura de Krupskaya foi muito silenciada – ela recebeu o papel exclusivo de viúva de Lênin. Ela permaneceu na oposição política a Stalin até 1927, quando decidiu abandonar a oposição. Existem várias teorias sobre essa decisão. Leon Trotsky (1939), em texto que escreveu por ocasião da morte de Krupskaya[x https://www.redalyc.org/journal/4559/455962140002/html/], aponta que, no cenário convulsivo de desaparecimentos ou assassinatos de grande parte do círculo íntimo de Lenin e Krupskaya, deixar a oposição era uma estratégia para sobreviver. Além disso, Trotsky comenta como cada passo de Krupskaya foi monitorado, assim como seus textos foram revisados e censurados. Outros autores atribuem essa decisão ao fato de que, apesar de se opor às ideias de Stalin, Krupskaya era uma pessoa muito leal ao partido. De qualquer forma, ela recebeu várias distinções: a Bandeira Vermelha do Trabalho em 1929, membro honorário da Academia de Ciências da URSS em 1931 e a Ordem de Lênin em 1933. Morreu em 1939, aos 70 anos, e suas cinzas foram depositadas ao lado de Lênin em seu mausoléu; ironicamente, Stalin foi quem presidiu seu enterro.
Além de sua fascinante vida como militante do partido e pedagoga dentro dos Narkompros, Krupskaya participou da luta pelos direitos trabalhistas das mulheres, especialmente nos anos que antecederam a Revolução de 1917. Algumas das conquistas alcançadas para as mulheres na nova legislação soviética foram “o direito de votar e ser candidatas, o direito ao divórcio, o acesso à educação universal e gratuita, a um salário igual ao dos homens, para ajudar a aliviar os encargos familiares e o direito ao aborto livre e aberto” (Muñoz-Muñoz, 2010). Se levarmos em conta o contexto histórico, essas são conquistas surpreendentes e constituem um grande avanço na luta feminista. Um exemplo disso é que a Rússia, em 1920, se tornou o primeiro país do mundo a legalizar o aborto por solicitação da própria mulher. Além disso, um departamento governamental, o Jenotdel, foi criado em 1919, liderado primeiro por Armand e depois por Kollontai. Os Jenotdel trabalharam para melhorar as condições de vida das mulheres na educação, nos seus direitos no casamento e no trabalho. Infelizmente, algumas dessas propostas e medidas que eram historicamente relevantes para as mulheres russas foram interrompidas quando o Jenotdel foi fechado em 1930, sem encontrar apoio de um partido comunista que na época não focava seu interesse na luta das mulheres (Elwood, 1992). Posteriormente, em 1934, uma lei contra a homossexualidade foi reeditada na União Soviética – quando anteriormente a punição da homossexualidade havia sido removida da legislação – e em 1936 o aborto foi restrito apenas aos casos em que a saúde das mães estava em perigo. Os primeiros anos após a Revolução Russa testemunharam grandes conquistas em questões como os direitos das mulheres e a diversidade sexual, que mais tarde foram agressivamente eliminadas: “Vimos uma repressão da revolução sexual soviética; na verdade, uma regressão às formas autoritárias de regulação moralizante da vida sexual” (Reich, 1985: 169).
Mas essas mudanças desde a década de 1930 não mancham totalmente as brilhantes conquistas da Rússia no período anterior. É preciso destacar a importância da atuação das mulheres que foram totalmente invisibilizadas pelas grandes figuras masculinas, propagando a falsa impressão de que foram somente eles foram arquitetos da Revolução Russa. O número de artigos que mencionam o papel das mulheres russas relevantes da época como meras “ajudantes” da Revolução liderada por homens, ou simplesmente como suas amantes ou esposas, é impressionante. O caso de Krupskaya é especialmente representativo do que aconteceu, porque tanto ela quanto sua amiga Armand, que também participou da Revolução de Outubro, são relegadas ao papel de esposa e amante de Lênin, respectivamente. É escandaloso como pouca referência é feita a Armand como uma mulher revolucionária e arquiteta fundamental do Jenotdel. Artigos de jornal com títulos como “O Triângulo Amoroso Revolucionário de Lênin” (Yegorov, 2017) ou “As Três Mulheres que Lenin Usou para o Triunfo da Revolução” (Felis, 2017) [xi] traduzem a visão patriarcal da ideia de que a vida amorosa de Lênin é mais relevante do que as ações insurrecionais dessas duas mulheres, mostrando-as como “acessórios” da luta revolucionária.
