Ação deflagrada pela PF nessa quarta-feira contra as fake news têm como alvo membros do núcleo bolsonarista.
Enrico Bigotto
Nesta quarta-feira (27), por determinação do Ministro do STF Alexandre de Moraes, foram cumpridos pela Polícia Federal o total de 29 mandados de busca e apreensão contra empresários, ativistas (inclusive youtubers) e políticos bolsonaristas. Esses mandatos ordenavam a apreensão de celulares e computadores de onde teriam partido diversas “Fake News” com o objetivo de atacar adversários políticos de Bolsonaro, o poder Judiciário – assim como seus integrantes – e desestabilizar a “ordem” e a democracia.
Essas expedições fazem parte de um inquérito do STF aberto por seu presidente, Dias Toffoli, que encarregou o ministro Moraes a dar continuidade no processo que teve inicio em março de 2018, conhecido como o “inquérito das Fake News”, onde se investigava uma ação criminosa e coordenada de divulgação de noticias falsas em apoio ao presidente Bolsonaro que atuaram fortemente durante as eleições que levaram o candidato neofascista à presidência. Os laudos técnicos analisados pelo ministro o levaram a conclusão de que exista um “gabinete do ódio” dentro do governo ligado diretamente a essa pratica. Além do inquérito, também corre uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga a utilização de robôs para disseminar automaticamente as Fake News.
Entre os investigados estão conhecidos nomes bolsonaristas, como Luciano Hang dono das lojas Havan, Sara Winter ativista acampada em Brasília que coordena uma milícia armada, a parlamentar Carla Zambelli (PSL), que agora se volta contra o presidente e Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB e um dos mais novos aliados. Em depoimento ao STF, Heitor Freire (PSL-CE), afirma que também fazem parte do “Gabinete do Ódio” assessores especiais do presidente. A trilha de restos feita com dinheiro de empresários podem levar as investigações aos filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo, que, é claro, alegam inconstitucionalidade no processo.
O bolsonarista procurador-geral da República, Augusto Aras, veio também publicamente solicitar a suspensão do inquérito, já que a Procuradoria Geral da República não teve participação no processo, assim como o Ministério Público Federal. Há de se notar que a base bolsonarista se acua diante das operações feitas sob domínio do STF, assim como o próprio presidente que rompeu com seu Ministro da Justiça, o ex-herói Sergio Moro, em discordância em relação a alteração o chefia da PF – que foi rapidamente respondida pelo ministro do STF Moraes, que proibiu que fossem alterados os delegados ligados às investigações do inquérito.
A tensão entre o Excecutivo e o Judiciário têm se agravado constantemente, devido principalmente ás declarações de Bolsonaro e seus ministros, que ficaram hediondamente explicitadas na reunião ministerial divulgada (dia 22/05) por outro ministro do STF, Celso de Mello, por motivo das denúncias feitas pelo ex-Ministro Moro, que alegava que as alterações feitas pelo presidente da República na PF teriam cunho político. Com os recentes acontecimentos, nota-se cada vez mais a veracidade desta afirmação. Abraham Weintraub, Ministro da Educação, também foi convocado a prestar esclarecimentos em razão de suas frases extremamente graves, dizendo que “prenderia todos esses vagabundos”, “a começar pelo STF”.
O general Heleno, que é chefe da segurança de Bolsonaro, contribuiu ainda mais para a tensão entre as instituições, divulgando um documento que alegava a “imprevisibilidade” dos acontecimentos, em relação à apreensão de um celular do presidente. Essa foi uma ameaça que demonstra também um recuo tático, enquanto isso, Bolsonaro atiça sua base social contra os outros poderes, dos quais fazem parte setores do exército.
Todos esses acontecimentos indicam que a tensão política entre os poderes, que ocorre em meio a uma grave pandemia, não cessará tão cedo. É preciso que essas investigações avancem o quanto antes, para que a partir de provas cabais ganhemos força para prosseguir com o processo de impeachment de Bolsonaro, ou mesmo pela impugnação de toda a chapa via TSE. Se faz necessário avançar políticas contra esse governo de cunho bonapartista, de forma a isola-lo e aniquilar sua nefasta influência antidemocrática na sociedade brasileira.
Um governo que se preocupa apenas com a própria imagem, na proteção dos seus familiares e do tensionamento entre os poderes num momento de pandemia, chegando a milhares de infectados e mais de mil mortos por dia (sem contar a subnotificação dos casos), não requer paciência para levá-lo ao desgaste, requer sobretudo mobilização e luta.
Fora Bolsonaro!
Fora Mourão!
Eleições Gerais Já!