Toda solidariedade a Paulo Galo, dos Entregadores Antifascistas, que denunciou em sua conta oficial no Instagram ter sofrido tortura dentro de uma delegacia em São Paulo, após ser abordado e detido por PMs por não utilizar capacete. 

MARCOS VIEIRA

Em sua conta oficial no Instagram (@galodelutaoficial) Paulo Roberto da Silva Lima, mais conhecido como Paulo Galo, revelou, no último sábado (4/3), ter sido torturado por policiais militares na região oeste da cidade de São Paulo. Esse fato ocorreu semanas antes, no dia 15 de fevereiro. O caso repercutiu nas redes e foi publicado em detalhes pela Ponte Jornalismo. [1]

Nos posts feitos em suas redes há fotos das agressões que mostram lesões em várias partes de seu corpo, como boca, dedos de uma das mãos e marcas de queimadura em um dos braços. Na legenda de um deles, Galo afirma: “a duas semanas atrás fui pego sem capacete pela polícia, me levaram pra uma delegacia, me espancaram e me queimaram dizendo: Você não gosta de queimar as coisas?”

De acordo com Galo, a tortura praticada pelos policiais – que também filmaram as agressões – tem relação direta com seu envolvimento, junto ao coletivo Revolução Periférica, no incêndio da estátua do bandeirante Borba Gato na região de Santo Amaro (São Paulo) em julho de 2021, que culminou em sua prisão arbitraria no dia 28 daquele mesmo mês. Em seu relato, os policiais teriam mencionado o fato: “Lá na delegacia eles acabaram descobrindo, inevitavelmente, que eu fiz a ação do Borba Gato e aí começaram a sessão de tortura deles lá.

Em caso semelhante, Genivaldo Santos – o homem negro e neurodivergente – foi torturado e morto por policiais rodoviários federais por não utilizar capacete ao pilotar uma moto no dia 25 de maio de 2022 em Umbaúba (SE).

Diante de tais fatos, e de tantos outros que são cometidos diariamente nas periferias brasileiras por policiais a mando do Estado, é legítimo questionarmos: quantos Paulo Galos terão que ser torturados, e quantos mais corpos pretos, periféricos e pobres terão que perder a vida para que a polícia realmente seja extinta nesse país?

Polícia, inimiga de classe!

O Estado de Direito é privilégio burguês e se sustenta na violência policial e paramilitar contra a classe trabalhadora. Esta, cada vez mais, em situação precarizada, sem condições de igualdade e de se autodefender da repressão brutal praticada contra ela.

Resgatando outro texto de nossa corrente, caracterizamos que a polícia é uma força armada a serviço da burguesia, portanto, inimiga e externa à classe trabalhadora[2]. Agindo como elemento repressor e de controle estatal a serviço da exploração, atua dentro de um sistema ilegítimo que subjuga os trabalhadores, principalmente negros, das periferias brasileiras.

Trotsky descreve a polícia como um agente da ordem burguesa: “O fato de os policiais terem sido recrutados em grande parte entre os trabalhadores socialdemocratas não significa nada. Aqui também, a existência determina a consciência. O trabalhador que se torna policial a serviço do Estado capitalista é um policial burguês e não um trabalhador“[3].

Galo não foi preso, detido e torturado apenas porque estava sem capacete, mas porque, além de ser uma homem periférico, é uma referência de um setor da classe trabalhadora – os entregadores por aplicativos – que está avançando em sua consciência de classe,  métodos de luta e organização. Não há nada mais que o Estado capitalista e a polícia odeiem do que o avanço da luta dos trabalhadores.

Por isso, a a tortura dentro da Delegacia de Polícia – herança do fim de uma ditadura militar que, ao não ser superada de forma radical, deixou impregnada na polícia seus métodos de extermínio – contra Galo é mais um exemplo de que a violência e a tortura (que muitas vezes levam à morte) contra os trabalhadores e seus representantes precisa ser respondida com a mais resoluta movimentação política. Momento este que, também, após a derrota eleitoral do neofascismo, deve servir para que todos que se dizem defensores da democracia – muitas vezes em abstrato – levantem a luta pelo fim da polícia militar em todo o país.

Justiça por Galo!  

Fim da Polícia Militar Já!

Extradição e prisão de Bolsonaro e de todos os golpistas!

Referências 

[1] https://ponte.org/paulo-galo-lideranca-dos-entregadores-denuncia-violencia-policial-fui-torturado-das-seis-da-manha-ate-o-meio-dia/

[2] https://esquerdaweb.com/repressao-nao-e-trabalho/

[3] Trotsky, Revolución y fascismo en Alemania, p. 81.

Foto: Reprodução Instagram/ galodelutaoficial.