Defendendo os direitos das mulheres e das crianças: Krupskaya e Inessa Armand
Inessa Armand, 1874-1920, embora nascida na França, ainda jovem viaja para a Rússia, onde é cuidada pela avó e tia. Desde 1903, foi membro do Partido Operário Social-Democrata Russo e, devido ao seu trabalho ilegal de propaganda em Moscou, foi condenada ao exílio no norte da Rússia, de onde escapou para finalmente chegar a Paris. Foi nessa cidade que ele entrou em contato com Lenin e Krupskaya. Graças ao seu domínio de línguas – Armand falava cinco línguas – foi escolhida para ser porta-voz do Comitê de Relações Exteriores (Elwood, 1992) e para coordenar os outros grupos bolcheviques que estavam surgindo na Europa entre 1910 e 1917. Em 1915, organizou a Conferência Internacional das Mulheres Socialistas na Suíça e, quando o czar Nicolau II abdicou, em abril de 1917 viajou de volta à Rússia, juntamente com Krupskaya, Lenin e outros camaradas, em um trem blindado. Após a Revolução de Outubro, em 1919, o Jenotdel foi criado com Armand como seu dirigente principal, até 1920, quando morreu de cólera. Durante sua vida, Armand lutou pela reabilitação das prostitutas, na organização das mulheres da classe trabalhadora e na busca da igualdade das mulheres dentro do novo Estado soviético (ibidem). Antes de sua morte, ela continuou seu trabalho como escritora e promoveu o surgimento do jornal feminista Kommunistka, que era considerado o porta-voz de Jenotdel, e onde ela escreveu sobre a situação das mulheres e seus direitos.
Armand foi uma grande defensora das conquistas da Rússia soviética naqueles três primeiros anos, de 1917 a 1920, e do papel que as mulheres desempenharam dentro da Revolução: “Com a Revolução de Outubro, após a transferência do poder para as mãos dos soviéticos, a libertação completa das mulheres trabalhadoras através da abolição das velhas formas da família e da economia doméstica, não só se tornou possível, como é uma das condições necessárias para a instauração do socialismo” (Armand, 1920).[xii] Foi defensora dos direitos trabalhistas das mulheres durante a gravidez, da mudança do modelo clássico de família para o de união livre. Ela também criticava profundamente a prostituição, que acreditava que deveria ser completamente erradicada e os que se beneficiavam dessa atividade deveriam ser processados. Para ela, a Revolução Russa significou a libertação da opressão que surgiu com o capitalismo, uma tripla exploração: no Estado, na fábrica e na família (ibidem).
Krupskaya conheceu Armand do exílio, e juntas escreveram na primeira edição do jornal Rabotnitsa – A Operária – [xiii https://www.redalyc.org/journal/4559/455962140002/html/], no qual outras mulheres bolcheviques de renome como Ludmila Stahl e Alexandra Kollontai também participaram. A circulação deste jornal foi confiscada antes que pudesse ser publicado, mas finalmente, graças ao trabalho de Anna Ulianova Elizarova, que não havia sido presa como o resto de suas colegas editoras, doze mil exemplares foram impressos e publicados por ocasião do Dia da Mulher, em fevereiro de 1914 (Muñoz-Muñoz, 2010).
Tanto para Krupskaya quanto para Armand, era muito importante denunciar a exploração das mulheres trabalhadoras, mas também das crianças que muitas vezes trabalhavam as mesmas horas que os adultos. A infância e a juventude eram questões primordiais para Krupskaya, que também acreditava na possibilidade de formação política para ambas. Durante o governo soviético, grupos de jovens comunistas chamados Komsomoles foram criados. Em um artigo de Krupskaya intitulado “Setor importante do trabalho do Komsomol“[xiv], a autora explica o trabalho realizado pelas jovens que pertenciam a esses grupos e como elas buscavam “levar a emancipação das mulheres até o fim“ (Krupskaya, 1978: 48). Um dos principais objetivos era assegurar que todas as jovens frequentassem a escola: “Deve ser dada especial atenção à defesa do direito ao estudo e à real incorporação das meninas nos estudos” (ibidem).
Armand (1920) considerou necessário estabelecer apoio público para as crianças – alimentação, vestuário e educação. Para Krupskaya, as longas horas de trabalho das mulheres na fábrica tiveram como principal consequência o fato de que muitas das crianças cresceram nas ruas e, em alguns casos, as mães, sem capacidade ou tempo para educá-las, decidiram colocar seus filhos em orfanatos. Para essas duas autoras, a solução estava tanto no fim da exploração da mulher trabalhadora quanto na sociedade garantindo educação e alimentação para as crianças. Propunham a criação de creches que permitissem às mulheres irem trabalhar com a certeza de que seus filhos seriam bem cuidados e alimentados. Além disso, a educação que as crianças receberiam nas escolas públicas seria baseada na importância do trabalho produtivo, criativo e multidisciplinar, a fim de:
“Formar pessoas desenvolvidas multidisciplinarmnte, com predisposições sociais conscientes e organizadas, que tenham uma visão reflexiva, integral do mundo e que compreendam claramente tudo o que está acontecendo ao seu redor na natureza e na vida social; pessoas preparadas na teoria e na prática para todos os tipos de trabalho, tanto físico quanto mental; pessoas capazes de construir uma vida social racional; cheia de conteúdo, bonita e alegre. Essas pessoas são necessárias para a sociedade socialista, sem elas o socialismo não pode ser plenamente realizado” (Krupskaya, 2017: 70)[xv].
Participação política feminina: Krupskaya e Clara Zetkin
Além de seus laços com Armand, Krupskaya também fez parte de outras iniciativas de ativistas socialistas em sua defesa dos direitos trabalhistas das mulheres e da participação política. Em 1915, foi parte da delegação russa à III Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, onde, juntamente com Zetkin, foi secretária do Bureau Internacional das Mulheres Socialistas (Muñoz-Muñoz, 2010).
