HAITI: “NÃO DORMIREMOS” ATÉ QUE MOISE CAIA

Novamente o povo haitiano vai as ruas contra o governo do presidente Jovenel Moise, acusado de corrupção e de desvio de dinheiro publico

Johan Madriz

No início do ano a Corte Suprema de Cuentas emitiu um primeiro parecer onde revelava a fraude de 2 milhões de dólares do fundo Petrocaribe (programa de subsidio ao petróleo vindo da Venezuela). Este sinalizava  a empresa Agritrans – que no momento era dirigida por Moise – como um das favorecidas pelo desfalque. Recentemente, em um segundo informe se confirma sua implicação e de seus ministros, ex-ministros, funcionários des estatais e empresários.

A revolta despertada por esta trama de corrupção foi estimulada por um aumento nos preços dos combustíveis e bens de consumo, a má situação econômica do país e as medidas de ajustes orçamentários impostos pelo FMI. Enquanto os políticos e empresários desonestos enriquecem a miséria afeta a maioria da população, a infra estrutura está em péssimas condições e as condições de vida pioram.

Durante todo o ano se vive um ambiente de tensão, descontentamento e mobilizações. Em fevereiro o país ficou paralisado com gigantescas manifestações que exigiam a renuncia do presidente. Destas jornadas surge o movimento Nou pap Domi (Não dormiremos) composto principalmente pela juventude e que concentra as ações de protesto.

Em 9 de junho marchas multitudinárias lotaram Puerto Príncipe  com a palavra de ordem “vamos ao palácio buscar o dinheiro da Petrocaribe, que se não aparecer vamos queimar”. Desde a segunda-feira 10, são convocadas greves e mobilizações que enfrentam dura repressão das forças policiais.

Na sexta-feira anterior, os manifestantes cercaram o Palácio Presidencial, rodeando-o sete vezes com ameaças de radicalizar os protestos no  futuro.  Enquanto isso, se levantavam barricadas por diversas ruas da capital com pneus e veículos queimados e ataques com pedras aos prédios do governo, o mesmo ocorreu na sede da Radio TV Guinem, acusada de estar a serviço do governo.

Os enfrentamentos nas ruas entre manifestantes e policiais foram violentos. Formaram-se grupos organizados e com o apoio da polícia, que tem realizado ataques a população. Atribui-se a estes grupos o assassinato do jornalista Petion Rospide como forma de desqualificar as mobilizações. Diante desse fato o presidente rapidamente repudia a violência e ao mesmo tempo celebra o aniversário da polícia, que causou quatro mortes e dezenas de feridos desde que se iniciaram os protestos na semana passada.

Apesar da pressão, Moise reafirma que não renunciará e que se manterá no cargo.  E mais, tem chamado a celebração de uma Conferencia Nacional com “alguns setores da sociedade civil”. No momento a convocação não deu resultado e os setores mais radicalizados se negam a participar desta reunião.

O governo se empenha em aplicar os ajustes financeiros impostos pelos organismos internacionais  e assegurar a intervenção imperialista no país através da missão ONU-MINUSTAH (que ocupa o país com presença militar desde 2004) e a operação Core Group (França, Alemanha, Espanha, Brasil, Canada e Estados Unidos) assegurando o saque semi-colonial do país. Antes dessa intransigência dos setores mobilizados já avançava a consciência de que não é só o presidente e sim todo o sistema, que deve cair. “ Anulação da dívida externa e exigência de reparação histórica de França e Estados Unidos, pelas extorsões  e invasões sofridas pelo povo haitiano desde sua independência.”

A saída para a crise do país, produto da espoliação e exploração capitalista só pode ser solucionada pelos de baixo, os trabalhadores e oprimidos decidindo seu futuro.  Veio a luz uma proposta de um governo de transição, de fato, uma tentativa disfarçada da burguesia para manter-se no poder e livrar-se de uma figura popularmente inviável. Por isso, a saída não passa por nenhuma formula que possa impulsionar a burguesia. Não basta trocar o presidente se este continuar sendo um representante dos empresários e do imperialismo.

Tradução Sara Vieira