Um texto de jornalista colombiana residente no Brasil Mónica Arango. Ela é militante feminista que já viajou por diversos países, nesse texto nos presenteia um testemunho sobre como mulheres de diversas origens espalhadas por diversas regiões estão nesse momento encarando a fase de isolamento social.
Redação
Mónica Arango*
Em tempos de distanciamento social, o vínculo com nossos dispositivos eletrônicos (especialmente o computador e o celular) tornou-se mais evidente e necessário. Jogamos videogames como roleta online personalizada, assistir youtube ou netflix mais do que nunca hoje em dia. O horário nos encheu de reuniões on-line, conferências, cursos gratuitos, ligações, vídeo-chamadas e, embora talvez não com tanto tempo livre, a demanda por carinho e contato com nossos seres queridos aumentou.
À constante busca de como ocupar esse tempo solitário, talvez vazio e até extraviado, foram acrescentadas a ansiedade e a preocupação com o futuro: “Quanto tempo vamos ficar assim? Quantas pessoas vão morrer? Será que algo vai acontecer com a minha família? E os meus amigos? Ansiamos por atividades tão simples como caminhar ou abraçar alguém, revisamos nossos últimos dias de “normalidade” e, apesar das circunstâncias, conseguimos planejar (mais de uma vez) as coisas que faríamos e os lugares que visitaríamos quando pudéssemos sair de nossas casas sem perigo.
Graças a essa virtualidade que nos invade mais do que nunca, pude conversar com várias amigas de diferentes partes do mundo. Estas são algumas das experiências que elas compartilharam sobre a quarentena:
“Estou preocupada com a indiferença do meu país”
Chihuahua (México)
O que mais preocupa Elma Nidia Balderrama com esta pandemia é “a indiferença de seu país e a falta de recursos nos hospitais”. E de acordo com ela, renunciar a privacidade é uma das coisas mais drásticas que ela está enfrentando. Além disso, em sua casa, as tarefas domésticas aumentaram. “A figura viril da minha família assume que agora meu tempo é apenas para minha casa e suas tarefas”, diz a jovem de 25 anos. Ela é formada em negócios gastronômicos, gosta de participar de missões com seu grupo religioso, tomar café e dançar. Ela adora “ceviche” e bebida “jamaica”. A primeira coisa que ela quer fazer quando saia da quarentena é uma festa com seus amigos.
- O primeiro caso de Coronavírus no México foi registrado em 28 de fevereiro. A quarentena começou em 16 de março e durará até 30 de abril.
“A vida mudou drasticamente”
Manizales (Colômbia)
Katherin Gutiérrez sente que a sua vida a mudou drasticamente. Agora ela não pode realizar suas atividades diárias: levar sua filha a escola, deixar a bebê com a avó e depois ir trabalhar. Ela tem 30 anos, sua comida favorita é “nachos” e limonada de coco. Do que mais sente falta é rir, cumprimentar e abraçar “sem pensar que posso ser infectada”, acrescenta. Katherin acredita que a responsabilidade das mulheres é maior agora. Ela teme que a situação não melhore e que suas filhas não possam ter qualidade de vida. A primeira coisa que ela quer fazer quando saia de quarentena é visitar sua família e seu namorado.
“Quero dar um passeio, caminhar e respirar ar fresco”
Belalcazar (Colômbia)
A primeira coisa que Victoria quer fazer quando a quarentena terminar é “dar um passeio, caminhar e respirar ar fresco. Caminhar muito”. Ela é dona de casa, tem 40 anos e vive com o marido, o filho e sua cachorra. Sua comida favorita é macarrão. Sua vida em Belalcazar (uma pequena cidade no departamento de Caldas, Colômbia) é muito tranquila. A maior mudança foi não poder passear, mas ela garante que o resto permaneceu igual. De fato, agora seu marido e filho a ajudam mais nas tarefas domésticas. O que mais a preocupa com essa pandemia é que os membros de sua família fiquem doentes.
- O primeiro caso de Coronavírus na Colômbia foi registrado em 6 de março. A quarentena começou em 24 de março (embora algumas cidades tenham começado mais cedo) e durará até 27 de abril.
“Estou preocupada com as pessoas que não podem trabalhar em casa”
Taguig (Filipinas)
O que mais preocupa Mica com a crise que estamos enfrentando são as pessoas que não podem trabalhar em casa. Ela tem 26 anos e é assistente virtual. “Tacos de verdade e bom café” são sua comida favorita. Ela gosta de assistir filmes, ler e praticar Jiu Jitsu. Mica acredita que a divisão entre classe sociais é mais perceptível em seu país do que a desigualdade de gênero; de fato, ela não acredita que tenha menos oportunidades porque é mulher ou que as condições de quarentena são diferentes. A primeira coisa que Mica quer fazer quando esse período terminar é visitar sua família.
- O primeiro caso de Coronavírus nas Filipinas foi registrado em 30 de janeiro. A quarentena começou em 16 de março. O presidente Rodrigo Duterte disse que quem não cumprir a medida poderá ser baleado.