Clara Zetkin, 1857-1933, foi uma das mulheres mais importantes do movimento feminista alemão do início do século 20, com uma extensa carreira como militante socialista, bem como na defesa dos direitos das mulheres. Em todos os seus escritos, a participação política das mulheres dentro do Partido Comunista era um de seus slogans mais poderosos, assim como um profundo anti-imperialismo e anti-militarismo. Ela não participou da Revolução Russa como as outras autoras que apresentamos, mas teve uma influência importante na luta pelos direitos das mulheres naquela época e na própria obra de Krupskaya.
Zetkin foi uma militante socialista muito ativa, fez parte do grupo “Internacional”, foi uma das fundadoras da revista Die Internationale em 1915 e, mais tarde, em 1918, foi uma das fundadoras do Partido Comunista Alemão. Posteriormente, foi nomeada Secretária-Geral do Secretariado Internacional da Mulher e também membro do Comitê Executivo da Internacional. Nessa viagem foi acompanhada por Rosa Luxemburgo em diversas ocasiões, que conheceu em 1898, e com quem estabeleceu uma forte amizade e militância comum.
As demandas mais frequentes de Zetkin se concentravam nos direitos das trabalhadoras, destacando seus problemas e a limitada participação política permitida às mulheres – na Alemanha, as mulheres não podiam participar de nenhuma atividade política até 1908. Além disso, a ela é creditada por ter promovido, dentro do Congresso da Segunda Internacional em Copenhague, em 1910, a proposta de celebrar o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, homenageando as 129 mulheres que perderam a vida em 1909 enquanto protestavam por melhores direitos trabalhistas em uma fábrica têxtil em Nova York. Além de sua luta feroz contra o imperialismo e, mais tarde, contra o nazismo que surgiria em seu próprio país, Zetkin também escreveu sobre a importância da participação política das mulheres e propôs que houvesse delegadas mulheres que pudessem assumir cargos de direção, bem como defender os direitos das mulheres especificamente.
Zetkin conheceu Lênin antes da Revolução de Outubro, mas não visitou a Rússia até 1920, onde decidiu fixar residência em diferentes momentos de sua vida até sua morte. Ela desenvolveu uma extensa produção escrita e é a autora mais citada por Krupskaya em seus escritos. Krupskaya define Zetkin como “uma das mais notáveis e talentosas líderes do movimento de mulheres da classe trabalhadora na Alemanha” (Krupskaya, 2017: 27)[xvi]. Da mesma forma, em outro artigo, “On Self-Training”, publicado em 1935, Krupskaya novamente cita Zetkin profusamente, referindo-se às suas palavras ditas em vários congressos em 1895 e 1908.
Krupskaya não apenas cita Zetkin, mas também compartilha demandas semelhantes, especialmente em relação à participação das mulheres na política. Nesse caso, uma década após a Revolução Russa, Krupskaya, em “Mulheres Operárias e Camponesas nos Conselhos“, artigo publicado em 1927, expressa sua preocupação com a ainda baixa participação de mulheres operárias e camponesas nesses órgãos. Consegue fornecer dados concretos sobre a participação feminina nos Conselhos, o que mostra que ela ainda era muito esporádica. Através de dados, mostra como, nas áreas rurais da Federação Russa em 1922, a participação das mulheres mal chegava a 1%, e que esse percentual só aumentou para 11,8% em 1927. Nas áreas urbanas, em 1922, o percentual era de 9,8%, e aumentou para 21,4% em 1927. Como aponta Krupskaya, um aumento de 10 pontos em 10 anos não foi suficiente (ibid.: 145-146). Segundo ela, a preocupante baixa participação das mulheres se devia à interferência dos homens no Conselho, que muitas vezes não permitiam que as mulheres fossem membros do Conselho; ou as dificuldades que elas mesmas tinham no acesso às reuniões devido ao excesso de trabalho em casa e à falta de apoio dos maridos. Das palavras das camponesas, Krupskaya relata:
Falam da “falta de consciência” dos homens, que olham com desdém para as mulheres membros da Junta de Freguesia e não as ajudam de forma alguma. Queixam-se de que os maridos não têm consciência, que têm de lutar com elas porque para elas “não temos de sofrer a trabalhar nos conselhos”. As camponesas dizem que os trabalhadores estão mais acostumados a viver em sociedade, são mais unidos do que os camponeses, e as camponesas são mais isoladas e, portanto, os homens zombam delas. Trabalhadores e camponeses falam muito sobre seu trabalho no Conselho. Dizem também que é necessário ter mais círculos sobre trabalho de campo, cursos e treinamentos (ibid.: 147-148).[xvii]
Outro exemplo é mostrado no discurso de Krupskaya no VIII Congresso do Komsomol em 1928, onde ela mostra que a discriminação contra as mulheres também existia nos Komsomols. Como o Komsomol “sabe – como dizem os manuais políticos – que, em nosso país, as mulheres têm os mesmos direitos que os homens, mas não percebe na vida que sua irmãzinha não vai à escola. Muitas vezes fala do kulak explorador, mas às vezes não vê os efeitos da exploração onde eles existem” (Krupskaya, 1978: 39). Ou como havia meninas entre 9 e 10 anos que eram trazidas da aldeia para a cidade, órfãs ou semi-órfãs, para cuidar dos filhos das famílias que trabalhavam nos Comissariados, sem que esses trabalhadores percebessem que havia exploração naquela ação e que essas meninas deveriam estar frequentando a escola (ibidem). Apesar de fazer parte do governo soviético, Krupskaya reconhecia que ainda havia um longo caminho a percorrer para mudar a situação de desigualdade das mulheres trabalhadoras russas.
