“Você vê personagens lutando para sobreviver após serem dispensados do trabalho, lutando para operar lanchonetes de frango frito ou trabalhando como motoristas. Isso me lembrou de meus colegas de trabalho que morreram.” Relato de um trabalhador em greve. 

RENATO ASSAD

Nesta última quarta-feira (20), 13 cidades da Coréia do Sul presenciaram mobilizações de trabalhadores que decretaram estado de greve geral no país para reivindicar segurança e melhores condições de trabalho. Há relatos de que atos também ocorreram em algumas zonas rurais do país asiático. 

As ruas da capital sul-coreana, Seul, pareciam palco de um inédito episódio da série Round 6. Mas, na verdade, nada de fictício ali havia. Tratava-se de mobilizações massivas de uma greve geral dos trabalhadores e trabalhadoras convocada na passada quarta-feira pela Confederação Coreana de Sindicatos (KCTU). A estimativa é de que mais de meio milhão de trabalhadores tenham paralisado as atividades de diversas áreas da economia: construção civil, transportes, serviços, dentre outros.

Para quem assistiu a nova série Round 6, fica evidente que a conexão com a realidade das centenas de pessoas que colocam a própria vida em risco durante os episódios – encarando jogos infantis para cobiçar um prêmio financeiro – é um retrato do desespero e da desumanização social deste século e enquadra perfeitamente nas condições de vida da classe trabalhadora internacional. E, com esta profunda relação entre a ficção e a realidade, muitos trabalhadores foram aos atos vestidos como as personagens da série. 

Retratada internacionalmente como o paraíso do capitalismo asiático, a Coreia do Sul materializa hoje uma das mais exploratórias jornadas de trabalho. A média de horas semanais despendidas pela força de trabalho no país é de 44,6 horas. Se compararmos com os países membros da OCDE, em que a média da carga horária semanal fica em torno de 32,8, o país da península da Ásia Oriental exige quase 8h a mais de trabalho por semana – um exemplo concreto da ferocidade do capitalismo deste século que intensifica a exploração do trabalho a níveis que pareciam estar superados há muito tempo. 

Diante do quadro de crise estrutural do capitalismo agravado pela pandemia, que traz consigo uma particularidade distinta do século passado – a intensidade com a qual explora a classe trabalhadora internacional e o caráter destrutivo das forças produtivas -, as possibilidades de presenciarmos rebeliões, greves, mobilizações e até mesmo revoluções sociais a nível internacional são cada vez mais concretas. Esse é o caso de países como EUA, Chile, Colômbia, Mianmar, Hong Kong e etc, em que pese o processo de ascensão e refluxo das lutas devido a um nível ainda relativamente baixo de desenvolvimento da organização e consciência de classes. 

Não restam, então, dúvidas sobre o caráter contraditório e a tendência à polarização política que se consolida neste período. Entretanto, apenas as condições objetivas da realidade material, ou seja, a exploração desenfreada, o retrocesso no nível de vida das massas, a fome e a carestia em geral não são suficientes para emplacar uma luta revolucionária que tenha como horizonte estratégico a emancipação de nossa classe. Mas uma coisa é certa,  estes processos, os que já acontecem e os que estão por explodir, questionam profundamente – muitas vezes intuitivamente – o sistema capitalista e abrem toda uma série de desafios políticos e construtivos para a esquerda socialista sobre a necessidade de superar as velhas e burocráticas direções sindicais, bem como de organizar e disputar toda uma nova geração de lutadores e lutadoras que fazem a suas primeiras experiências políticas hoje nas ruas. 

Todo apoio às reivindicações da classe operária coreana!

Viva a luta internacional dos trabalhadores!