“Sinto falta das mangas, laranjas e arrozais”
Bridgetown (Barbados)
Saory tem 27 anos e é de Kampong Chhnang, Camboja. Ela mora em Bridgetown, Barbados, um estado localizado no sudeste do mar Caribe. Do que mais sente falta do seu país: “Sinto falta das mangas, laranjas e dos campos de arrozais”, disse. Sua comida favorita são os pratos típicos de Camboja, como peixe Amok e bife Lok Lak. Durante a quarentena, ela se concentrou em atividades como ler, cozinhar, fazer yoga e ouvir música. No momento, sua maior preocupação é a saúde de seu pai, que está no pais asiático. Quando isso acabar, ela quer ajudar e oferecer a mão a quem mais precisar.
- O primeiro caso de Coronavírus em Barbados foi registrado em 17 de março. A quarentena começou em 22 de março e durará 14 dias.
- O primeiro caso de Coronavírus no Camboja foi registrado em 27 de janeiro. A partir de 17 de março, existem restrições para grandes eventos.
“O homem está autorizado a não fazer tarefas domésticas”
São Bernardo do Campo, Brasil
Beatriz Costa passa muito tempo na rua. É onde ela trabalha, e por isso que sua dinâmica mudou tanto. Beatriz é fotógrafa, estudante de cinema audiovisual, trabalha com jogos educativos, entre outras coisas. Tem 35 anos e vive com seu gato. Para Beatriz, há uma grande diferença entre homens e mulheres em quarentena: “O homem está autorizado a não fazer tarefas domésticas. Sempre tem que ser servido. É uma coisa que foi instalada desde que éramos crianças”. O que mais a preocupa é que as pessoas mais vulneráveis enfrentem ainda mais necessidades. “Tenho medo de que acontecera uma crise muito grande, realmente teme pela a família, com idosos, medo de que as pessoas percam o controle. Eu tenho medo também que o pânico se instale”.
- O primeiro caso de Coronavírus no Brasil foi registrado em 25 de fevereiro. Não há quarentena obrigatória no país, mas a maioria dos brasileiros optaram voluntariamente ao isolamento preventivo.
“O vírus não se importa se você é homem ou mulher”
Togliatti, Rússia
Sofia Kolomiets vive em Moscou, mas foi para a quarentena sozinha em sua cidade, Togliatti. Ela tem 29 anos, é jornalista, estudante de doutorado e é casada. Ela se diverte ouvindo e dançando reggaeton, gosta de comer de tudo, mas adora as frutas e o chocolate. “O vírus não se importa se você é homem ou mulher”, diz ela, acrescentando que, embora não tenha homem por perto (porque o marido é policial e ele não está em quarentena), ela acredita que, em geral, os homens pensam que “isto é apenas uma pausa”, enquanto” as mulheres estão mais conscientes”. Sofia está preocupada em ser uma transmissora do vírus e em infectar os que estão em maior risco. A primeira coisa que gostaria de fazer logo após tudo isso seria viajar.
- O primeiro caso de Coronavírus na Rússia foi registrado em 31 de janeiro. A quarentena obrigatória começou em 30 de março e vai até o final de abril.
“Há pessoas morrendo e sofrendo”
Gros Islet, Saint Lúcia
Embora esteja bem, passando a quarentena em casa, Wingam Rentta está preocupada com a pandemia de que “há pessoas morrendo e sofrendo”. Ela tem 23 anos, é da Índia mas mora em Saint Lúcia. Wingam segui uma rotina rigorosa para evitar a depressão: faz yoga, lê, estuda mandarim, canta, toca o piano, fala com a família e mantem a casa limpa. “Eu não tenho ideia do que os homens em quarentena fazem”, diz ela, mas acrescenta que não acha que gênero seja algo importante ou trazer um diferencial a chatice do momento.
- O primeiro caso de Coronavírus em Saint Lúcia foi registrado em 13 de março. A partir de 20 de março começou o toque de queda e a quarentena.
- O primeiro caso de Coronavírus na Índia foi registrado em 30 de janeiro. A quarentena começou em 24 de março e durará 21 dias.
“Eu não acho que as mulheres têm menos voz em quarentena”
Assunção, Paraguai
Gloria Fan mora em Assunção, Paraguai, mas é de Taipei, Taiwan, e com base na situação em seu país, ela não acredita que as mulheres tenham menos voz em quarentena. “O presidente de Taiwan é uma mulher e ela levantou a voz neste momento”. Gloria estudou filosofia e tem 23 anos. Gosta de ler, assistir séries de televisão e escrever. Ela ama comer empanadas e tomar iogurte. Ela sente que agora tem uma grande responsabilidade em manter uma rotina diária. Gloria estuda espanhol, inglês e cantonês, trabalha em uma escola, e o que mais sente falta é abraçar as crianças. Essa é a primeira coisa que deseja fazer quando a quarentena terminar.
- O primeiro caso de Coronavírus no Paraguai foi registrado em 7 de março. A quarentena começou em 10 de março e vai até 12 de abril.
- O primeiro caso de Coronavírus em Taiwan foi registrado em 28 de janeiro. A quarentena começou em 1º de abril e continuará até 30 de abril.
*Mónica Arango é militante das Vermelhas