A Transformação da Família: Krupskaya e Alexandra Kollontai
Apesar dos desafios que ainda existiam para as mulheres após a Revolução Russa, Krupskaya reconhece que algumas coisas mudaram e aponta a família como exemplo. Essa instituição, antes da Revolução, em que se podia chegar a supor uma condição de escravidão para as mulheres, e essa situação foi superada com as leis estabelecidas pela lei soviética, que contemplava, entre outras coisas, a possibilidade de pedir o divórcio. Krupskaya é crítica da instituição burguesa do casamento e acredita que ela deve ser transformada, mas não inclui a libertação sexual das mulheres em suas lutas. Esse era um tema polêmico na época, com autores como Zetkin, que consideravam que o papel da mulher dentro do socialismo deveria ser o de mães ou esposas, sem transformar a estrutura da família. Na contramão dessa posição, Kollontai foi uma das pioneiras ao escrever sobre a revolução sexual das mulheres ligada à luta da classe trabalhadora.
Alexandra Kollontai, 1872-1952, nascida em São Petersburgo em uma família aristocrática, mostrou desde muito jovem um ímpeto rebelde. Ela estudou apesar do desânimo de sua família, casou-se contra a vontade de sua família e divorciou-se logo depois, algo que não era considerado apropriado na época. A partir de 1899, ela se juntou ao Partido Operário Social-Democrata Russo e decidiu ir para Zurique para estudar, deixando seu filho a cargo de seu primeiro marido, Vladimir Ludvigovich Kollontai, de quem mais tarde se divorciaria. De Zurique, “Alexandra foi em busca de teóricas feministas e, em particular, de Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo. Quando retornou, em 1917, já era amiga e colaboradora de Nadezhda Krupskaya e Inessa Armand e fez parte do primeiro governo bolchevique, criado após a Revolução de Outubro” (Gargallo, 2018: 20). O trabalho em conjunto com Krupskaya foi principalmente dentro do Jenotdel, que Kollontai ajudou a criar e mais tarde dirigiu após a morte de Armand; além de trabalhar no jornal Kommunistka. Mas, como apontamos, a ligação não era apenas com as mulheres soviéticas, mas também com as alemãs, especialmente com Zetkin, quando ela participou da Primeira Conferência das Mulheres Socialistas que organizou em 1907, e quando viajou e se filiou ao Partido Social-Democrata com Rosa Luxemburgo na Alemanha (idem: 22-23).
Após a Revolução de Outubro de 1917, Kollontai foi membro do Comitê Central do Partido e ocupou o cargo de Comissária do Povo para a Seguridade Social, tornando-se a primeira mulher a ocupar um cargo de direção dentro do governo soviético. Algumas de suas preocupações, que ela compartilhou com suas colegas feministas, eram a erradicação da prostituição, a relevância da luta das mulheres trabalhadoras – em oposição ao movimento feminista burguês – e, como Krupskaya – a importância da educação das mulheres, que estava profundamente ligada à quebra do jugo doméstico. Kollontai também defendeu o direito das mulheres trabalhadoras de pedir o divórcio e não depender financeiramente de seus maridos: “Por força do decreto do Comissário do Povo de 18 de dezembro de 1917, o divórcio não é mais um luxo acessível apenas aos ricos; a partir de agora, a mulher trabalhadora não terá que esperar meses, ou mesmo anos, para que seu pedido de separação conjugal seja decidido, dando-lhe o direito de se tornar independente de um marido bêbado ou brutal” (Kollontai, 2018: 75)[xviii]. Kollontai lutou arduamente para que as questões da opressão das mulheres e sua participação na vida política fossem integradas aos debates do Partido Comunista (Bryant, 1923).
Diante do início da burocratização do Estado soviético, Kollontai fez parte da Oposição Operária em 1921, corrente política que surgiu quando um grupo do Partido se opôs à assinatura da Paz de Brest Litovsk, considerando que era um momento importante para promover uma revolução socialista em outros países, como a Alemanha. Bulgária ou Turquia. Esse confronto fez com que Kollontai renunciasse ao Comissariado do Povo e do Comitê Central do partido (Gargallo, 2018). A partir de 1922, a Oposição Operária se desintegrou e Kollontai não mais se juntou aos debates do Partido Comunista Russo. Além disso, coincide que nesse mesmo ano assumiu o cargo de embaixadora, primeiro na Noruega, depois no México e finalmente na Suécia, tornando-se assim a primeira mulher no mundo a ser embaixadora.
