Julho também é a vez de lembrar da luta das mulheres trabalhadoras do campo

Foto: Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento

Dia 25 de julho também foi dia da Mulher Trabalhadora do Campo no Brasil e não podíamos deixar de falar dessas mulheres que cumprem um papel tão fundamental em nossa sociedade. Principalmente em um momento em que campo e floresta vem sendo tão atacada pelo governo Bolsonaro e seu grande amigo: o agronegócio. O feminismo também deve se somar na luta por terra, território e dignidade no campo, floresta e lembrar sempre a memória de Margarida Alves, primeira mulher a dirigir um sindicato rural, brutalmente assassinada por lutar em 1983.

Vermelhas

Nos anos 80, em diferentes estados do Brasil, movimentos de mulheres surgiram em sintonia com o nascimento de vários movimentos do campo. E trabalhadoras rurais construíram sua organização a partir de sua própria realidade, mobilizadas pelas bandeiras do reconhecimento e valorização do trabalho camponês. Foi graças a essa luta que muitas mulheres conseguiram direitos básico como documentação, educação, direitos previdenciários (salário maternidade e aposentadoria, por exemplo) e principalmente direito às políticas públicas – muitas delas já existentes, mas que devido ao seu isolamento geográfico e negligência do Estado essas mulheres não tinham acesso.

Nessa nota trazemos o depoimento de Elba Ravane, mulher, advogada e nascida no sertão do Pernambuco. No vídeo, ela nos conta um pouco sobre a vida e resistência da mulher do campo e, em especial, acerca do trabalho produtivo e sobre a importância do engajamento político das mulheres campesinas.

Pois mesmo sendo a mulher da roça aquela que não somente produz o alimento e garante a subsistência de sua família, como também a que preserva a vida, as espécies, a natureza, a que possui sabedoria popular e o saber do uso das plantas medicinais; ela permanece sendo a mais esquecida pelo poder público, que bem sabemos mal atua nas grandes cidades contra a violência de gênero, e menos ainda no campo.

Por isso, Elba aponta que as formas de opressão dessas mulheres precisam ser melhor compreendidas para que de fato se possa construir pontos de contato para o reconhecimento dessas mulheres como sujeitas de transformação social e subversão do jugo do capitalismo colonial e extrativista.

Margarida Alves, primeira mulher a frente de um sindicato de trabalhadores rurais no Brasil. Foi assassinada em 1983
por enfrentar fazendeiros e donos dos engenhos de cana-de-açúcar no interior da Paraíba.

É importante entender que a violência machista atinge todas as mulheres, mas é a classe social, a etnia e também o local onde essas mulheres habitam os fatores que determinam a forma que infelizmente a mulher experiência que a violência machista. E o campo é a localização espacial em que os obstáculos para romper com a relação de dominação do masculino sob o feminino são ainda maiores. É ali em que a violência é ainda mais naturalizada e possui múltiplas facetas nas relações cotidianas, desde o casamento infantil até a violência doméstica e abuso sexual.

Desde a origem do latifúndio, com a escravização dos povos originários e dos povos africanos, as relações sociais do campo brasileiro se constituem historicamente com a dominação econômica e patriarcal.

Distantes dos centros urbanos, marcadas pela ausência de educação formal, são impossibilitadas de acessar informações sobre as políticas públicas. Assim, até mesmo os já frágeis instrumentos de combate à violência que conquistamos não alcançados por as mulheres do campo e das florestas, estando submetidas a um processo absurdo de violência extremamente invisibilizado.

A emancipação das mulheres rurais perpassa a luta material e permanente pelo fim da exploração, da dominação e da opressão de classe e gênero em que estão expostas.

Essas trabalhadoras que mesmo com suas múltiplas jornadas desempenham ativamente papéis que asseguram a subsistência familiar. Precisamos dar voz a essas mulheres que são hoje uma grande maioria no campo, mas que representam como proprietárias apenas 19% (aproximadamente apenas 947 mil) das propriedades rurais, segundo o Censo Agropecuário de 2017.

Dentre as várias questões que implicam a realidade dessas mulheres, destacamos a mesma preocupação de Elba sobre a importância de assegurar a educação em todos os níveis de instrução na área rural, visto que o campo abrange saberes e vivências específicas que devem ser valorizadas e difundidas para toda a sociedade.

Assim sendo, compartilhamos com a companheira a necessidade da importância da articulação entre campo e cidade dos movimentos e feminista para o fomento de uma luta em defesa dos direitos dessas mulheres, dos bens naturais, pela soberania alimentar, pela igualdade de direitos à terra, contra a exploração e a violência, por salários justos e iguais, e por um outro modelo de sociedade e agricultura. 

Margarida Alves presente!