Mulheres contra Bolsonaro é o fenômeno mais progressivo dessa conjuntura
SARA VIEIRA e ANTONIO SOLER
No Brasil, as mulheres foram decisivas em várias lutas recentes: cumpriram um papel fundamental na rebelião de Junho de 2013, na rebelião estudantil secundarista em 2015, na luta contra a ofensiva reacionária, na luta contra as “reformas” de Temer e na defesa dos seus direitos reprodutivos.[1]
Agora, nesta conjuntura político-eleitoral, estão por cumprir um papel não menos decisivo contra o avanço do reacionarismo. Além das pesquisas de opinião pública que demonstram o rechaço das mulheres em relação a Jair Bolsonaro, pois nesse seguimento do eleitorado esse candidato é que tem a menor intenção de votos e que tem a maior rejeição[2], as mulheres se posicionam de maneira ativa contra o neofascista.
No facebook foi criado o grupo Mulheres contra Bolsonaro que em poucos dias chegou a mais de 1 milhão de participantes de todo o país, além disso, estão sendo criados grupos em todos os Estados para que além das denúncias sobre o aberto caráter machista, racista, lgbtfóbico, antioperário e antidemocrático desse candidato, também possam convocar atos políticos e outras manifestações.
Depois de anos de uma das maiores crises sociopolíticas da nossa história, de uma ofensiva reacionária que quer impor um patamar qualitativamente superior de exploração/opressão e de importantes processos de resistência dos trabalhadores, das mulheres e da juventude que foram sabotados pelas direções burocráticas, estamos em uma situação político-eleitoral que tem grande potencial de definição para o próximo período.
Com os ataques aos direitos democráticos desse ano – execução política de Marielle, prisão de Lula sem provas e intervenção militar no Rio de Janeiro -, a ofensiva reacionária ganha um novo patamar que coloca uma conjuntura político-eleitoral decisiva para o desdobramento da crise crônica em que vivemos. Contexto que foi agravado pela política das direções – particularmente a lulista – que ao invés de chamar a luta, apostou sistematicamente na conciliação e na rendição diante desses profundos ataques.
Interessante bastar uma ação isolada contra Bolsonaro, com a qual não temos nenhum acordo porque serve apenas para vitimar e fortalece-lo, para que cinicamente os representantes da classe dominante (grande mídia, intelectuais e generais) alardeiem os “perigos para a democracia” caso o ambiente de polarização política não for contido. Estes são os mesmos que diante da execução política de Marielle, da prisão de Lula, da intervenção militar no Rio de Janeiro, que só aumentou a violência contra os pobres, e dos assassinatos diários de lideranças camponesas e indígenas, se calam de maneira sepulcral.
Os representantes das classes dominantes sabem que repousamos sobre um vulcão prestes a entrar em erupção, que a classe trabalhadora e os oprimidos não estão derrotados e que o episódio do ataque a facada a Bolsonaro reflete de maneira (muito) distorcida a bronca contra os terríveis ataques contra os direitos políticos e econômicos dos trabalhadores.
Mulheres rompem com formalismo e levam luta para as ruas
Estamos na verdade em uma luta de morte – que precisa se tornar consciente e ativa da nossa parte para que possamos nos mover de maneira efetiva – entre as forças que querem impor uma situação reacionária para aprofundar a exploração e opressão, de um lado, e a luta das mulheres, da juventude e dos trabalhadores por democracia e direitos dos trabalhadores, de outro.Como parte desse movimento, a luta por justiça para Marielle Franco é fundamental. Depois de 6 meses de execução da vereadora e de Anderson Gomes (que dirigia o veículo) alvejado, nenhum inquérito foi aberto. Esse foi e é claramente um crime político contra todos os que lutam pelos interesses dos trabalhadores e dos oprimidos.
A luta por justiça por Marielle deve ser assumido por toda a esquerda, por todas organizações democráticas e por todos os partidos, a começar pelo PT. Essa é a organização que tem a maior capacidade de mobilização, mas não faz nada mais do que usar de forma eleitoreira a prisão de Lula sem fazer nenhum link com a necessidade de lutarmos todos contra o conjunto de ataques aos direitos democráticos que estamos enfrentando.
Por isso tudo, nesse dia 14 de setembro, quando se cumpre 6 meses de execução política, é dever de todas as organizações convocar os atos por justiça por Marielle e Anderson, em defesa dos direitos democráticos e contra o avanço do neofascismo. Em São Paulo, nesta sexta-feira (14) a partir das 18h no vão do MASP estamos convocando o evento Não seremos interrompidas!
Nesse sentido, o fato de as mulheres terem rompido com o formalismo eleitoral e estarem convocando atos contra Bolsonaro em todo o país, o que todas as organizações que se dizem representar os interesses dos explorados e oprimidos devem fazer, e levar o intenso e decisivo debate de projetos políticos antagônicos para as ruas é fundamental para que essa conjuntura se resolva de forma favorável para as mulheres e os de baixo.
Movimento que será decisivo para derrotar o avanço do neofascismo que, apesar Bolsonaro não ter crescido eleitoralmente de forma significativa após o ataque, está em primeiro lugar da corrida eleitoral com 24% de intenções de voto. Por isso, é fudamental fortalecer a convocação dos atos Mulheres contra Bolsonaro – 29 de setembro – em todo o país.
[1] O movimento de mulheres em todo o mundo cumpre um papel fundamental enquanto articulador das demandas dos explorados e oprimidos. Em um contexto de crise econômica e de ataques sistemáticos contra os trabalhadores, ao lutar por suas demandas, as mulheres se enfrentam contra a classe dominante, seus representantes e suas políticas de aprofundamento da exploração e opressão e avançam politicamente como força totalizadora. Com suas intersecções com os explorados e oprimidos, o movimento de mulheres cumpre nos últimos anos um papel fundamental, politiza-se cada vez mais e incorpora as demandas de todos os oprimidos. Assim, pela radicalização de suas demandas, pela massividade que tem alcançado e pela sua politização, decisivo no cenário mundial e nacional.
[2] Veja o artigo Eleições 2018: polarização, crise e instabilidade em https://socialismooubarbarie.org/post/eleicoes-2018-refletem-polarizacao-crise-e-instabilidade