Kollontai expressou em seus textos como a emancipação feminina só seria possível se, ao mesmo tempo, houvesse uma transformação na sociedade, no plano socioeconômico, com leis que regulamentassem o trabalho e leis que protegessem a maternidade – que contemplavam direitos como descanso obrigatório para gestantes ou consultas médicas regulamentadas -, além de creches e espaços para gestantes e recém-nascidos, algo que promoveu dentro das medidas adotadas pelo novo governo soviético[xix]. Krupskaya compartilhou com Kollontai a importância de defender os direitos das mulheres grávidas, que eram praticamente inexistentes antes da Revolução Russa. Em “Mulheres e a Educação da Infância“, artigo publicado em 1901 na revista Iskra, Krupskaya denuncia que a legislação da época não previa direitos para as gestantes, uma vez que o fato de lhes conceder algum tipo de benefício dependia inteiramente da decisão do patrão de concedê-lo e, como não era obrigatório, em raras ocasiões foi-lhes concedido auxílio. “A verdade é que esses benefícios quase nunca são concedidos. Sem receber benefícios e com medo de perder o emprego, as mulheres trabalham na fábrica quase até o último dia de gestação e tentam voltar ao trabalho o quanto antes, mesmo sem estarem recuperadas do parto. É por isso que abortos espontâneos, partos prematuros e todo tipo de doenças ginecológicas são tão frequentes na fábrica” (Krupskaya, 2017: 25)[xx]
Em relação à família e ao casamento, Kollontai tinha expectativas de mudança no futuro: “uma nova forma de família que envolverá relações completamente diferentes entre homem e mulher, baseada em uma união de afetos e camaradagem, em uma união de duas pessoas iguais na sociedade comunista, ambas livres, ambas independentes, ambas trabalhadoras” (Kollontai, 2018: 98)[xxi]. Em consonância com essas pretensões, Krupskaya aponta que, no passado, “a vida familiar era baseada na escravidão: os filhos eram propriedade dos pais e a esposa do marido“, e como “sob o capitalismo a forma tributária do casamento é enfraquecida, mas ainda é uma operação comercial” (Krupskaya, 1978: 49-50). Krupskaya concorda com Kollontai sobre a necessidade de mudar o casamento para uma união mais livre de amor mútuo. “Marx e Engels já escreviam que somente no interior do proletariado poderiam surgir novas formas de relações conjugais: o matrimônio baseado na simpatia mútua, no amor mútuo, na confiança mútua e na identidade de opiniões” (ibid.: 50).[xxii]
Silenciado, mas não esquecido
Apesar da relevância da produção escrita e do alcance das propostas e ações das mulheres na Revolução Russa, o papel fundamental que elas desempenharam dentro do processo revolucionário russo é atualmente desvalorizado. Graziela Schneider (2017) nos mostra a grande diversidade de mulheres importantes durante esse período na Rússia. Entre elas, Anna Andreyevna Kalmanovitch, ativista do movimento de mulheres e uma das primeiras a dar palestras sobre os direitos das mulheres; Olga Andreyevna Chapir, de origem camponesa, professora universitária e membro da União pela Igualdade de Direitos para as Mulheres; Maria Ivanva Pokrovskaya, Ph.D., editora da revista Khensky Vêstnik e fundadora do Partido Progressista das Mulheres; Lyubov Yakovlevna Gurievitch – editora, escritora, jornalista e ativista de organizações políticas de mulheres na Rússia; Ekaterina Dmitrievna Kuskova, editora de várias revistas e membro da Liga pela Igualdade de Direitos para as Mulheres; ou Konkordya Nikolaevna Samoilova – revolucionária, ativista, fundadora do jornal Pravda, membro editorial da Rabotnitsa e organizadora junto com Kollontai do Primeiro Congresso Russo de Mulheres Trabalhadoras. Não é possível mostrar neste trabalho a extensa trajetória de todas essas mulheres, levando em conta também que elas assumiram diferentes posições políticas que influenciaram suas perspectivas em relação ao feminismo. Mas é preciso ressaltar que todas elas são parte central da história da Revolução Russa, onde assumiram posições políticas e militância ativa, escreveram em inúmeras publicações, editaram jornais, criaram partidos políticos e realizaram um trabalho significativo para defender e melhorar as condições de vida das mulheres.
Mas, embora silenciadas a partir de 1930 na Rússia com o fechamento do Jenotdel, essas autoras não foram esquecidas hoje. Além do impacto que tiveram na Revolução Russa e no movimento pelos direitos das mulheres do início do século 20, é essencial notar que as demandas que fizeram naquela época ainda são válidas hoje. Por exemplo, é significativo que uma das ações do Jenotdel nos primórdios da Rússia soviética tenha sido o direito ao aborto por escolha das mulheres e gratuito, o que é um marco histórico porque foi o primeiro país do mundo a legalizar o aborto. O trabalho de Jenotdel e das mulheres que lutaram para alcançar essa conquista dialoga até hoje com uma das demandas atuais do feminismo e, muito recentemente, com maior impulso na América Latina através do movimento da “maré verde” que surgiu na Argentina[xxiii].
Outro dos grandes debates, a importância da defesa dos direitos laborais das mulheres trabalhadoras – algo que as autoras russas apelavam ao descrever como nas fábricas do seu tempo as mulheres tinham pouca liberdade para se defenderem de abusos ou para poderem ter direitos de maternidade – ainda é uma das lutas permanentes do feminismo face à violenta e feroz exploração laboral das mulheres.
Quanto à quebra do “jugo doméstico” que Krupskaya e Kollontai [xxiv] expressaram ao narrar a injustiça do trabalho duplo que muitas mulheres faziam na fábrica e depois em casa, essa continua sendo uma das principais demandas do feminismo hoje. Como, por exemplo, nas marchas pelo Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, no Uruguai e na Argentina, onde, como em outros países, uma das principais palavras de ordem era “O que chamam de amor é trabalho não remunerado“, em referência ao trabalho de cuidado que as mulheres realizam e que não é reconhecido nem remunerado.
