Greve Geral de 14 de junho mobilizou milhões

ANTONIO SOLER

A Greve Geral de 14/06 que teve como mote a luta contra a “reforma” da previdência, a defesa da educação e dos empregos contou com paralisações, piquetes, bloqueios de avenidas e marchas em todo o país.

Houve alguma forma de mobilização em todos os Estados brasileiros, 27 capitais e em mais de 300 cidades. Verificou-se também cortes de avenidas e piquetes em São Paulo, Minas Gerais, Maranhão, Amazonas, Para, Goiás, Espírito Sato, Pernambuco e Piauí desde as primeiras horas do 14J. 

Em que pese a repressão, medidas judiciais restritivas e traições de dirigentes sindicais (principalmente dos ligados à UGT), houve paralização do transporte em várias cidades. Em Guarulhos, Sorocaba, Vale do Paraíba, Salvador e Recife os rodoviários realizaram greve de 24h, já em São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Rio Grande do Sul e Brasília a mobilização ocorreu apenas durante algumas horas.

Estimativas das centrais sindicais dão conta de que mais de 40 milhões de trabalhadores, dentre eles da indústria metalúrgica, química, alimentação, construção civil dos serviços de educação, saúde, transporte, correios e estudantes, tenham feito parte da jornada de luta.

A direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informa a paralisação de 60 mil metalúrgicos em sua base. Empresas da Região Metropolitana de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul também aderiram à greve. Vale destacar também a mobilização dos trabalhadores da mineração de Minas Gerais e de categorias nacionais como Petroleiros, Correios e Servidores Federais.

Além dos piquetes e bloqueios de estradas, houve atos e passeatas importantes também em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre Florianópolis e Teresina.

A Greve Geral deste 14J também foi marcado por uma forte repressão policial em todo o país: 51 manifestantes presos em piquetes no Rio Grande do Sul, 10 estudantes e trabalhadores da USP após passeata e 3 estudantes da UNIFESP continuam detidos.   

Organizar pela base para superar manobras e traições

Em um balanço inicial, podemos afirmar que essa jornada de lutas, somada às mobilizações em defesas da educação nos dias 15 e 30 de maio, constituiu uma importante demonstração de força e vitalidade dos trabalhadores; sem falar no crescente descontentamento popular com o desemprego, os ataques do governo, a piora generalizada das condições de vida, das crises políticas permanente.[1]

O descontentamento popular e a resistência ativa dos trabalhadores e da juventude têm obrigado o Congresso Nacional e a Justiça Federal a posicionarem-se muitas vezes contra medidas e políticas do governo, como foram os casos da criminalização da homofobia (STF) e da derrubada do Decreto do Porte de Armas (Senado). Como parte disso, o Relatório da “reforma” da Previdência lido na Comissão Especial da Câmara dos Deputados na véspera do 14J, apesar de manter o grosso dos ataques, apresentou recuos táticos.[2]

A Greve Geral deste 14J e as mobilizações anteriores não puderam estabelecer ainda outra correlação de forças, mas comprovam que, apesar da ofensiva reacionária, da eleição antidemocráticas de Bolsonaro e de todos os ataques, não há uma derrota histórica dos trabalhadores e que tendemos à polarização político-social.

Estamos em um momento de abertura da possibilidade de derrotar o governo e seus ataques, mas disso depende a capacidade do movimento social superar os entraves impostos pela burocracia sindical e política.

O 14J poderia ter sido muito mais poderoso e capaz de enterrar de vez a “reforma” da Previdência se a burocracia da CUT não tivesse chamado uma greve de pijama nas fábricas que dirige[3] e se a burocracia da UGT não tivesse no último momento recuado da proposta de realização de uma paralisação de 24h do transporte rodoviário. Claro que com a classe trabalhadora mobilizada de forma direta e com greve de transporte a visibilidade do movimento teria sido bem maior.

Uma vez que a “reforma” da Previdência e demais ataques seguem em curso, é necessário e possível construir novas mobilizações e Greves Gerais que superem entreves e traições vistas no 14J. Para isso, todas organizações políticas, sindicais, estudantis e populares independentes da burocracia e dos patrões não podem furtar-se de realizar um sério balanço do 14J e de exigir da burocracia a construção imediata de um calendário de lutas.

Além das iniciativas que já estão sendo propostas – entrega do abaixo-assinado contra a Reforma da Previdência aos presidentes da Câmara e do Senado no dia 26/06, fortalecer o Dia Nacional de Mobilização nos Estados convocado pela juventude no dia 12/07 e construir uma marcha unitária a Brasília é preciso construir de forma unificada uma nova Greve Geral, como proposto pela  CSP-Conlutas -, o balanço do 14J coloca como tarefa fundamental organizar Comitês Unificados pela base para que nesse processo de organização da resistência daqui para frente os trabalhadores, as mulheres e a juventude possam participar o mais amplamente possível dessas ações, única forma de criar uma força política capaz de derrotar Bolsonaro e seus ataques.

[1] Crise que agora tende a se aprofundar com as denúncias das conversas entre Sergio Moro e membros da Operação Lava Jato feitas pelo site Intercept que compravam que a condenação e prisão de Lula foram fruto de um processo político, o que reforça a percepção que as eleições presidenciais de 2018 não foram democráticas e soberanas.

[2] A aposentadoria dos trabalhadores rurais, o Benefício de Prestação Continuada, o regime de capitalização e a desconstitucionalização da legislação previdenciária não estão previstos no Relatório, no entanto outros ataques como a idade mínima de 60 anos e a necessidade de 40 anos de contribuição para vencimentos integrais estão mantidas.  

[3] Apesar da paralisação de importantes fábricas, não convocou sequer uma manifestação dos trabalhadores para piquetes, interrupção de rodovias ou atos durante a jornada de luta para dar visibilidade ao movimento.