Um exemplo específico do impacto dessas autoras pode ser visto no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Brasil. Desde sua criação, o MST deu forte ênfase à participação política das mulheres em todos os níveis organizacionais – local, estadual e nacional – e em todas as suas esferas de atuação. Eles sempre elegem um homem e uma mulher como coordenador e coordenadora, respectivamente, por um determinado período de tempo e, quando são relegados por outros, essa igualdade de gênero é sempre mantida. Mas, além disso, o MST tem um Setor de Gênero que, a partir de uma perspectiva feminista camponesa popular, realiza diferentes atividades tanto em termos de organização e capacitação, quanto de conscientização e ação política. Nos documentos que produz, esse Setor inclui múltiplas referências a autores como Luxemburgo, Krupskaya, Zetkin e Kollontai, e reconhece seu papel dentro do feminismo operário, com o qual se identifica. No entanto, embora reconheça a importante influência que essas autoras exerceram sobre o MST,ressalta que “também é preciso reconhecer que o Feminismo Revolucionário, ao qual estamos vinculadas, ficou restrito por muito tempo a uma perspectiva eurocêntrica, sem levar em consideração as realidades das mulheres em outros países e regiões, suas culturas, seus modos de vida e interpretação da realidade” (Oliveira Mafort, 2017: 202) [xxv]. Assim, tomam esse feminismo socialista europeu primitivo como base de seu pensamento, para depois articular, a partir de seu contexto especial de luta por uma Reforma Agrária Popular no campo brasileiro, sua própria teoria e prática de um feminismo camponês popular e anticapitalista. Essa posição também é compartilhada pelos companheiros da Coordenação Latino-Americana de Organizações Rurais (CLOC) e da Via Campesina.
Entre as muitas iniciativas do Setor de Gênero e do Setor de Educação – à semelhança das demandas de Krupskaya e Armand para a necessária implementação de creches para os filhos de mulheres trabalhadoras – o MST criou creches para possibilitar e facilitar a participação das mulheres em todos os tipos de eventos de capacitação. trabalho produtivo, ou organização social. Essas creches, que são chamadas de Cirandas infantis, são espaços onde mães e pais militantes do MST podem deixar seus filhos e filhas aos cuidados do coletivo de educação. Dessa forma, eles podem participar ativamente dos encontros locais, regionais ou nacionais do MST, e ir aos diferentes centros educacionais onde são ministrados cursos, formação de professores ou instrução política. As Cirandas infantis são organizadas pelo próprio movimento e, portanto, também têm uma finalidade político-pedagógica, para instruir os filhos e filhas de militantes do MST, a quem chamam de Sem-Terrinhas.
Todos esses exemplos nos permitem refletir sobre os possíveis diálogos das ideias e conquistas das mulheres socialistas russas com os movimentos sociais atuais. Tanto aqueles com demandas feministas específicas – como aborto livre, gratuito e seguro; defesa dos direitos das mulheres trabalhadoras; a lacuna de gênero no cuidado e no trabalho doméstico, etc., bem como movimentos sociais que orientam seus objetivos políticos para outras áreas, mas defendem a introdução do feminismo em sua forma de organização social, como é o caso do MST.
Considerações Finais
Um aspecto marcante das mulheres socialistas que apresentamos neste artigo é que, ao mesmo tempo em que defendem as mulheres como sujeitos políticos e reivindicam a existência de uma dupla exploração das mulheres, ao mesmo tempo se afastam do que as feministas burguesas da época chamavam de “questão das mulheres”. Krupskaya, no artigo editorial do primeiro número da Rabotnitsa, publicado em 1914, afirma o seguinte:
“As mulheres burguesas defendem seus “direitos das mulheres” especiais, sempre se opõem aos homens e exigem seus direitos dos homens. Para elas, a sociedade contemporânea é dividida em duas categorias principais, homens e mulheres. Os homens possuem tudo, têm todos os direitos. A questão é alcançar a igualdade de direitos. Para as mulheres trabalhadoras, a questão feminina é muito diferente. Mulheres politicamente conscientes veem que a sociedade contemporânea está dividida em classes. A burguesia é uma classe, a classe trabalhadora é outra. Seus interesses se contrapõem. (…) A “questão das mulheres”, para as trabalhadoras, é como envolver as massas atrasadas de mulheres trabalhadoras na organização, como deixar claro seus interesses, como fazê-las rapidamente transformadas em companheiras na luta comum” (Krupskaya, citado em Frencia e Gaido, 2018: 61-62).
Para essas autoras, a defesa das mulheres se baseia nas diferenças de classe, e é a partir dessa posição política que elas projetam sua luta. Como vimos no início do artigo, a relação entre feminismo e socialismo tem sido complexa. Hartmann (1979) observa como muitos marxistas estabeleceram o feminismo como um objetivo secundário, como se as demandas das mulheres fossem obtidas apenas pela transformação das relações econômicas e sociais do capitalismo. “Enquanto a análise marxista fornece uma visão essencial das leis do desenvolvimento histórico, e do capital em particular, as categorias do marxismo são cegas para o sexo” (Hartmann, 1979: 2). Mas Hartmann não descarta o marxismo, pelo contrário, o considera necessário, complementando-o com uma perspectiva feminista. “É necessário recorrer tanto à análise marxista e, em particular, ao seu método histórico e materialista, quanto à análise feminista, e especialmente à identificação do patriarcado como estrutura social e histórica, se quisermos entender o desenvolvimento das sociedades capitalistas ocidentais e a situação das mulheres dentro delas” (ibidem).
Para esse fim, o de estabelecer um diálogo entre feminismo e marxismo, as autoras socialistas russos podem ser de grande ajuda para nós. Krupskaya, apesar de acreditar firmemente na luta dos trabalhadores como um objetivo político, não deixa de lado em seus textos um olhar crítico sobre as atitudes patriarcais dentro do governo soviético ou nos Komsomols. Sem chegar ao ponto de estabelecer que o problema está no patriarcado, chega ao ponto de denunciar o tratamento desigual e injusto das mulheres, especialmente no acesso à política e à educação (Krupskaya, 1978). Kollontai denuncia a visão individualista burguesa que acredita que as questões relativas à sexualidade devem ser privadas e íntimas, mas ao mesmo tempo critica os socialistas que acreditavam que as relações entre homens e mulheres eram aspectos secundários, solucionáveis no futuro quando a sociedade capitalista deixasse de existir. “A solução para os problemas sexuais só pode ser encontrada no estabelecimento de uma nova ordem social e econômica, com uma transformação fundamental de nossa sociedade atual”, dizem os socialistas. Mas essa espera por amanhã também não indica que nós também não conseguimos entender o fio condutor?” (Kollontai, 2018: 48) [xxvi].
Apesar da oposição ideológica ao feminismo na época, as ações e conquistas das mulheres socialistas russas fincaram marcos reais na história das mulheres e, portanto, fazem parte da luta histórica do feminismo. O período de 1917 a 1930 viu grandes mudanças florescerem em relação aos direitos das mulheres na Rússia: o divórcio foi facilitado e concedido automaticamente, estabeleceu-se que os filhos dentro ou fora do casamento tinham direitos iguais, a licença maternidade era garantida, mais direitos foram concedidos às mulheres no trabalho e a igualdade dos cônjuges em relação aos filhos e filhas foi estabelecida (Navailh, 1993: 259). Além disso, as ações das mulheres socialistas russas não se limitam às políticas promovidas após a criação do governo soviético. Mesmo antes da Revolução de 1917, mais mulheres do que homens foram deportados para a Sibéria por organizarem revoltas contra o czar (Bryant, 1923), denotando sua ampla participação em movimentos pré-revolucionários.
É incomum reconhecer explicitamente que o início da Revolução de Fevereiro de 1917 ocorreu em São Petersburgo, quando, durante a celebração do Dia Internacional da Mulher – 8 de março equivale a 23 de fevereiro no calendário russo – trabalhadores têxteis se manifestaram em massa exigindo pão e paz. É o que afirma Kollontai, de forma clara e enfática, em referência ao Dia da Mulher Trabalhadora:
“Mas este não é um dia especial apenas para as mulheres. 8 de março é um dia histórico e memorável para os trabalhadores e camponeses, para todos os trabalhadores russos e para os trabalhadores de todo o mundo. Em 1917, neste dia, eclodiu a grande Revolução de Fevereiro. Foram as mulheres trabalhadoras de São Petersburgo que iniciaram esta revolução; elas foram as primeiras a levantar a bandeira da oposição ao czar e seus comparsas. E assim, para nós, o Dia da Mulher Trabalhadora é um dia de dupla celebração” (Kollontai, 1920).
Com essa referência ao Dia da Mulher Trabalhadora em 1917, considera-se necessário destacar a importância do 8 de março hoje, e como os últimos três anos, de 2017 até agora, testemunharam uma extraordinária greve feminista que tomou as ruas reunindo milhões de mulheres em diferentes países no mesmo dia. Com base nesta reflexão, gostaríamos de reivindicar o papel dessas mulheres socialistas russas, por seu poderoso legado e pelo diálogo que elas e suas ideias ainda estabelecem com os desafios que enfrentamos hoje.
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[i] Algumas dessas ações foram, no caso dos owenistas, a criação de “sistemas de organização da administração doméstica com cozinhas coletivas e cantinas e berçários para as crianças”, além de exigir um “sistema de organização social baseado na cooperação mútua e na propriedade conjunta” (Nash, 2004: 86). No caso da França, as seguidoras de Saint Simon estavam interessadas “em provocar mudanças sociais que melhorassem as condições de trabalho das mulheres e a estrutura familiar” (ibid.: 87). Além disso, criaram várias publicações, como “La Tribune des Femmes”, que só publicava textos escritos por mulheres.
[ii] Apesar dessas abordagens teóricas, dentro do movimento operário havia, na prática, uma forte oposição de homens contra as mulheres que passavam a ter empregos assalariados (De Miguel & Palomo, 2018; Capel, 2008).
[iii] Outra autora fundamental é a franco-peruana Flora Tristán, que conseguiu estabelecer a relação entre os problemas das mulheres e a luta da classe trabalhadora. “Seus escritos Peregrinação de um Pária (1838) e União dos Trabalhadores (1843) abriram os horizontes das mulheres para os novos mundos de modernização, industrialização e política do século XIX (…). Flora Tristán foi uma das primeiras mulheres a estabelecer uma conexão inescapável entre a conquista do socialismo e o feminismo como forma de emancipação feminina” (Nash, 2004: 88).
[iv] Em relação às divergências entre o feminismo burguês e o feminismo operário, nos Estados Unidos, já em meados do século XIX, o movimento abolicionista denunciava a diferença de classe e raça entre as mulheres. Enquanto algumas mulheres reivindicavam o direito ao voto e ao trabalho, outras, no caso as negras, haviam sido escravas e trabalhado a vida toda. O discurso de Sojourner Truth na Convenção das Mulheres em Ohio, em 1851, é um exemplo disso: “Olhe para mim, olhe para o meu braço! Eu semeei, plantei e trouxe a colheita para o celeiro, e nenhum homem poderia me ultrapassar. E eu não sou mulher?” (Nash, 2004: 84).
[v] Citação traduzida do português para o espanhol pela autora.
[vi] O artigo foi publicado em 1900 com o nome de Sablina, pseudônimo de Nadezhda Krupskaya. [vii] É necessário esclarecer neste ponto que a ignorância acerca de Krupskaya refere-se à arena internacional, uma vez que na Rússia ela é bem conhecida como pedagoga e há vários centros de pesquisa, educação e prêmios acadêmicos que levam seu nome, bem como um monumento no centro de Moscou dedicado a ela.
[viii] Narodnaya Volya — ”Vontade do Povo“ — foi uma associação criada em 1879, que acreditava na organização para a subversão e a ação armada. Depois de várias tentativas, eles conseguiram acabar com a vida do imperador Alexandre II em 1881. Uma de suas principais líderes era uma mulher, Sophia Perovskaya (Revista Nada, disponível em https://revistanada.com/2015/03/28/ narodnaya-volya-the-people-will/).
[ix] Uma das iniciativas de Narkompros foi criar livros escolares nas várias línguas da Rússia soviética; em 1928, os títulos foram publicados em 70 línguas nacionais e, em 1934, o número de línguas impressas chegou a 104 (Skatkin e Cov’janov, 1994).
[x] O texto de Leon Trotsky, intitulado “A morte de Krupskaya”, foi publicado na revista nova-iorquina The New International em abril de 1939.
[xi] Neste artigo de Clara Felis no jornal El Mundo de 8 de março de 2017, “As três mulheres que Lenin usou para o triunfo da Revolução” refere-se a Nadezhda Krupskaya, Inessa Armand e Alexandra Kollontai.
[xii] Assinado como Helène Blonina, pseudônimo de Inessa Armand. [xiii] Embora a primeira edição da Rabotnitsa tenha sido publicada em 1914, quando a revista foi fechada devido à repressão czarista, ela não pôde ser republicada até 1917.
[xiv] O artigo de Krupskaya apareceu pela primeira vez na edição 8 da revista Yuni kommunist, ”Jovem Comunista“, em 1935.
[xv] Trecho do texto “Sobre a Questão da Escola Socialista”, de Nadezhda Krupskaya, publicado pela primeira vez em 1918. Citação traduzida do português para o espanhol pelo autor.
[xvi]Citação traduzida do português para o espanhol pela autora.
[xvii] Trecho do texto “Mulheres Operárias e Camponesas nos Conselhos”, de Nadezhda Krupskaya, publicado pela primeira vez em 1927. Citação traduzida do português para o espanhol pela autora.
[xviii] Trecho do texto “O comunismo e a família”, de Alexandra Kollontai, publicado pela primeira vez em 1918.
[xix] “Alexandra Kollontai introduziu dezesseis semanas de licença maternidade, o direito ao aborto, os direitos das mães que amamentam de não trabalhar mais de quatro dias por semana e regulamentou o tempo de folga para amamentar. (…) Instituiu -se que todas as mulheres, independentemente de serem casadas ou não, recebem seu salário mesmo que se ausentem do trabalho se fossem ajudar amigos e colegas no trabalho ou na política com o nascimento de suas filhas e filhos” (Gargallo, 2018: 25).
[xx] Citação traduzida do português para o espanhol pela autora.
[xxi]Trecho do texto “O comunismo e a família”, de Alexandra Kollontai, publicado pela primeira vez em 1918.
[xxii] Trecho do texto “Setor Importante da Obra do Komsomol”, de Nadezhda Krupskaya, publicado pela primeira vez em 1935.
[xxiii] Movimento pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito na Argentina, que usa lenços verdes e a consigna “Educação sexual para decidir, contraceptivos para não abortar, aborto legal para não morrer” como símbolo.
[xxiv] Em relação aos afazeres domésticos, Kollontai afirma que “são trabalhos extenuantes. Consomem toda a energia e o tempo da mulher trabalhadora, que, além disso, tem que trabalhar em uma fábrica” (Kollontai, 2018: 87).
[xxv] Citação traduzida do português para o espanhol pela autora.
[xxvi] Trecho do texto “Relações sexuais e luta de classes”, de Alexandra Kollontai, publicado pela primeira vez em 1911.
Tradução José Roberto Silva